Nova variante brasileira N.9 já chegou a todas regiões do país, diz estudo

Pesquisadores descobriram que a recém-encontrada variante brasileira do coronavírus, a N.9, já está disseminada por todas as regiões do país. Um artigo publicado hoje na plataforma Medrxiv revela que a cepa foi identificada em pacientes nos estados de Amazonas, Bahia, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.

“Ao todo, nossas descobertas forneceram um panorama do estado crítico de SARS-CoV-2 em todo o Brasil e confirmam a necessidade de manter o sequenciamento contínuo”, diz o artigo assinado por 22 pesquisadores de cinco diferentes instituições.

A nova variante já havia sido descoberta em pesquisa conduzida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), achando a N.9 no Maranhão, em Pernambuco, em Santa Catarina e no Sergipe.

“Essa variante ainda pode ser considerada rara em todos os estados em que a encontramos. Mas já se espalhou”, afirma a pesquisadora na área de evolução molecular e bioinformática Alessandra Lamarca, principal autora do estudo publicado hoje. Ele ainda precisa passar por revisão de outros cientistas.

Segundo ela, o objetivo principal do estudo era acompanhar como estava a expansão das variantes brasileiras P.1 e P.2. “Mas encontrar a variante N.9 foi nossa maior surpresa”, conta.

As amostras analisadas foram colhidas nos estados do Rio, Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba —apenas na Paraíba não houve amostra de pacientes infectados com a N.9. Os demais estados citados, diz Lamarca, já estavam disponíveis em bases de dados públicas.

“O nosso maior interesse na N.9 é a mutação E484k, que ela carrega. Essa mutação está sendo associada em alguns trabalhos ao escape do sistema imune do hospedeiro, o que pode causar casos de reinfecção. É a mesma mutação que a variante originada em Manaus, a P.1, carrega. Então há um risco de que a N.9 também tenha essa capacidade”, diz.

A mutação E484K ocorre na proteína Spike e é responsável pela ligação do vírus às células humanas. A OMS (Organização Mundial de Saúde) já alertou que essas mutações são preocupantes, porque podem ter chance de escape à imunidade de vacinas —entretanto, não há casos confirmados até o momento de que isso tenha ocorrido.

Segundo a pesquisa, a amostra mais antiga com a variante N.9 é a de um paciente do Rio de Janeiro, que colheu material em 4 de novembro de 2020. Antes do estudo, a amostra mais antiga da variante era de 11 de novembro em um caso de São Paulo.

“Mas ainda é cedo para dizermos se realmente surgiu no Rio ou se é uma questão de amostragem. Pode ser que com novas amostras identifiquemos que a origem dela é mais antiga”, explica.

Preocupação em dobro

Em uma das amostras, os cientistas encontraram, pela primeira vez, uma segunda mutação no vírus com idêntico potencial de escape imunológico às três cepas que hoje mais preocupam o mundo: a amazônica P.1, a inglesa B.1.1.7 e a sul-africana B.1.1.351.

Segundo Lamarca, esse caso da N.9 possui uma segunda mutação, a N501Y, achada em um paciente da Bahia, em amostra colhida no fim de janeiro.

“Essa mutação também está associada a esse escape do sistema imune. Essa é uma novidade que não havia sido identificada no trabalho inicial da Fiocruz. E, caso essa ‘versão’ na N.9 se espalhe, são duas mutações perigosas dentro da linhagem”, explica.

Ainda de acordo com a pesquisadora, as três linhagens que possuem as duas mutações são exatamente as que causam mais preocupação ao mundo.

“Como foi apenas uma amostra, pode ser que não tenha sido transmitida para ninguém e, por isso, não vá se espalhar. É muito importante que o monitoramento destas linhagens continue por todo o Brasil”, afirma.

Na publicação, os cientistas alertam que o Brasil está em um ambiente propício ao surgimento de mutações. “O relato recorrente de muitas novas variantes genéticas do SARS-CoV-2 no Brasil pode ser devido à ausência de medidas de controle eficazes resultantes em altas taxas de transmissão. Ao todo, nossas descobertas forneceram um panorama do estado crítico de SARS-CoV-2 em todo o Brasil e confirmam a necessidade de manter o sequenciamento contínuo”, afirmam os pesquisadores.

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