PIB do Brasil despenca 4,1% em 2020

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil tombou 4,1% em 2020, segundo divulgou nesta quarta-feira (3) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmando as expectativas.

Foi a maior contração desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996, superando a queda de 3,5% registrada em 2015.

“É o maior recuo anual da série iniciada em 1996. Essa queda interrompeu o crescimento de três anos seguidos, de 2017 a 2019, quando o PIB acumulou alta de 4,6%”, informou o IBGE.
Em valores correntes, o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) chegou a R$ 7,4 trilhões. Já o PIB per capita (por habitante) em 2020 foi de R$ 35.172, com queda de 4,8% – a maior já registrada em 25 anos.

PIB ano a ano — Foto: Anderson Cattai/G1

 

Considerando série histórica anterior, iniciada em 1948, o tombo de 4,1% em 2020 foi o maior em 30 anos.

As maiores retrações já registradas no país ocorreram em 1981 e 1990, quando houve queda de 4,3% do PIB em ambos os anos.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.

Evolução do PIB desde 1948 — Foto: Anderson Cattai/G1

 

Principais destaques do PIB em 2020:
Serviços: -4,5%
Indústria: -3,5%
Agropecuária: 2%
Consumo das famílias: -5.5%
Consumo do governo: -4,7%
Investimentos: -0,8%
Exportação: -1,8%
Importação: -10,0%
Construção civil: -7%

Entre os principais setores houve alta somente na Agropecuária (2%), enquanto que a Indústria (-3,5%) e os Serviços (-4,5%) tiveram queda.

Do lado da demanda, o consumo das famílias despencou 5,5% e os investimentos encolheram 0,8%.

“O resultado é efeito da pandemia de Covid-19, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente paralisadas para controle da disseminação do vírus. Mesmo quando começou a flexibilização do distanciamento social, muitas pessoas permaneceram receosas de consumir, principalmente os serviços que podem provocar aglomeração”, avaliou a coordenadora de Contas Nacionais, Rebeca Palis.

Economia ainda se encontra no mesmo patamar do início de 2019
O encolhimento do PIB em 2020 interrompeu uma sequência de 3 anos de crescimento tímido da economia e ocorreu antes do país ter conseguido se recuperar das perdas da recessão anterior, dos anos 2015-2016.

Embora tenha registrado dois trimestres seguidos de alta, o país encerrou 2020 com a economia 1,2% do patamar que se encontrava no 4º trimestre de 2019.

De acordo com o IBGE, a economia brasileira encerrou 2020 em um patamar semelhante ao que se encontrava entre o final de 2018 e início de 2019, 4,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, alcançado no 1º trimestre de 2014.

“A gente não voltou ao patamar pré-pandemia. Mas, ao mesmo tempo, na comparação com o pior momento da pandemia, que foi no segundo trimestre de 2020, nós recuperamos 10,4%”, afirmou Rebeca Palis.

PIB nos setores de agro, indústria e serviços ano a ano — Foto: Anderson Cattai/G1

Serviços foi setor mais prejudicado
O setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB, foi o mais afetado pela pandemia e pelas medidas restritivas.

Entre os subcomponentes, o maior tombo foi em “outras atividades de serviços” (-12,1%), categoria que inclui restaurantes, academias, hotéis.

“Os serviços prestados às famílias foram os mais afetados negativamente pelas restrições de funcionamento. A segunda maior queda ocorreu nos transportes, armazenagem e correio (-9,2%), principalmente o transporte de passageiros, atividade econômica também muito afetada pela pandemia”, destacou Rebeca.

As únicas categorias em serviços que cresceram em 2020 foram as as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (4,0%) e as atividades imobiliárias (2,5%).

Na indústria, o pior desempenho foi o da construção civil (-7%), que voltou a cair depois da alta de 1,5% em 2019. Também apresentaram queda as indústrias de transformação (-4,3%), e de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,4%).

Segundo o IBGE, os principais destaques negativos, que pressionaram a queda da indústria em geral, partiram da produção automotiva, de outros equipamentos de transporte, da metalurgia, de máquinas e equipamentos e de artigos de vestuário.

