Bairros em quarentena, milhões de testes: como a China está combatendo um novo surto da Covid

Bairros sob estrito bloqueio. Milhares de pessoas em quarentena. Milhões de testes realizados em poucos dias. Chegadas do exterior bloqueadas por semanas e às vezes meses. A China tem seguido variações dessa fórmula para lidar com a Covid-19 há mais de um ano — e um novo surto sugere que elas podem fazer parte da vida chinesa por mais algum tempo.

Apesar de o governo ter anunciado em agosto do ano passado que a pandemia estava controlada no país — e a vida, de fato, começou a voltar ao normal por lá —, centenas de milhões de chineses não foram vacinados, surgiram novas variantes do coronavírus e ainda restam dúvidas sobre se as vacinas produzidas pela própria China podem detê-las.

Os casos mais recentes —  e ainda assim um total de pouco mais de 150 —  foram registrados em Guangzhou, ou Cantão, capital da província de Guangdong, a mais populosa do país e um centro industrial de quase 15 milhões de pessoas. As autoridades culparam a variante Delta, que causou perda generalizada de vidas na Índia, pelo novo pico de infecções.

A cidade, onde as instalações de teste estão operando 24 horas por dia com longas filas de espera, testou praticamente toda a sua população de 18,7 milhões entre domingo e terça-feira, algumas pessoas pela segunda vez. Também colocou bairros com um total de mais de 180 mil  residentes em quarentena total, com praticamente ninguém autorizado a sair, exceto para exames médicos.

Os primeiros novos casos de Covid-19 na região parecem ter se espalhado entre frequentadores de vários restaurantes. Cada pessoa contaminada infectou mais pessoas do que em qualquer surto anterior que a China enfrentou, disse Zhang Zhoubin, vice-diretor do Centro de Controle de Doenças de Guangzhou, em entrevista coletiva.

— A epidemia enfrentada por Guangzhou desta vez é um oponente sem precedentes e requer medidas mais firmes e decisivas para lidar com ela — disse ele.

A abordagem da China evoluiu desde o surgimento do coronavírus, quando Pequim inicialmente impôs duras restrições a centenas de milhões de pessoas. Hoje, suas quarentenas concentram-se nos bairros, e não nas cidades ou províncias.

A China fez da vacinação a peça central de sua estratégia, mas sem abandonar princípios fundamentais para um país enorme e densamente povoado: testes em massa, restrições de deslocamento e intenso escrutínio de chegadas de outros países.

Muitas empresas esperam que a China mantenha restrições  rígidas a viagens até fevereiro, quando Pequim sediará as Olimpíadas de Inverno, e possivelmente até o outono do próximo ano, quando o Partido Comunista Chinês realizará seu congresso.

Muitos estrangeiros na China enfrentam uma escolha difícil: se eles saírem para visitar cônjuges, filhos e outros membros da família em outros lugares, podem não conseguir entrar novamente no país devido às restrições da pandemia.

— Há um cansaço cada vez maior para muitos dos estrangeiros que estão aqui — disse Jacob Gunter, gerente sênior de políticas e comunicações da Câmara de Comércio da União Europeia na China.

Em casa, os líderes da China estão pressionando seu povo a se vacinar. Já administraram cerca de 800 milhões de doses pelas contas do governo, em comparação com 300 milhões administradas nos Estados Unidos. Yin Weidong, o presidente e executivo-chefe da Sinovac, um dos principais fabricantes de vacinas da China, disse à televisão estatal na sexta-feira passada que os reguladores chineses aprovaram o uso emergencial de vacinas em crianças a partir dos 3 anos.

Mesmo assim, administrar 800 milhões de doses — quase todas as vacinas exigem duas doses — significa que a maioria dos 1,4 bilhão de pessoas da China ainda não foi totalmente imunizada. Algumas pessoas continuam hesitantes em receber as vacinas, e a mídia chinesa usou o surto de Guangzhou para encorajar os céticos a serem vacinados.

A disseminação do vírus levantou novas questões sobre a eficácia das vacinas da China para deter o contágio, particularmente contra as variantes. As ilhas Seychelles no mês passado e agora a Mongólia nas últimas três semanas tiveram um grande número de infecções, apesar das altas taxas de vacinação. Ambos usaram a vacina da Sinopharm, embora as Seychelles também dependessem parcialmente das vacinas da AstraZeneca.

A variante Delta que agora circula em Guangzhou também mostrou sua capacidade em outros países de infectar algumas pessoas que já haviam sido vacinadas, um fenômeno conhecido como escape da vacina. Pesquisas em outros lugares descobriram que esse é um problema específico para pessoas que receberam apenas a primeira dose da vacina e, em seguida, foram expostas à variante Delta.

Na terça-feira, a província de Guangdong tinha 157 pessoas hospitalizadas com coronavírus e anunciava cerca de 10 novos casos por dia. Mas ao contrário de muitos lugares ao redor do mundo, Guangzhou pelo menos não precisa se preocupar em ficar sem suprimentos pandêmicos: é coincidentemente um centro de manufatura e exportação.

Chen Jianhua, economista-chefe do Birô de Indústria e Tecnologia da Informação de Guangzhou, disse em entrevista coletiva na quarta-feira que a capacidade de produção diária da cidade é de 91 milhões de máscaras e sete milhões de kits de insumos químicos para detecção de coronavírus.

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