Há exatos 22 anos, o Vasco-AC era bicampeão estadual (1965/1999)

Há exatos 22 anos, com um elenco formado por jogadores renegados dos principais clubes acreanos, o Vasco da Gama conquistava seu bicampeonato acreano (1965/1999).

O clube vivia um jejum de 34 anos sem a conquista de um título estadual e a proeza ocorreu na noite invernosa do dia 16 de julho/1999, precisamente no estádio José de Melo, diante do favorito Independência, por 1 a 0, gol do baixinho Neib já no apagar das luzes.

O duelo da final foi intermediado pelo árbitro Paulo César Oliveira, hoje comentarista de arbitragem da Rede Globo.

Estava escrito nas estrelas

Naquele ano, o destino reservaria fortes emoções ao torcedor da Cruz-de-Malta. Os mais apaixonados acreditam que o triunfo vascaíno já havia sido escrito nas estrelas, bem antes daquela final histórica, mesmo que em alguns momentos a tinta usada não estivesse tão visível ou seus traços aquém daqueles do famoso artista plástico Pablo Picasso.

Na bolsa de apostas, quase ninguém ariscava que um time de jogadores renegados ergueria a taça de campeão, principalmente após o Independência levar o título do primeiro turno para o Marinho Monte.

No entanto, quis o destino que o time vascaíno comemorasse o título do returno somente das arquibancadas do José Melo, isso beneficiado pela vitória do Independência, no Clássico Vovô, sobre o Rio Branco por 1 a 0, gol do meia Dirceu, esse cria do Vasco, em jogo ocorrido no dia 8 de julho daquele ano.

Vasco da Gama/1999. Da esquerda para a direita: Roberto (mordomo), Som (preparador físico), Cláudia Malheiro (auxiliar técnica), Juscelânio, China, Marquinhos Bombeiro, Jean, Airton, Ricardinho, Rol, Odinei, Marquinhos, Mamud, (…), Océlio e Neib. Foto/Arquivo Pessoal Manoel Façanha.

Com o Rio Branco fora da disputa do título, após o Independência escolher o adversário da final, o jogo decisivo culminou com a vitória vascaína por 1 a 0, gol do atacante Neib, aos 40 minutos da etapa final, após o baixinho ganhar no jogo aéreo dos grandalhões tricolores e com um leve toque mandar a redondinha para a rede do goleiro Klowsbey.

Nosso vestiário era fechadinho, diz Benjonson

Um dos personagens daquele título vascaíno de 1999 diz respeito ao zagueiro Benjonson, cria da Fazendinha. Um atleta de pouca técnica, mas de vigor físico invejável.

Sempre muito brincalhão, o então xerifão vascaíno relembra de vários fatos memoráveis daquela histórica conquista.

Um deles é o episódio do elenco vascaíno ter sido formado em sua maioria por jogadores renegados dos grandes clubes da capital, como foram os casos dos jogadores Rol, Biro-Biro, Juscelânio, Marquinhos Amor, Faísca, Evandro Coala, China, Mamud, Acreano, entre outros. E segundo é o fato do técnico Ulisses Torres, após uma daquelas peneiras rotineiras, optar pela dispensa de vários jogadores, entre eles a figura do zagueiro Odinei.

Não concordando com aquela decisão do comandante vascaíno, Benjonson resolveu conversar com o Ulisses para ele reconsiderar aquele equívoco. Um argumento aqui e outro ali, o professor Ulisses Torres reconsiderou sua decisão e o zagueiro Odinei foi reintegrado ao grupo, algo que o Benjonson afirma que jamais irá se arrepender daquela atitude, pois o Odinei, segundo ele, foi um dos atletas que contribuíram muito para o time da Cruz-de-Malta conquistar aquele título.

Questionado sobre o segredo da equipe que, a época, era considerada como quarta ou quinta força do estadual, mas na hora do vamos ver ficou com a taça de campeão, Benjonson não titubeou e falou que a união daquele grupo fez a grande diferença. “Éramos um time muito unido. Nosso vestiário era fechadinho e a oração antes dos jogos fazia a gente tremer de tanta fé e adrenalina”, revela o jogador.

