Quem é Ademara Barros, pernambucana que conquistou o público com o vídeo ‘Sudestino’

Quando veio morar no Rio de Janeiro, Ademara Barros viu como, por aqui, sua orgulhosa origem pernambucana se perdia no estereótipo da “nordestina”. Os pratos típicos de outros estados, o sotaque “fofo” que infantiliza, expressões que ela nem conhecia, mas que achavam que ela usava… Tudo acabou virando munição para a personagem que faz sucesso nas redes sociais e semana passada foi parar no vídeo “Sudestino”, do Porta dos Fundos.

Invertendo os estereótipos e misturando traços culturais do Sul e do Sudeste, o vídeo já foi visto mais de um milhão de vezes desde segunda-feira. No esquete, Gregório Duvivier é Bruno, um paulistano em seu primeiro dia de trabalho no Recife. Na conversa com uma colega, interpretada por Ademara, ele fica surpreso ao descobrir o termo usado para unir todos que nascem “abaixo do Espírito Santo”: “sudestinos”.

— Não quero negligenciar ninguém, mas o nordestino é sempre colocado como carente ou exótico, e não como uma pessoa normal como qualquer outra — diz Ademara, que chegou a chorar após a gravação do vídeo. — É sempre aquela coisa do batalhador, do povo sofrido, que aguenta tudo. A mídia de certa forma contribuiu com isso. Nordestinos sempre fizeram papéis de empregada ou porteiros. Sempre tivemos nossa cultura associada a personagens menores, menos esclarecidos. Então, é legal quando você vê, por exemplo, o Irandhir Santos fazendo o vilão poderoso em “Amor de mãe”, com seu sotaque do jeito que é mesmo.

Nascida em Igarassu, município no litoral norte de Pernambuco, a 27 quilômetros do Recife, Ademara veio para o Rio aos 23 anos, em 2019, por conta de uma oportunidade de trabalho, e viveu situações semelhantes às mostradas no vídeo. Em um escritório de assessoria de imprensa, também ouviu de sua chefe que não poderia ser “essa pessoa engraçadinha” no trabalho.

— Ela nem me conhecia para saber se eu era engraçada ou não. Não conhecia minha personalidade. Eu ouvia esse tipo de coisa, era descriminada em pautas, diziam que eu tinha de falar de outro jeito. Mas eu sou jornalista, trabalhava com política em Pernambuco, não caí de paraquedas ali — conta Ademara.

Aposta nas redes

Envolvida com o teatro desde os 14 anos, a pernambucana chegou a fazer aulas com o ator Fernando Caruso no Tablado. E guardou aquele episódio da antiga chefe num repertório que seria usado em um espetáculo de stand up comedy. Mas aí veio a pandemia, e Ademara levou suas ideias para a internet, palco no qual nunca havia imaginado ganhar dinheiro um dia.

— Como vi que não ia rolar o stand up, pensei em materializar de alguma maneira. E aconteceu — diz a jornalista e atriz de 25 anos, que hoje acumula 426 mil seguidores no Instagram e quase 200 mil no Twitter. — Eu ainda trabalhava como assessora de imprensa e as pessoas me pediam pra eu fazer mais conteúdo. Entrei no jornalismo porque eu amo a profissão, mas amo muito mais atuar. E sei que posso provocar transformações na arte também.

No ano passado, Ademara fez sucesso nas redes com Ademaravilha, em que interpretava personagens como uma intercambista de Dublin, que não perde uma oportunidade de compartilhar, em qualquer conversa, suas experiências na Irlanda, e chegou a ter seus perfis no Twitter e no Instagram invadidos por hackers.

Outra de suas criações foi Laura Tampurini, uma repórter “sudestina” que atropela entrevistados com um jeito sem noção. O papel foi a ponte para colaborar com o roteirista Edu Araújo no esquete do “Porta”. Os exemplos, ela trazia de memória, como na vez em que assistiu a uma palestra em São Paulo.

— Eu estava em palestra para estudantes de Comunicação e levantei o braço para fazer uma pergunta. Quando a palestrante me ouviu falar, disse: “Ai, fala mais, que sotaque gostoso!”. Todo mundo riu. Isso esvazia meu discurso, sabe? Parece que eu sou um bonequinho que quando alguém aperta fala “oxente”.

No Instagram, além da repórter sem noção, a agora influenciadora também faz seu humor questionador com outros tipos, como o “esquerdomacho”. O sucesso nas redes fez Ademara assumir a condição de humorista, mas ela defende que o passado de jornalista foi fundamental na construção de suas personagens.

— Quando eu fiz a minha primeira “publi”, ganhei um bom dinheiro, paguei meu aluguel e pensei “mulher, vamos fazer mais três e pagar mais uns aluguéis” — brinca. — Depois de mais uns aluguéis pagos, entendi que podia me aventurar nisso. Quando a Play9 (agência de Felipe Neto) me procurou para me agenciar, entendi que eu tinha mesmo como dar certo nesse meio. Saí do escritório onde eu trabalhava para fazer entretenimento, mas sou atriz e jornalista. Meu conteúdo não ia sair do jeito que sai sem a minha vivência. O jornalismo me deu embasamento e responsabilidade para transmitir a minha mensagem.

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