A música “Apesar de Você”, de Chico Buarque de Holanda, está completando, agora em maio de 2021, 50 anos de lançamento. Lançada timidamente cinco anos depois de estourar no país a ditadura militar, que duraria 25 anos de trevas, a música ganhou visibilidade quando passou a ser cantada nas vozes de Elizeth Cardoso e Clara Nunes, além do próprio Chico, que nunca se vangloriou de ser um grande cantor, entoando-a aqui e ali.
Em 1971, auge da ditadura, vendera 100 mil cópias de um disco chamado compacto simples, que consistia no que era chamado de “bolachinha” e no qual constava apenas aquela música.
O sucesso incomodou os militares e Chico Buarque foi chamado às falas, mesmo que a canção houvesse sido liberada pela censura e agora, com o sucesso, proibida.
Em depoimento, Chico reforçou a versão que ele próprio difundira de que a canção, na verdade, se referia à uma desilusão amorosa causada por uma “mulher mandona, autoritária”. Não colou.
A musica foi banida por ordem direta do então presidente, o general Emílio Médici, o mais sanguinário dos ditadores que comandaram o Brasil daqueles tempos e que tomou a música como uma ofensa pessoal. Em seguida, militares invadiram a gravadora e destruíram milhares de discos e passaram a apreender os que estavam à venda em lojas de discos de todo o país.
“Quando chegar o momento/esse meu sofrimebto/Vou cobrar com juros, juro/Todo esses amor reprimido/esse grito contido/esse samba no escuro/Você que inventou a tristeza Ora tenha fineza/ de desinventar/ Você vai pagar é dobrado/Cada lágrima rolada/ desse meu penar…/” são os versos mais marcantes de todo o samba. Um refrão que o país canta e lembra dos seus momentos mais obscuros, que ameaçam voltar por mãos de senhores da morte. Mas os bons brasileiros hão de resistir e cantar, e em multidões, que amanhã há de ser outro dia…