FRASE

Marquinho Bombeiro, Rol, Rozier e Ben Jonson, momentos antes do treino do Vasco da Gama, em 1999. Foto/Manoel Façanha.

“Éramos um time muito unido. Nosso vestiário era fechadinho e a oração antes dos jogos fazia a gente tremer de tanta fé e adrenalina”

Benjonson, zagueiro do Vasco do título de 1999

Ulisses: o Vasco adotou uma filosofia Interdisciplinar

Naquele ano de 1999, o comandante vascaíno, o ex-jogador de Juventus e Rio Branco, Ulisses Torres, então com 32 anos, recém-chegado da cidade de Batatais-SP, onde terminara o curso de Educação de Física com pós-graduação em treinamento de futebol, recebeu a missão árdua do presidente vascaíno, o advogado Braña Muniz, para comandar o time vascaíno à beira do gramado.

O desafio foi aceito e Ulisses e sua comissão técnica, formada por Cláudia Malheiro (auxiliar técnica), Edson Maria (preparador físico), Selcimar Maciel (auxiliar de preparador físico), Gildázio Moura (fisioterapeuta), Roberto Boca de Cantor (massagista), Tião Bruzugu (gestor de futebol), Berg (diretor) e Roberto (roupeiro) apostaram em vários jogadores rejeitados e também na juventude para compor o elenco vascaíno.

“Era um time com bons valores, muitos deles atletas de qualidade que já haviam passado pelos nossos principais clubes da cidade”, disse Ulisses Torres, lembrando ainda que teve a coragem e a sensibilidade de lançar a professora de Educação Física Cláudia Malheiro como sua auxiliar técnica.

Vasco da Gama – 1999. Em pé, da esquerda para a direita: Railton, Barriga, Juscelâneo, Aírton, China e Rozier. Agachados: Jean, Mamude, Rol, Neibe e Marquinho Bombeiro. Foto/Rose Peres

Se dentro de campo, Ulisses Torres estava satisfeito com a qualidade do elenco, ele necessitava de tranquilidade e organização fora de campo.

O primeiro passo da diretoria e da comissão técnica foi elaborar um projeto anual, trazendo nele aspectos físicos e técnicos a implantar aos atletas, além do material esportivo para treinos e jogos e outros.

Ulisses lembra ainda que a principal filosofia implantada no clube pela comissão técnica era interdisciplinar, a qual seguia um padrão profissional praticado nos grandes clubes.

Os zagueiros vascaínos Juscelâneo e Benjonson em ação contra o alvirrubro Luís Carlos na temporada de 1999. Foto/Manoel Façanha.

Outro aspecto marcante lembrado pelo comandante diz respeito ao café da manhã após o treino do sábado, associado ao almoço do domingo, isso tudo para agregar ainda mais os jogadores e a comissão técnica.

“Naquela época defino o time vascaíno como uma grande família, inclusive, com a nossa dentro do clube. Também aponto a disciplina tática e o foco dos jogadores como fator diferencial para aquele triunfo”, analisa Ulisses Torres.

Ulisses Torres encerrou a conversa com a reportagem do jornal Opinião agradecendo cada jogador, membro da comissão técnica, diretoria e parceiros do clube durante o título daquela temporada.

Ulisses Torres foi o grande comandante do título, diz Som

Edson Maria (Som) e Ulisses Torres trabalharam diversas vezes juntos no Vasco da Gama. Foto/Manoel Façanha.

Ex-jogador do Vasco da Gama, o Edson Maria, o Som, hoje com 52 anos e com formação na área de Educação Física pela Universidade Federal do Acre (Ufac), lembra muito bem daquele histórico título vascaíno.

Som era, na época, o braço direito do técnico Ulisses Torres, não somente na parte física, mas também na organizacional do clube.

Na avaliação de Som, o diferencial da época diz respeito à chegada ao clube do técnico Ulisses Torres, esse recém-formado em Educação Física pela Universidade de Batatais.

