A dona Maria de Jesus, de 92 anos, passou mais de 1 ano e meio sem ‘botar o pé na rua’, como bem disse, por medo do coronavírus. E deu certo, já que não foi infectada.
A exceção foi aberta nesta sexta-feira (6): ela fez questão de participar das comemorações do aniversário do bairro Seis de Agosto, local onde passou toda a sua vida. Ela é, hoje, a moradora mais antiga do bairro: veio de Boca do Acre, onde nasceu, ainda bebê – e por isso se considera acreana do pé rachado.
Com um sorriso largo, ela contou que já passou muita dificuldade no bairro, mas nenhuma se compara às alagações. Nossa reportagem perguntou quantas enchentes enfrentou, mas ela disse que nem se lembra, de tantas que foram.
“Ah, minha filha, minha memória fraca não lembra de quantas, mas eu lembro do sufoco que é toda vez, com água na cintura [apontando para onde a água alcançava em seu corpo já curvado pelo tempo], (sic) tendo que tirar tudo”, explica.
Após ouvir como foi difícil enfrentar as enchentes, questionei porque ela não se mudou na época do Governo Tião Viana (PT), quando muitos moradores de áreas alagadiças foram levados para a Cidade do Povo.
“Cheguei aqui criança, com meu pai, minha mãe, irmãos, fui criada nesse bairro, depois casei, criei meus filhos, vi meus netos nascerem, os bisnetos. Meu pai morreu, depois minha mãe. Ah, minha filha, vivi minha vida aqui, coisa boa, ruim, mas tudo aqui, não quero sair não, é aqui que vou ficar”, contou.
O bairro 6 de Agosto é o mais antigo de Rio Branco surgiu a partir de um varadouro que ligava os seringais Catuaba e Volta da Empreza, e por onde circulavam comboios de mulas, trazendo e levando borracha e aviamento para as colocações. Foi palco da Revolução Acreana: por esse varadouro, Plácido de Castro atacou os bolivianos no Igarapé Judia, em 1902.
Próximo ao Centro da Cidade, o bairro é passagem obrigatória de quem vai do Primeiro ao Segundo Distrito – ou faz o percurso contrário. Berço de importantes políticos, o bairro passou por momentos tensos de violência com a chegada das facções criminosas mas, hoje, os moradores que até pensaram em se mudar nessa época, brincam que ‘quem nasceu ali, está preparado para sobreviver em qualquer lugar’ mas não precisam, pois quem bebe da água do Judia, não vai embora.