Vamos juntos acreditar: a frase estampada na camisa da vereadora de Rio Branco Michelle Melo, ao receber a reportagem do ContilNet em seu consultório para uma conversa, traduz um pouco da alma da mulher que a veste. Médica da Família e Comunidade, Michelle atua, há mais de 10 anos, em hospitais, prontos socorros e postos de saúde, atendendo a população de Rio Branco e, durante a pandemia causada pela Covid-19, fez parte da linha de frente, ajudando o Acre a enfrentar o vírus mais letal dos últimos tempos.
Como se não bastasse, Michelle decide se colocar na linha de frente em dose dupla, mas em outro campo de atuação: ela foi eleita, em 2020, vereadora de Rio Branco. E não de qualquer forma: Michelle foi a vereadora mais votada da capital acreana, eleita pelo PDT com 3.576 votos.
E agora: como vai ser essa jornada? Largar a vida de médica? Dedicar-se única e exclusivamente à vida de vereadora? E os filhos: quanto tempo ter para eles? As dúvidas são muitas e, por isso, nossa reportagem conseguiu um tempo na disputada agenda da vereadora para uma conversa, para falarmos sobre seu mandato, sua atuação na medicina, vida pessoal e, claro, esse relato não poderia fazer parte de uma data mais especial: o Dia das Mães (9).
E a agenda não é disputada somente por conta da sua jornada: Michelle também realiza, rotineiramente, consultas médicas gratuitas para pessoas com poucos recursos financeiros. Ela atende essas pessoas em seu consultório particular. “Sou mãe, médica, filha, irmã, amiga, vereadora, empresária. Eu sempre tive muitas funções”, afirma.
Confira agora como foi a conversa com a vereadora:
ContilNet: Você possui uma jornada absurda. De onde vem força para encarar toda essa agenda? Onde isso começou?
Michelle: Sou mãe, médica, filha, irmã, amiga, vereadora, empresária [risos]. Eu sempre tive muitas funções. Quando estudava, eu já trabalhava. Sempre fui uma pessoa muito ativa. Mas isso tudo começou por conta da maternidade: quando me tornei mãe, comecei a pensar no mundo que quero para eles [meus filhos], meus netos. Comecei a pensar em legado. Foi quando eu comecei a pensar em incorporar mais uma função nessa jornada: decidi cuidar do nosso futuro, como política.
Esse carinho todo por pessoas, esse gosto pelo cuidado: foi daí que veio o desejo de ser médica?
Eu entendi que minha função no mundo é cuidar das pessoas. Foi por isso que fiz medicina. Desde pequena, nunca me vi de outra forma. Eu cuido dos meus filhos, dos amigos, da minha mãe, do meu pai. Sou a cuidadora oficial da casa! (risos)
Vida de médico não é nada fácil. Como foi a decisão de ingressar na política? E de onde surgiu esse desejo já que, de alguma forma, você já cuidava de pessoas como médica?
Minha necessidade de ingressar na política veio justamente por conta da minha atuação na medicina. Atuo no SUS [o Sistema Único de Saúde] há cerca de 10 anos e sempre estive à disposição da saúde pública, atendendo aquelas pessoas que realmente precisam, dentro dos Prontos Socorros, dentro dos postos de saúde.
Nesse contato com as pessoas, eu vi que não adiantava ir no consultório, no postinho, consultar as pessoas e depois ir pra casa. Aquilo, por si só, não mudaria a vida das pessoas. O que mudaria seria aquela pessoa ter água potável, saneamento básico, saúde e educação dignas, pegar as crianças e transformá-las em adultos saudáveis, produtivos e que contribuam com a sociedade.
Não somente o conhecimento técnico, mas a bagagem, a vivência na área da saúde contribuíram muito para a minha escolha.
Você acha que fez uma boa escolha? Como foram os primeiros meses à serviço da população como vereadora?