“O Ulisses Torres chegou ao Vasco com um grau de qualificação acima da média da maioria de nossos treinadores. Foi ele que elaborou para o clube o planejamento da temporada e nos ensinou inúmeros aspectos da funcionabilidade de um clube profissional.

Som explica ainda que não somente a comissão técnica e a diretoria vascaína compraram as ideias de Ulisses Torres, mas também os jogadores.

“Os atletas entendiam e seguiam a risca as orientações do professor Ulisses Torres, não somente dentro de campo, mas também fora dele”, lembra Som, afirmando ainda que tudo isso refletiu positivamente na vida futura de cada jogador daquele elenco vitorioso.

O então preparador físico vascaíno que 10 anos depois levaria o Juventus ao topo do futebol acreano, não se esqueceu da importância do papel da professora Claudia Malheiro para o triunfo vascaíno.

“A professora Cláudia, além de conhecer de futebol, trabalhava muito bem o lado psicológico dos jogadores e muitos deles necessitavam de aconselhamento e orientação para crescer o seu rendimento durante a competição.

Vasco da Gama – Campeão Acreano-1999. Em pé, da esquerda para a direita: Roberto Boca de Cantor (massagista), Barriga, Faísca, China, Railton, Odinei, Juscelâneo, Gildázio (médico) e Roberto (mordomo). Agachados: Evandro, Mamude, Acreano, Jean, Biro-Biro, Ricardinho e Marquinhos Amor. Elison Azevedo, Chicão, Carlinhos e Carlinhos Magno. Agachados: Michel, Juscelâneo, Nadson, Ricardinho, Mamude e Merica – Foto/Manoel Façanha.
Na decisão de 1999, o árbitro Paulo César Oliveira, hoje comentarista de arbitragem da Rede Globo, conduziu o jogo decisivo. José Ferreira e Antônio Charles foram os assistentes. Foto/Manoel Façanha.
Comissão técnica do Vasco da Gama-1999. Da esquerda para a direita: Ulisses Torres (técnico), Cláudia Malheiro (auxiliar-técnica), Edson Maria “Som” (preparador físico), Selcimar Maciel (auxiliar de preparador físico) e Roberto “Boca de Cantor” (mordomo). Foto/Manoel Façanha.
Entrega de faixas do Vasco da Gama, campeão de 1999. Da esquerda para a direita: Railson, Benjonson, Acreano e Airton. Foto/Manoel Façanha.

 

Campanha

 1º turno

Vasco 3 x 1 Adesg

Vasco 2 x 1 Rio Branco

Vasco 5 x 1 Andirá

Vasco 2 x 3 Independência

Vasco 2 x 1 Atlético

2º turno

Vasco 3 x 0 Atlético

Vasco 3 x 1 Andirá

Vasco 3 x 0 Adesg

Vasco 2 x 3 Rio Branco

Vasco 2 x 1 Independência

Final

Vasco 1 x 0 Independência

 Artilheiros: Rozier (Vasco), Edilsinho (RBFC) e Pitiú (Independência), todos com 8 gols

Classificação Geral

1 Vasco da Gama…28

2) Independência….23

3) Rio Branco………19

4) Adesg……………..12

5) Atlético-AC ……..10

6) Andirá……………..00

Súmula

Vasco da Gama 1 x 0 Independência

Local: José de Melo

Data: 16/07/99

Árbitro: Paulo César Oliveira

Assistentes: Charles Antonio e José Ferreira

Gol: Neib (40 do 2)

Público: 1.285 pagantes

Renda: R$ 4.286,00

Cartões amarelos: Acreano, Juscelânio e China (Vasco); Claudinho e Jairo (IFC).

Cartão vermelho: Juscelânio (Vasco).

Vasco: Faísca, Acreano, Juscelânio, Benjonson e China; Mamud, Jean, Marquinhos Bombeiro (Odinei) e Biro-Biro (Rol); Evandro (Neib) e Rozier. Técnico: Ulisses Torres

Independência: Klowsbey, Claudinho, Sales e Nego e Mariano; Pereira, Artemar, Jairo e Redson (Dirceu); Pitiú e Dênis (Robertinho). Técnico: José Ribamar

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