A Polícia Federal deflagrou duas operações na manhã desta terça-feira (25) – a Jumper e a Súplica -, com objetivo de cumprir mandados judiciais em Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Manaus, Brasília, Pindamonhangaba, São José dos Campos, Salvador, Serrinha e Natal. Ambas as ações visam desarticular supostas organizações criminosas que, de forma estruturada, praticavam os crimes de peculato, corrupção passiva e ativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, dentre outros.
Mais de 110 policiais federais participam das operações, visando o cumprimento de 42 mandados judiciais expedidos pela Justiça Federal.
Ao todo, foram cumpridos 29 de busca e apreensão, 04 de prisão, 8 de sequestro de bens móveis e 01 mandado de afastamento cautelar do cargo público. Além disso, estão sendo bloqueados os ativos financeiros dos principais envolvidos no montante de aproximadamente R$ 6 milhões.
A Operação Jumper apura supostos desvios de recursos públicos no âmbito de 02 (dois) termos de colaboração firmados pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul com a Fundação Cultural e de Comunicação Valença (FCCV), envolvendo o repasse de aproximadamente R$ 25 milhões.
De acordo com a investigação, os desvios eram dissimulados por meio de notas fiscais fraudulentas emitidas por empresas indicadas por agentes políticos e integrantes do esquema criminoso, as quais figuravam como prestadoras de serviços, sem que houvesse uma contraprestação legítima. Nos últimos anos, em outros Estados da Federação, a FCCV recebeu cerca de R$ 90 milhões.
A operação Jumper foi assim nomeada tendo em vista que a palavra, em inglês, significa saltador, o que remete ao modus operandi da organização criminosa investigada, que “salta” de município para município, Estado para Estado, na tentativa de cooptar agentes políticos e servidores à organização e, com isso, ampliar o montante de recursos públicos que poderá ser desviado, ocultado, dissimulado e movimentado em prol de seus membros.
Por sua vez, a operação Súplica investiga se houve desvio nos quase R$ 4,5 milhões repassados pela União ao município de Cruzeiro do Sul, em face dos danos causados à população cruzeirense pelas enchentes do Rio Juruá nos anos de 2017 e 2021. A investigação revelou que houve mais de 15 (quinze) contratações diretas com fornecedores escolhidos pelos gestores municipais, havendo fortes indícios de que cotações de preços que fundamentaram a escolha das empresas fornecedoras foram dolosamente fraudadas. Por conseguinte, efetivava-se o desvio e a apropriação de verbas federais, em detrimento da prestação de serviços para as pessoas atingidas pelas enchentes, causando grande prejuízo ao erário e social.
A operação Súplica foi assim batizada em alusão à música “Súplica Cearense”, de composição dos músicos Gordurinha e Nelinho, em 1960, após um período de muita chuva no Nordeste. Tal música foi imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, embora uma de suas versões mais famosas seja a gravada pelo grupo O Rappa, que acrescentou um tom crítico quanto aos interesses políticos e desvios realizados com os repasses de verbas destinados a ajudar vítimas das enchentes e secas no Nordeste.
A Polícia Federal continuará a apuração, na tentativa de elucidar a real amplitude das supostas organizações criminosas, bem como identificar o grau de participação de cada um dos envolvidos.