Sangues que não combinam trazem risco para gestação; entenda e previna-se

Mulheres que têm sangue do tipo O, A, AB ou B negativos precisam ficar atentas na hora de serem mães, alertam especialistas. Caso o parceiro tenha o fator RH positivo e transmita essa característica para o bebê, o organismo da mulher pode rejeitar a criança e produzir anticorpos contra o feto, levando a doenças e até à morte.

“Para que a mãe produza esses anticorpos, o sangue do bebê precisa entrar em contato com o sangue dela. No primeiro trimestre de gestação, a chance disso acontecer é de apenas 3%. No parto, é de 70%. Por isso, na primeira gravidez o bebê não costuma ser afetado, porque os anticorpos só surgem no nascimento”, explica o diretor científico do Instituto Brasileiro de Reprodução Assistida, Juliano Scheffer.

Apesar disso, é preciso fazer um acompanhamento especial, através de um exame chamado Coombs indireto. Se houver a suspeita de incompatibilidade, o obstetra pode recomendar uma transfusão de sangue para o bebê, no útero, em casos graves.

Vacina para proteger o segundo filho

Após o nascimento do primeiro filho, é feito o exame de tipo sanguíneo do bebê para saber se ele tem o fator RH positivo. Caso a suspeita seja confirmada, a mãe deve tomar uma vacina que inibe a produção dos anticorpos.

“O tratamento diminuiu a mortalidade, em caso de incompatibilidade com o segundo filho, de 90% para cerca de 30%. Mas essa taxa ainda é alta”, afirma Shceffer.

Outro tipo de incompatibilidade que afeta de 10% a 15% dos casais é a chamada isoimunização do sistema ABO: quando a mulher tem sangue de tipo O e o homem de tipo A, B ou AB.

“É uma reação mais branda, com icterícia (olhos amarelados) e anemia leve”, diz a diretora do Vida Centro de Fertilidade da Rede D’Or, Maria Cecília Erthal.

Remédio feito com o sangue do marido

Um terceiro problema que leva a abortos repetidos é falta de compatibilidade entre o sangue da mulher e o material genético do marido. Ainda não há causas definidas para a rejeição e o tratamento divide os especialistas.

“É fabricada uma vacina a partir das células de defesa do sangue do homem. Esse medicamento é aplicado na mulher. Chama-se crossmatch. Essa técnica ainda não é completamente aceita pois faltam evidências científicas de sua eficácia”, pondera Juliano Scheffer.

Para a advogada Gisella Soares, o tratamento trouxe dois pequenos presentes. “ Eu abortei três vezes em dois anos. Só depois do tratamento, pude ser mãe.”

‘Não encontrei a vacina. Foi um sufoco’

Luciana Schlobach, 37 anos, arquiteta, teve incompatibilidade de sangue. “Eu já sabia que poderia ter alguma incompatibilidade na gravidez, porque a minha mãe já tinha passado por isso. Quando descobri que estava esperando meu primeiro filho, avisei logo à médica. Meu sangue é O negativo e o do meu marido, positivo. Após o parto, tomei a vacina, ainda no hospital. Na segunda gravidez, fiz o pré-natal mas, quando chegou a época de tomar a vacina de novo, eu não encontrava em lugar nenhum. Foi um sufoco até conseguir. Eu ficava preocupada, mas ele nasceu perfeito, graças a Deus.”

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