Ser mulher no Acre é estar, potencialmente, vulnerável a violência e morte

Essa é uma constatação difícil, mas não uma novidade em nosso Estado. Segundo os dados do Mapa da Violência (2020) estamos no estado que mais assassina mulheres no país. Enquanto escrevo essa coluna quantas mulheres e meninas estão sendo violentadas?

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) a cada 2 minutos uma mulher é agredida no Brasil e a cada 11 minutos uma mulher é estuprada.
Ações que pareceriam muito “simples”, como ir ao banheiro em uma festa, se deslocar da casa para o mercado, terminar um relacionamento amoroso, fazer um piquenique com a filha em um parque, para mulheres significa poder sofrer violência.

Eu senti um aperto no peito ao ler a matéria “Mãe e filha de 9 anos são agredidas e abusadas durante piquenique no Horto Florestal, em Rio Branco” publicada no dia 13 desse mês. Os danos de uma violência não são apenas físicos, a mãe relatou na matéria que a filha “não está dormindo, chora se me ouvir falar [no dia do crime]” [sic], as marcas são cravadas não apenas no corpo, mas também no emocional. É preciso entender que a violência contra mulheres e meninas é um problema de saúde pública que acarreta prejuízos na vida social e na saúde, tanto física quanto psicológica das vítimas.

Um levantamento feito entre os anos de 2009 e 2010 pelo Sistema de Informação e Agravos de Notificações (SINAN), no município de Porto Alegre, identificou que as mulheres vítimas de violência costumam reviver os episódios de agressão em virtude de serem traumáticos e geradores de angustias, agravando um quadro de intenso sofrimento psicológico (ansiedade, humor deprimido, irritabilidade, autoestima diminuída, entre outros). A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) também considera que a violência acarreta prejuízos à saúde física e mental, a curto e longo prazo, podendo contribuir para dificuldades de sono, ansiedade, depressão, entre outros agravos para a saúde mental.

Sendo um problema de saúde púbica, é um dever de toda a sociedade a garantia da preservação e promoção de qualidade de vida de meninas e mulheres. Em um mundo que se estrutura pela violência e opressão desse público, silenciar é compactuar com tais crimes.

Quando uma mãe e uma filha não podem se divertir em um fim de semana num local destinado a isso, precisamos refletir profundamente que qualidade de vida o Estado tem disponibilizado para as meninas e mulheres? As pessoas na gerência do município estão interessadas na manutenção e cuidado da vida das mulheres? Quem vai cuidar da mãe e da filha agredida? Quem cuida da vida e da saúde das mulheres no estado que mais assassina esse público no país?

Fontes:
OPAS. Violência contra as mulheres. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topics/violence-against-women
SILVA, M. P. DE S; SANTOS, B. O; FERREIRA, T. B; LOPES, A. O. S. A violência e suas repercussões na vida da mulher contemporânea. Rev. enferm. UFPE on line ; 11(8): 3057-3064, ago. 2017.

Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/110209/22112

Para contatar a autora e conhecer mais do seu trabalho, acesse:
@psi.kahuana (https://www.instagram.com/psi.kahuana/).

Kahuana Leite é Psicóloga graduada pela Universidade Federal do Acre (2019) e Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua em consultório particular no município de Rio Branco/Acre, atendendo adolescentes e adultos.

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Ser mulher no Acre é estar, potencialmente, vulnerável a violência e morte