Por outro lado, as indústrias extrativas avançaram 1,3%, devido à alta na produção de petróleo e gás que compensou a queda da extração de minério de ferro.

Consumo das famílias tem queda histórica
Segundo o IBGE, o consumo das famílias teve o maior tombo já registrado na série histórica (-5,5%), explicado principalmente pela piora no mercado de trabalho e a necessidade de distanciamento social.

A queda no consumo do governo também foi recorde (-4,7%), e pode ser ilustrada pelo fechamento de escolas, universidades, museus e parques ao longo do ano.

Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) caíram 0,8%, interrompendo uma sequência de dois anos positivos, e a queda em 2020 só não foi maior, segundo o IBGE, porque foram beneficiados pelo Repetro, que terminou em dezembro e autorizou as empresas da indústria extrativa a incluírem em seus ativos como bens de capital o que antes era exportação.

A taxa de investimento em 2020 foi de 16,4% do PIB, acima do observado em 2019 (15,4%), mas ainda longe do pico de 2013, quando chegou a superar 21%. Já a taxa de poupança foi de 15% ante 12,5% em 2019.

Exceções de crescimento em 2020
A gerente de Contas Nacionais do IBGE destacou que, apesar do tombo de 4,1% no PIB de 2020, quatro atividades tiveram resultado positivo no ano. Somadas, estas quatro atividades representam ¼ da economia brasileira. São elas:

Atividades financeiras: 4,0%
Atividades imobiliárias: 2,5%
Agropecuária: 2,0%
Indústria extrativa: 1,3%

“Com isso, nós podemos dizer que um quarto da economia brasileira teve desempenho positivo em 2020”, destacou Palis.

Variação do PIB trimestre a trimestre — Foto: Anderson Cattai/G1

Recuperação perdeu ritmo no 4º trimestre
No quarto trimestre de 2020, o PIB avançou 3,2% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado (7,7%), depois dos recuos de 2,1% no primeiro trimestre e do tombo recorde de 9,2% no segundo trimestre.

Apesar da desaceleração do ritmo de recuperação, foi o segundo resultado trimestral positivo nessa comparação.

Na passagem do terceiro para o 4º trimestre a indústria e os serviços apresentaram avanço de 1,9% e 2,7%, respectivamente, enquanto a agropecuária recuou 0,5%.

Pela ótica da despesa, o consumo das Famílias e o consumo do governo cresceram 3,4% e 1,1%, respectivamente, enquanto que os investimentos avançaram 20%.

Na comparação com os 3 últimos meses de 2019, o PIB teve queda de 1,1% no 4º trimestre.

“Essa desaceleração é esperada porque crescemos sobre uma base muito alta, no terceiro trimestre, após um recuo muito profundo no auge da pandemia”, explicou Rebeca Palis.

O IBGE revisou o resultado do PIB dos dois primeiros trimestres do ano. No primeiro, em comparação ao 4º trimestre de 2019, a queda foi de 2,1%, mais intensa que a divulgada anteriormente (-1,5%).

Já no 2º trimestre, o tombo foi de 9,2% em relação ao primeiro, e não de 9,6% como divulgado antes.

Perspectivas e incertezas
Economistas têm alertado para a perda do ritmo da atividade econômica com o fim dos programas de auxílio sem substitutos definidos e o aumento das incertezas em meio à situação ainda grave da pandemia, uma inflação “mais salgada”, desemprego elevado e persistentes preocupações com a trajetória do endividamento público – o chamado risco fiscal.

Analistas ouvidos pelo G1 avaliam que uma retomada em 2021 continua dependendo da vacinação em massa da população e do controle da pandemia, que já que já deixou mais de 257 mil mortos no Brasil e atingiu nos últimos dias o seu pior momento no país.

A média das projeções do mercado para o crescimento da economia brasileira em 2021 está atualmente em 3,29%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.

Os economistas já trabalham, porém, com a expectativa de retração no 1º trimestre e parte do mercado não descarta o risco de uma queda do PIB também no 2º trimestre, o que configuraria uma nova recessão técnica.

PIB per capita — Foto: Economia G1

 

 

(Foto: Marcelo Brandt/G1)

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