“É uma alegria que não se mede. Se deixar eu vou atrás de passarinho todos os dias. Isso me faz esquecer os problemas. Foi o que me salvou. É assim que a dona de casa Donizete Aparecida de Carvalho, de Monte Alto (SP), descreve o amor pela observação e fotografia de aves. A atividade teve início em 2019, mas se intensificou com a pandemia.
Segundo ela, tudo começou com a necessidade de cuidar da saúde mental. “Depois de trabalhar como empregada doméstica e no setor de frutas virei dona de casa. Chegou um momento em que eu estava um pouco depressiva e não sabia o que fazer. Foi daí que surgiu a ideia de realizar um curso de fotografia para me ocupar e eu me encantei”, conta.
Donizete conseguiu comprar a primeira câmera e escolheu a natureza como temática dos cliques.
Nascida e crescida em sítio, apesar de viver na cidade atualmente, sempre esteve cercada por animais, principalmente as aves. “Sempre fui apaixonada pelos passarinhos com suas cores e cantos. Ainda sou muito amadora, mas em 2020 comecei a sair cada vez mais para a mata atrás de espécies novas. Já que precisava me isolar, pelo menos eu me isolava cercada pela natureza”, explica.
A mistura de Cerrado e Mata Atlântica na região onde mora é de fato palco para uma diversidade imensa de aves. Não à toa, Donizete já registrou mais de 240 espécies e ficou em segundo lugar na categoria de colaboradora que mais enviou fotos em 2020 para o site Wiki Aves, o maior portal de fotografia de natureza do Brasil.
Eu não tenho computador e não edito minhas fotos. Faço algo simples, mas assim que consigo um registro legal já envio para o site pelo meu celular. Minha meta é aumentar o número de espécies do painel aqui da minha cidade para as pessoas conhecerem a avifauna que tem por aqui
— Donizete Carvalho, 55 anos.
Entre tantas fotos, o encontro com uma maria-faceira ficou guardado na memória da observadora. “Era um dia de chuva e eu fui até o sítio tentar encontrar algum passarinho, mas pensei comigo mesma: ‘hoje não vai sair nada’. Quando me dei conta, uma maria-faceira estava em cima de um canhão de irrigação no campo. Eu tinha acabado de começar a fotografar e nem sabia os nomes das espécies, então foi muito especial descobrir mais sobre a ave depois”.
O sonho agora é encontrar a raríssima saíra-apunhalada e quem sabe escutar e observar a araponga.