O desmatamento na Amazônia atingiu em maio de 2021 o pior índice para esse mês desde o início da série histórica, em 2016, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ainda não foram computados os dados dos três últimos dias do mês, mas em apenas 28 dias os alertas de desmatamento abrangeram uma área de 1.180 km², um aumento de 41% em relação a maio de 2020, quando foram detectados alertas numa área de 834 km².
É a primeira vez que o número ultrapassa 1.000 km² para esse mês, segundo o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe.
Segundo a rede de organizações da sociedade civil Observatório do Clima, o dado é preocupante, porque maio marca o início da estação seca, quando a devastação se intensifica em grande parte da região amazônica.
Esse é o terceiro recorde de desmatamento na Amazônia consecutivo este ano. Em março, o Deter detectou perda de 367 km² de floresta, um aumento de 12,5% em relação ao mesmo período de 2020 e maior área da série histórica para o mês. O ano de 2021 também teve o pior abril da série histórica, com alertas para uma área de 580,55 km².
Já os meses de janeiro e fevereiro de 2021 registraram índices de devastação menores do que os notificados no mesmo período no ano passado.
No total de janeiro a maio deste ano, foram mais de 2.336 km² desmatados, um aumento de 14,6% na área devastada em relação ao mesmo período em 2020. O Greenpeace destaca que o aumento ocorre apesar da cobertura de nuvens ter sido superior nesses meses em 2021, o que dificulta o registro das áreas devastadas, e de ter chovido mais na região Norte, “o que em tese deveria desacelerar o desmatamento”.
O Deter é um levantamento sobre alterações na cobertura florestal. As informações são enviadas para órgãos de fiscalização como o Ibama e seus índices são divulgados mensalmente.
Governança ambiental
Em nota, o Observatório do Clima afirma que o governo Bolsonaro “se dedica há dois anos e meio a desmontar as políticas de controle de desmatamento” e cita as investigações sobre o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. “O grande problema da fiscalização e do combate ao desmatamento não é apenas falta de dinheiro, o que falta é governo”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do OC, em nota.
“O desmatamento neste ano será o que os madeireiros ilegais, garimpeiros criminosos e grileiros quiserem que seja. E, neste momento, eles não têm nenhum motivo para se controlar, já que o próprio governo federal, que deveria coibir a ilegalidade, os incentiva com atos e discursos”, acrescenta Astrini.
Para Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace, os alertas de desmatamento “reforçam ainda mais o quanto uma das maiores reservas de biodiversidade no planeta está sendo colocada em risco dia após dia”.
“Além de um presidente e um ministro do Meio Ambiente atuando contra a proteção ambiental, o Congresso tem contribuído com essa política de destruição, enfraquecendo deliberadamente as leis que protegem a floresta e seus povos. O resultado de maio não poderia ser diferente já que os retrocessos na governança ambiental só aumentam”, afirma Batista, em nota.
O GLOBO entrou pediu uma resposta ao Ministério do Meio Ambiente, mas não teve retorno até o momento.