— Alô? Doutora Valdete? Ton Lindoso aqui, editor-chefe do ContilNet, tudo bom?
— Oi, meu filho! Boa noite. Como posso estar bem com tudo isso acontecendo?
Esse foi o início de um longo diálogo com a diretora administrativa e financeira da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Acre (Codisacre), Valdete Souza. Ela aceitou falar com a reportagem do ContilNet na noite deste domingo (1), horas antes de ser ouvida pela Justiça para esclarecimentos contra acusações de ‘rachadinhas’ e assédio moral a funcionários da companhia estatal.
De acordo com informações de Valdete, a oitiva acontece às 9 da manhã desta segunda-feira (2), hora local. Para ela, tanto a oitiva como o mandado de busca e apreensão, cumprido na última semana e divulgado pela mídia, são classificados como ‘esclarecedores’ para que a verdade venha à tona.
“Te falo do fundo do coração: achei bom que eles levaram meus equipamentos: celulares, dois notebooks – eu entreguei voluntariamente. Eu queria que isso acontecesse. Eu quero que isso acabe logo”, disse Valdete.
Afirmando não estar chateada com a polícia pois, segundo ela, está ‘cumprindo sua missão’, Valdete revela que não conseguiu falar com o governador Gladson Cameli (Progressistas) até o fechamento desta reportagem. Revela também que tentou falar com outras pessoas, da confiança do governador – sem sucesso.
“Não consegui falar com o governador. Até tentei. Não consegui, infelizmente. Tentei falar com o secretário da Segov, Alysson, também não consegui. […] Estou me sentindo desprotegida? Estou! Porque nenhum chefe de Estado me atendeu, me perguntou como estou”, dispara. Ela preferiu não comentar diretamente as informações sobre exoneração, comentadas pelo governador em sites de notícias.
Nossa reportagem separou os principais momentos da conversa. Acompanhe:
ContilNet: O mandado de busca e apreensão foi noticiado por alguns sites com direito a fotos. Como a senhora tem lidado com essa exposição? Foi pega de surpresa com os agentes da polícia na sua residência?
Valdete: Totalmente de surpresa. Momentos antes, estava falando com amigos e o conselho que recebi foi: “Amiga: tira umas férias, para você sair do meio desse tiroteio”. Organizei algumas coisas na Codisacre, sai e, quando estava chegando em casa, a polícia fechou minha camionete. Parecia coisa de filme – e olha que sou advogada há 25 anos. O mandado foi cumprido por três agentes: um delegado, muito educado; um agente, não tão educado assim e uma agente, também muito educada – se referiu à mim como doutora. Mesmo esses agentes sendo muito educados, todo esse procedimento é muito constrangedor. Mas eu sei que tudo isso é necessário para que a verdade prevaleça. Então achei bom, acredita?
A senhora estava sozinha? Tinha alguém em casa? Como foi o cumprimento do mandado?
Minha netinha começou a chorar. Ela estava aqui em casa, com a moça que cuida dela (sua neta). Minha filha estava aqui também. Preferiria ter passado por tudo isso sozinha. Se fosse algo que eu pudesse ficar sabendo, com certeza eu preferiria ter passado por essa situação sozinha.
O governador Gladson Cameli teceu comentários sobre as acusações. A senhora conseguiu, em algum momento, falar sobre o caso com ele? Se sim, como foi?
Não consegui falar com o governador. Até tentei. Não consegui, infelizmente. Tentei falar com o secretário da Segov, Alysson; também não consegui. As únicas autoridades com quem falei a respeito desse caso foram as autoridades policiais. Eu também sou jornalista, sabe? Eu não me pauto pelo que as pessoas dizem.
Como foi receber a notícia de que estava sendo investigada por esses crimes? Pode nos dar detalhes sobre isso?
Fiquei sabendo que estava sendo investigada pela própria imprensa. Um rapaz, de uma emissora de TV, me ligou e falou sobre as acusações. Eram 7 da manhã! O diálogo foi mais ou menos assim:
– Valdete!?
– Alô?
– É o fulano. É porque circula a informação de uma denúncia contra você, de rachadinha, de assédio moral.
– Não estou sabendo de nada não. Você me acordou! Eu tô sabendo por você.
Foi bem constrangedor. Depois, desliguei o telefone e voltei a dormir. Acordei, fui trabalhar e fiz tudo que tinha que fazer. Detalhe: no dia seguinte, chamei minha secretária para conversar, e deliberar [assuntos de trabalho]. E aí ela falou: “não vou não”. Ficou estranha comigo. Comecei a achar que tinha algo errado. Depois disso, começou a pipocar, nos sites e redes sociais. Fiquei em êxtase, sem raciocinar direito. Fiquei assistindo as pessoas me batendo e eu: “E agora? Vou fazer o que?”
Recebi muitas ligações; sobretudo, elogiando meu comportamento.
E realmente: vou fazer o que, Lindoso? Aquilo era o que eu podia fazer: ficar na minha.
E após as acusações começarem a circular nas redes e sites de notícias? Como foi?
Acho que as pessoas estão sentindo medo de mim. Estou me sentindo desprotegida. Mas tá bom, eu aguento. As minhas costas são largas. Não existe aquela imagem de que eu sou forte e falo o que penso? Então pronto: vou continuar assim.
Tentei falar com o Alysson, tentei falar com o governador. Não me atenderam, não.
A senhora está preparada para a oitiva de segunda-feira (2)? Qual a sua expectativa com relação ao desenrolar disso tudo?
Meu coração está tranquilo. Serei ouvida pelo dr. Alcindo. Vou acompanhada de um advogado. Eu não iria (acompanhada). Mas meus amigos, que me amam e querem meu bem, me aconselharam a ir acompanhada, sim. Eu não advogo em causa própria, né? Mas eu estou tranquila. Quero que chegue a verdade, e logo! Estou me sentindo desprotegida? Estou! Porque nenhum chefe de Estado me atendeu, me perguntou como estou.
Eu sei quem foi que fez isso, mas quero manter segredo. Quero falar sobre isso apenas no momento oportuno. Na hora certa, e para a pessoa certa, eu vou dizer quem fez isso – e porque fez.
Nós vamos respeitar a sua decisão em não citar nomes. Mas existe algo mais que a senhora possa falar a respeito?
No momento oportuno eu vou dizer quem fez e porque fez. Você sabia que veio um jornalista aqui, na porta da minha casa, no dia da busca e apreensão, e filmou mais de 10 minutos? Ele sabia da busca e apreensão, veio para a porta da minha casa e gravou mais de 10 minutos de material. Aí eu te pergunto: porque essa pessoa não falou comigo? Eu teria deixado entrar! Na minha casa, salvo ordem judicial, quem manda sou eu. “Pode entrar!”
Porque a senhora acha que tudo isso está acontecendo? Qual o seu sentimento?
Não estou chateada com a polícia, pois eles estão apenas cumprindo seu dever, estão executando o seu trabalho. Mas, Lindoso, eu tenho medo. Não vou mentir. Tenho medo do oculto, tenho medo de armação. Disso, tenho muito medo! É muito bom lidar com aquele tipo de pessoa que, de cara, já mostra quem é e a que veio. Mas, de armação para as minhas costas, tenho muito medo. A armação é sorrateira, né? Eu não devo nada, mas desse tipo de coisa tenho receio. Tem gente que não gosta de mim.
Quem sou eu? Uma negra, falante, que não tem medo de falar o que pensa. As pessoas não gostam desse tipo de coisa! Já não gostam de preto […] e ainda mulher, falante? Ninguém gosta não, Lindoso! “Vamos tirar ela de circulação”, eles pensam.