Das finanças à estrutura: cinco pontos para entender a queda do Paraná Clube da Série A para a D

Fundado em 1989 e figura constante na elite do futebol brasileiro nos anos 90 e início dos anos 2000, o Paraná Clube vai disputar a Série D pela primeira vez em 2022. O Tricolor jogou a Série A de 2018, mas viu a crise – que já existia – se aprofundar e sofreu três rebaixamentos em apenas quatro anos.

A crise financeira é o principal motivo, mas essa queda livre tem outras explicações. Entenda abaixo:

Crise financeira
O Paraná sofreu com a péssima gestão de diversas diretorias nos últimos anos. Com isso, o clube atrasou salários, viu jogadores (inclusive promessas da base) saírem de graça e perdeu ações na Justiça. Durante muito tempo, o Tricolor “superou” esses problemas extracampo, disputou a Série B por 10 anos seguidos (de 2008 a 2017) e até chegou à elite em 2018.

Mas a bola de neve – formada por anos e anos, vale lembrar – custou caro. Nos últimos anos, o Paraná teve poucos recursos para investir no futebol, o que culminou com a queda para a Série B em 2018, para a Série C na temporada 2020 (que terminou em 2021) e para a Série D agora.

O último balanço, divulgado em maio, registrou um déficit de R$ 20 milhões em 2020. Com isso, a dívida ultrapassou os R$ 140 milhões.

Planejamento zero
Por conta dessa crise financeira, o Paraná Clube contratava dezenas de jogadores e até de técnicos por um baixo preço a cada temporada. Vários deles não deram o resultado esperado. Com isso, o Tricolor sofreu um rodízio de jogadores e de técnicos nos últimos anos.

Somente em 2021 foram 39 contratações e 30 saídas – 24 baixas foram de contratações para a temporada. (veja a lista)

Do time que estreou na temporada de 2021, na derrota por 1 a 0 para o Cianorte, o único que segue no clube é o atacante Hugo Sanches – que se machucou ainda em março e não jogou mais. Na beira do gramado, o Tricolor teve Maurílio Silva, Sílvio Criciúma e Jorge Ferreira.

Rodízio até de presidentes

As mudanças tornaram-se comuns não só dentro de campo e no banco de reservas, mas até na diretoria.

então presidente Leonardo Oliveira, por exemplo, renunciou pouco antes do rebaixamento para a Série C. Sergio Molletta entrou interinamente, mas pediu licença para se tratar de Covid-19, abrindo espaço para Luiz Carlos Casagrande, o Casinha, assumir a presidência por ser o primeiro vice-presidente. Por fim, Rubens Ferreira ganhou as eleições e tomou posse na última semana.

Nos últimos 10 anos, o Paraná teve sete presidentes diferentes. Ou seja, cada mandato durou – em média – menos de dois anos: Aquilino Romani (2010-11), Aramis Tissot (2011-12), Rubens Bohlen (2013-15), Leonardo Oliveira (2016-2021), Sérgio Molletta (2021), Luiz Carlos Casagrande (2015 e 2021, interino) e Rubens Ferreira (2021).

Estrutura, da riqueza ao abandono

O Paraná tinha uma estrutura invejável nos anos 90, com a Vila Capanema e a Vila Olímpica (sim, dois estádios com capacidades superiores a 10 mil), além das sub-sedes da Kennedy e do Tarumã. O Tricolor era referência como um clube de futebol e como um clube social.

As más gestões, porém, custaram caro. A Vila Olímpica, praticamente abandonada, é usada apenas para jogos e treinos da base. A sede do Tarumã foi leiloada por “apenas” R$ 30 milhões em 2013, o mesmo destino para a sede do Boqueirão, por R$ 7 milhões, que está em discussão judicial.

Já a sub-sede da Kennedy deve ir a leilão por conta da dívida de R$ 35 milhões com o Bacen – o clube alega que o terreno não pode ser vendido ou leiloado. O CT Ninho da Gralha foi perdido para um ex-mecenas por uma dívida de R$ 28 milhões – o clube pode usar o local, de graça, apenas até 2023.

2021, a gota d’água

A temporada atual representou um “resumo” de todos os erros cometidos nos últimos anos, com rodízio de jogadores, técnicos e presidentes. O Paraná Clube contratou quase 40 jogadores, mas 25 deles nem estão mais no clube, como o goleiro Renan, o lateral-direito Alex Murici e o meia Maxi Rodríguez.

A diretoria tricolor, então, fechou uma parceria com a FDA Sports. A empresa prometia investir R$ 2,9 milhões em 2021, divididos em sete parcelas de pouco mais de R$ 400 mil. Após uma longa novela, porém, a parceria se encerrou e o Paraná ficou sem receber a maior parte do valor. Sem recursos, o Paraná conquistou apenas três vitórias em 16 jogos e caiu após a vitória do São José-RS sobre o Oeste.

Sensação nos anos 90 e presente na Série A de 2018, o Paraná tentará se reconstruir a partir da Série D de 2022.

Paraná Clube ano a ano

  • 1990 – Série C
  • 1991 – Série B
  • 1992 – Série B
  • 1993 – Série A
  • 1994 – Série A
  • 1995 – Série A
  • 1996 – Série A
  • 1997 – Série A
  • 1998 – Série A
  • 1999 – Série A
  • 2000 – Módulo Amarelo (formado por times das Séries B e C)
  • 2001 – Série A
  • 2002 – Série A
  • 2003 – Série A
  • 2004 – Série A
  • 2005 – Série A
  • 2006 – Série A
  • 2007 – Série A
  • 2008 – Série B
  • 2009 – Série B
  • 2010 – Série B
  • 2011 – Série B
  • 2012 – Série B
  • 2013 – Série B
  • 2014 – Série B
  • 2015 – Série B
  • 2016 – Série B
  • 2017 – Série B
  • 2018 – Série A
  • 2019 – Série B
  • 2020 – Série B
  • 2021 – Série C
  • 2022 – Série D
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