As primeiras doses da vacina contra a Covid-19 desembarcaram nesta semana na aldeia Apiwtxa, onde vivem os índios Ashaninka. A terra indígena está localizada no município de Marechal Thaumaturgo, no interior o Acre, na fronteira com o Peru.
O povo já começou a ser imunizado com a CoronaVac, do Instituto Butantan, obtida pelo governo no último dia 17. Cerca de 800 indígenas vivem no território de 87 mil hectares.
A chegada do imunizante foi comemorada por uma das lideranças, Francisco Piyãko. “O povo Ashaninka do Acre está fazendo sua parte, contribuindo para a ciência e saúde pública. Não temos dúvida do grande passo que está sendo dado, acreditamos que a ciência pode ajudar muito a tornamos este mundo melhor e a combater essa pandemia”.
Para Piyãko, o povo luta ainda para que todas as comunidades do país façam parte dessa campanha e se imunizem contra o coronavírus, que já matou quase 30 indígenas no Acre. “Que todos os parentes do Brasil possam estar imunizados, seja em sua terra ou na cidade”.
A Terra Indígena Kampa do Rio Amônea, onde está situada a aldeia Apiwtxa, confirmou apenas recentemente seus primeiros três casos de Covid-19. O povo conseguiu se resguardar ao adotar um lockdown que impediu o alastramento da doença em massa na terra.
Para isso, intensificou as técnicas de manejo agroflorestal que já realiza há décadas para não ter de ir até a cidade e, no retorno, levar o vírus para a floresta. Em meados do ano passado, os Ashaninka lançaram uma campanha de financiamento para estimular a produção de alimentos nas comunidades vizinhas a fim de protegê-las da pandemia.
“Nós podemos viver três, quatro, cinco anos dentro da floresta, em nosso território, até a pandemia passar, porque nos preparamos para esse momento. Mas se os nossos vizinhos do entorno não estiverem bem, nós também não estaremos”, disse Francisco, na época.
Em todo o Acre, o coronavírus já contaminou 2.453 indígenas de 14 povos, segundo a ONG Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC). A terra com o maior número de casos é a do Alto Rio Purus, que perpassa os municípios de Manoel Urbano e Santa Rosa, lar dos Kaxinawá e dos Kulina.
Os povos originários fazem parte do grupo de risco para a Covid-19 e são, ao lado dos idosos e profissionais de saúde, público prioritário nas primeiras levas da vacinação.