Conheça Daniella Lima, a mecânica que abriu oficina para mulheres no Acre

Sexo frágil é um adjetivo que há muito tempo não faz jus às mulheres. Elas estão cada vez mais presentes em redutos considerados “masculinos” até recentemente, caso das oficinas, seja como proprietária ou mecânica. Um exemplo disso, é a nossa última personagem da série especial do Mês da Mulher, iniciada pelo ContilNet, no dia 08 de março.

De botas cor de rosa, macacão cinza, sorriso no rosto e muita agitação, de alguém que não para. É assim que encontramos a empresária Daniella Lima, 41 anos, que comanda uma oficina mecânica na capital acreana, Rio Branco. A ex-assistente administrativa, que, após sofrer inúmeras frustrações com serviços de manutenção mal resolvidos e de ser enganada por mecânicos que cobravam serviços desnecessários, decidiu que iria aprender mecânica por conta própria e assim cuidar e conhecer o seu próprio carro.

Dani criou oficina voltada para mulheres após se sentir enganada/Foto: Juan Diaz

“Eu andava muito em oficina mecânica e me sentia muito frustrada e também um pouco constrangida. E de tanto eu “apanhar” nas oficinas, de ir lá e não resolver, pagar caro e não receber nem se quer uma explicação para que eu entendesse o problema, fez com que eu me sentisse muito enganada. Foi então que pensei em fazer um curso de mecânica, para que eu pudesse entender ou, pelo menos, para tentar conversar um pouco de igual para igual com os mecânicos”, conta.

Dani, como é conhecida no meio profissional, começou fazendo curso de mecânica em motores o que despertou seu interesse em se aprofundar nos estudos. A partir daí ela tomou gosto pelo assunto e enxergou, na mecânica, uma possibilidade de negócios apostando em uma oficina voltadas para atender mulheres.

VEJA A ENTREVISTA:

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“Fiz primeiro o curso de motor e gostei, apesar de ter trinta e cinco homens na sala e só eu de mulher. Nesse momento, eu já senti uma barreira impeditiva, mas isso não foi nenhum problema, continuei fazendo o curso. Depois senti vontade de fazer mais um curso foi então que começou a despertar em mim um interesse de montar um negócio para mulheres que tinham o mesmo sentimento que eu”, explica.

Após essas experiências infelizes e preconceituosas, ela resolveu montar uma oficina voltada só para o público feminino, que fosse um lugar onde elas pudessem confiar nos serviços prestados, onde fossem tratadas com respeito e de forma igualitária.

Daniella começou fazendo cursos de mecânica para poder dialogar com outros mecânicos//Foto: Juan Diaz

“Minha intenção era ajudar as mulheres fazendo uma oficina onde elas pudessem ser atendidas da mesma maneira que eu gostaria de ter sido quando tive necessidade. Nada me impede de atender homens, inclusive hoje atendemos sem problemas, mas a maioria ainda tem resistência”, destaca.

Mas não foi um caminho fácil. Trabalhando há cinco anos como mecânica, ela diz que no início os clientes estranhavam quando buscavam os serviços da oficina e eram recebidos por ela.

“O primeiro ano foi decisivo para saber se eu realmente ia continuar ou não. Passamos um mês com a oficina aberta sem entrar um cliente. Quando entrava era homem que ao me ver, uma mulher, perguntava pelo mecânico. Eu explicava que sou mecânica eles inventavam uma desculpa, davam ré e não voltavam mais”, lembra.

Aceitação

Daniella explica que, embora tenha conseguido consolidar o seu negócio, não é fácil quebrar a cultura de que mulher não entende de carro e que seu lugar não é na oficina. Segundo ela, ainda existe bastante resistência, principalmente por parte dos homens, em aceitar a mulher na profissão de mecânica.

“Ainda temos muita restrição dos homens. Embora esteja diminuindo, infelizmente, hoje, em 2019, a gente ainda enfrenta um preconceito muito grande em relação a aceitação dos homens com as mulheres na mecânica”, lamenta.

“Ainda temos muita restrição dos homens”, diz a empresária/Foto: Juan Diaz

A empresária atribui às mulheres toda a sua realização profissional e o sucesso de sua oficina, já que no início não recebeu credibilidade do público masculino.

“A minha oficina, hoje, só está aberta graças a força feminina. Se minhas amigas não tivessem me dado credibilidade, lá no começo, permitindo que eu trocasse o óleo do carro delas em domicílio, quando eu ainda não tinha estrutura física, eu não teria continuado, pois os homens não me davam espaço. Então, foi graças as mulheres que eu consegui estabelecer meu negócio”, enfatiza.

Mecânica para mulheres

Dani também promove palestras e workshops de mecânica básica para mulheres, o que para ela é uma forma de conquistar um novo público despertando o interesse delas para esse tipo de mercado, além de tentar mudar toda uma cultura em relação aos cuidados com o carro.

“Ainda são poucas as mulheres nesse segmento. A mulher ainda não abriu os olhos para esse mercado, onde ela pode trabalhar numa coisa diferente e se destacar. Acredito que o maior obstáculo para elas, nesse segmento específico, ainda é o medo. Elas ainda não percebem que é um mercado bacana, que tem retorno e que se modernizou, talvez pela falta de conhecimento na área”, analisa.

Mulher Destaque

Daniella Lima ganhou o prêmio “Mulher Destaque 2019”/Foto: Juan Diaz

O modelo de uma oficina mecânica para mulheres deu tão certo, que na última semana, Daniella Lima ganhou o prêmio “Mulher Destaque 2019”, entregue pela Câmara Municipal de Rio Branco, que tem por objetivo homenagear mulheres que de alguma forma contribuíram ou se destacaram na sociedade em diversos segmentos, sendo reconhecidas por sua conduta profissional.

“Recebi esse prêmio como um plus na minha responsabilidade. Claro, a gente fica lisonjeada pelo reconhecimento, mas é uma responsabilidade que estou carregando e tenho que cada vez mais continuar esse trabalho para mostrar como que a gente faz a diferença. Que a mulher pode fazer a diferença na sociedade e que a gente, enquanto mulher, pode ser o que quisermos, só temos que querer e correr atrás”, finalizou.

Agora, junto com um grupo de mulheres mecânicas de todo o país, Dani diz que está avaliando a possibilidade de montar uma franquia de oficinas voltadas para o público feminino, em diversas cidades do Brasil. Se tudo depender da força de vontade dessas mulheres, o negócio não vai demorar para acontecer, já que o que às movem é justamente, essa força.

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