Nesta terça-feira (20), países como Brasil, Argentina, Uruguai e Moçambique costumam comemorar o Dia do Amigo, e diferentemente do que diz Roberto Carlos na música “Eu Quero Apenas”, em parceria com Erasmo Carlos, o antropólogo britânico Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, disse em meados da década de 1990 que não é possível o ser humano conseguir cultivar uma quantidade exorbitante de amigos que se pode contar para a vida.
De acordo com o livro “Amigos: compreendendo o poder de nossos relacionamentos mais importantes”, do pesquisador da Universidade de Oxford, o limite biológico é de 150 pessoas, sendo 5 destas no grupo de “melhores amigos”. Ou seja, estes são os que a pessoa costuma ter muita afinidade e cumplicidade. No segundo círculo, o número chega até 10. No terceiro, até 30, e no último, até 100, que são aqueles os quais não se tem muita intimidade ou conexão propriamente dita.
No entanto, há quem não concorde com esse quantitativo. A doutora em psicologia, Juliane Callegaro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), disse que não existe, necessariamente, um parâmetro para definir quantidade de amigos, justamente pelo fato de haver questões sociais, culturais, de afinidade e até mesmo outras situações que não estão sob controle. “Obviamente que há um limite de amizades que podemos nutrir, até mesmo por razões logísticas, mas não sabemos ao certo o número e isso muda substancialmente ao longo das décadas e considerando o estilo de vida de cada um”, disse.
AMIZADE EM UM CENÁRIO INUSITADO
O caso da amizade entre a enfermeira Edinilda Freitas e da dona de casa Girlane Costa, por exemplo, surgiu em uma situação um tanto desconfortável. Em meados de 2008, ambas disputavam a mesma vaga de frentista em um posto de gasolina local.
“Eu ainda não tinha pretensão de entrar na faculdade, estava em um estágio em um posto de gasolina em busca do meu primeiro emprego. Já era quase certa que a vaga seria minha, só tinha eu estagiando e já estava há dois dias, quando por volta das 11h chegou uma mulher em uma bicicleta debaixo do sol quente, vindo do bairro vila Betel para o bairro Conquista. Já vinha de muitos lugares entregando currículo. Daí a gerente do posto pediu pra que ela voltasse a tarde pra estagiar”, contou.
Como era de se esperar, ambas ficaram apreensivas, já que as duas precisavam daquela vaga. Uma ficou estagiando pela parte da manhã, e a outra pela tarde. “Fiquei meio preocupada, pensando que tinha perdido a vaga, já que ela tinha chegado do nada e foi chamada ‘de cara’, pensei que com certeza a oportunidade seria dela”, contou a enfermeira.
DESFECHO POSITIVO
No entanto, o final dessa história foi positivo. As então estagiárias foram contratadas para atuarem como frentistas, ficando uma para cada turno, e a partir de então, elas viraram amigas. Girlane conta que um gesto da então concorrente foi crucial para que ela se sentisse tocada de alguma forma.
“Incrível que quando ela me viu, ela me desejou ‘boa sorte’. Eu achei tão bonito da parte dela fazer isso com uma pessoa que estava concorrendo com ela. Eu observo muito essas coisas. Nós praticamente começamos juntas, porém ela que ficou com a vaga. No entanto, com uns dias surgiu outra oportunidade lá e me chamaram também. E aí nós fomos conversando, a amizade foi fluindo e se estendeu entre as famílias como está até hoje. Eu a considero da minha família e sei que isso é recíproco”, pontuou.
De fato, o sentimento é o mesmo, segundo Edinilda. “E disto surgiu uma grande amizade, viramos unha e carne no trabalho e na vida, o esposo dela virou muito amigo do meu. E até hoje temos uma amizade ainda mais fortalecida, que já perdura 13 anos”, frisou.