O aluguel do “supercomputador” que falhou nas eleições municipais no último domingo (15), provocando lentidão na divulgação dos resultados, custou R$ 26 milhões aos cofres públicos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o problema já foi resolvido e a Oracle, empresa responsável, prestou assistência à Corte.
A falha foi provocada por um algoritmo de inteligência artificial que funcionou de forma mais lenta do que previsto. O papel do algoritmo, esclareceu o TSE ao GLOBO, é ajustar o desempenho da máquina para a demanda de processamento de dados.
Isso significa que, através de inteligência artificial, a máquina da Oracle aprende quanto de sua capacidade irá dedicar a uma operação específica — como se fosse um forno aprendendo a calibrar a temperatura de acordo com a comida que irá preparar.
Esse algoritmo não foi treinado antes para o volume e a rapidez dos dados das eleições, como seria necessário. Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, disse que a máquina chegou depois do esperado, em agosto, e por isso não houve tempo para fazer testes para calibrar o computador.
Marcel Saraiva, gerente da NVIDIA Enterprise, fornecedora de hardware para datacenters, frisa que a inteligência artificial sempre funciona “aprendendo” com base em um histórico de testes. É isso que a distingue de outros programas de computador. Por isso, algoritmos desse tipo não são infalíveis.
— A inteligência artificial tende a resolver alguns problemas, através de modelos matemáticos, em um sistema digital. Essas tarefas normalmente são bem específicas, e nelas o algoritmo não acerta em 100% dos casos. Há limitações que são só identificadas quando a máquina está operando.
Além de compilar os resultados, o servidor da Oracle recebeu dados criptografados dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), ou seja, ele não fez apenas a operação de “somar” tabelas, segundo o TSE.
O preço se explica, segundo fontes de área, pelo fato de que o servidor é hospedado dentro do datacenter do TSE e não em “nuvem”, como seria habitual nesses casos, devido à preocupação com a segurança de manter os dados dos eleitores dentro do território brasileiro.
Outro fator que encarece o contrato é que o tribunal contratou o equipamento com 100% de sua capacidade, e não para pagar só pelo uso.
A contratação do serviço da Oracle pelo TSE por 48 meses, sem licitação, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em março deste ano. O contrato também inclui manutenção. Funcionários da Oracle trabalharam com o TSE neste domingo para resolver o problema da lentidão.
Após a eleição, a máquina já está “treinada”. Por isso, o problema não deve afetar o segundo turno, segundo o TSE, inclusive porque o volume de dados será menor. [Capa: Oracle/Divulgação]