O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta segunda-feira que “lavou a roupa suja” com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião entre os dois no começo de setembro, conforme revelado pelo GLOBO. Segundo o pedetista, entretanto, os dois não mudaram de opinião em relação a temas da política nacional.
— Tivemos uma conversa muito franca mesmo. Para usar uma expressão popular: lavamos a roupa suja para valer. Sobre o ponto de vista das compreensões da questão brasileira para trás e para frente continuamos como estávamos. Mas a mim me agrada que a gente faça essa política conversando — afirmou.
Ciro participou de um evento com candidatos a vereador do PDT em São Paulo. O encontro também marcou um ato de apoio a Márcio França (PSB), apoiado pelo partido na capital paulista.
— Somos ambos muito experientes, muito vividos. O que está em jogo no Brasil é uma disputa de hegemonia. Eu quero que essa hegemonia seja arbitrada pelo conjunto da sociedade brasileira, não em gabinetes, jogadinhas, donos da bola, culto à personalidade. Sobre isso, continuo com a mesma opinião — disse.
Em sua fala, Ciro fez referências às eleições americanas e apontou a necessidade de construção de um campo mais moderado contra Jair Bolsonaro.
Apesar de confirmar a reunião com Lula, Ciro apontou que as eleições municipais se encaminham para uma derrota do “bolsonarismo boçal” e do “lulopetismo corrompido”.
— Parece que o bolsonarismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro. Parece, a preço de hoje. Isso quer dizer que surgiu organicamente um novo campo? Não, quer dizer que o eleitorado brasileiro está banindo esses dois extremos — afirmou.
Durante seu discurso, Ciro citou um telefonema que recebeu do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, recentemente, no dia do seu aniversário. Além disso, citou outros candidatos desse campo que aparecem à frente ou com chances de ir ao segundo turno, como França em São Paulo, Martha Rocha no Rio de Janeiro, Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, Bruno Reis em Salvador, João Campos em Recife e José Sarto em Fortaleza.
Ao citar as eleições americanas, Ciro destacou que o Partido Democrata não escolheu o candidato mais animador, mas o que tinha chances de vencer. Segundo ele, a esquerda brasileira precisa adotar uma estratégia parecida. Sem citar diretamente o PSOL, o pedetista criticou o que chamou de “turma da lacração”.
— Pode ter alguém mais qualificado que o Marcelo Freixo? Entretanto, o gueto no Rio que cercou o Marcelo Freixo produziu o Bolsonaro, o Witzel e o Crivella. São Paulo não pode entrar nessa — disse, em referência ao candidato Celso Russomanno.
Ciro diz que Moro é ‘fascista’
Apesar do discurso de unificação, Ciro afastou qualquer possibilidade de união com Sergio Moro. Neste domingo, a “Folha de S.Paulo” revelou um encontro entre o ex-juiz e o apresentador Luciano Huck.
Em entrevista para a colunista Bela Megale, do GLOBO, Moro confirmou a conversa e disse que “em 2022 devemos ter alternativas não polarizadas”. Segundo ele, há “movimentação de pessoas com perfil de centro que têm conversado”.
Questionado sobre o encontro, entretanto, Ciro refutou o rótulo de centro para o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
— O que eu vejo é que a fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda — afirmou.
As principais críticas, entretanto, foram focadas no ex-juiz. Ciro chamou Moro de fascista e afirmou que ele teria “vendido a toga”.
— Vendeu a toga, prendeu um adversário político, tirou o adversário político da eleição e em seguida aceitou ser ministro do que ganhou a eleição. Isso é uma lesão ética que para mim transforma o Moro num grande malandro.
Segundo Ciro, o único que teria legitimidade seria Doria. Contudo, o pedetista disse que nenhum deles poderia se apresentar como um candidato de centro.
— Eu vou enfrentá-los. Agora, se apresentar de centro não vai não. Na minha frente, não vai — disse. [Capa: Dimitrius Dantas/Agência O Globo]