É muito mais difícil do que pensava [risos]. Eu, como médica, já tenho uma jornada árdua, de conciliar plantões, famílias, questões que envolvem a vida. Eu não abri mão de ser médica para ser vereadora. Agora tenho duas jornadas exaustivas. [Tudo isso] Exige muito da gente. Não imaginava que seria tão difícil ter essas duas vidas que pedem tanto da pessoa. Mas, estou super feliz porque, nesses primeiros meses de mandato, já sinto que estamos fazendo a diferença na vida das pessoas.
Já sinto uma diferença no modo de pensar de pessoas que fazem parte da sociedade. Precisamos discutir sobre medicina, sobre saúde pública, como o SUS é necessário, e outros temas relevantes.
Porque a vereadora Michelle é diferente dos demais vereadores? Como era a sua relação com a política antes de decidir se candidatar?
Eu mesma respondo as minhas redes sociais. Eu vim da indignação de não ter a política perto de mim. Voto desde os 16 [anos de idade] e nunca tive acesso às pessoas que eu votava. Quero ir na contramão disso. Quero estar perto das pessoas e quero que elas participem.
Humildemente, sinto que tenho deixado o canal aberto e tenho [recebido] um feedback muito positivo disso. As pessoas estão se sentindo protagonistas dessa política. E sabe o que é mais engraçado? Eu sou abordada em todos os lugares. Eu estava, esses dias, fazendo um atendimento via Samu, quando de repente: “Nossa, a vereadora! Deixa eu lhe contar” e começou a falar com a Michelle vereadora [risos]. Foi engraçado.
São dois ofícios que vão além de um ambiente de trabalho: você é médica em qualquer lugar. No restaurante, no avião, na rua. E decidiu escolher uma outra jornada similar; afinal, você também não deixa de ser vereadora em momento algum. Tá gostando? Pretende largar a medicina?
Tá sendo uma jornada interessante! Pretendo continuar com essa jornada até o fim do mandato. É exaustiva, é cansativa, mas é prazerosa. E eu tenho um time incrível, pessoas com quem posso contar e que me ajudam nessa caminhada. Infelizmente, não consigo estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Essas pessoas me ajudam nisso.
Mas cuidar das pessoas como médica, cuidar das pessoas como vereadora, não tem preço. Não pretendo abrir mão de nenhuma jornada. Tem sido um mandato realista, dentro do que as pessoas procuram e precisam. Quero que as pessoas se sintam cuidadas através desse mandato.
E cadê o tempo para os filhos nessa correria toda? [risos] Como você tem administrado toda essa correria com a sua vida pessoal?
Meus filhos têm reclamado [risos]. Mas, como médica, minha rotina já era bem exaustiva, puxada. Por conta disso, sempre procurei ter hora para sair e hora para chegar. Temos um combinado. Além disso, eles fizeram parte da minha decisão de ser vereadora. Cheguei para eles, e conversei: “Olha, mamãe tem esse sonho. Porque é importante? Porque a mamãe pensa assim?” e expliquei tudo. A agenda foi toda replanejada e, com esse planejamento, com minha equipe e o apoio de todos os meus familiares, temos dado conta do recado.
E, falando em planejamento, já anotou na sua agenda o Dia das Mães? [risos] Quer contar para nossa equipe como vai ser? Como mãe, como mulher, você vê importância em refletir acerca desse tipo de data?
Eles são pequenininhos. Eu mesma vou fazer meu Dia das Mães. Já tá tudo planejado: vou passar o dia com eles [os filhos da vereadora Michelle possuem 11, 9 e 6 anos]. Disso, não abro mão.
Costumo dizer que as mulheres nos dão a vida. A vida vem por meio delas. Elas são exemplo de resiliência, ensinamento. Temos mães, tias, avós, mulheres do nosso lado que nos ensinaram com muita paciência. Precisamos ter um olhar sensível para o que as mulheres significam.
Nós, mulheres, também precisamos nos apoderar dessa força que temos. Podemos plantar um futuro melhor. Meu desejo é que todas as mães usem essa força para que, depois dessa pandemia, a gente viva um novo momento. Melhor diferente. Mais amor, dignidade, humanidade – que eu acho que é algo que precisamos resgatar.