Desmatamento no Sul do Amazonas provoca aumento no número de queimadas no estado

O solo desmatado e seco, preparado para o cultivo de gado, no Sul do Amazonas, é um dos principais fatores do aumento de queimadas no estado. Isso porque a substituição da floresta por pastagens faz com que as folhas e as poucas árvores que restam nessa região diminuam o fenômeno da evapotranspiração, ou seja, o vapor de água que sobe para a atmosfera é menor. Com a diminuição de água, o solo fica mais seco e mais propício a pegar fogo.

É o que explica o especialista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Antônio Manzi.

“Quando você tem a floresta sendo substituída por outro tipo de atividade, como a agrícola, o solo fica mais seco e mais sujeito a pegar fogo. Numa pastagem, em um período mais seco, nessas regiões, começa a faltar água para as plantas, as folha secam, a parte superficial do solo também fica mais seca, então você passa a ter mais material combustível e condições de umidade relativa mais baixa, o que facilita o aumento de queimadas”.

Além disso, a radiação do sol na floresta também é uma das causas de aumento no número de queimadas. Mas isso também é um reflexo do desmatamento, provocado pela ação humana.

“Você vai na floresta e começa a fazer cortes seletivos, vai retirando partes da floresta, degradando, e com isso chega mais radiação do sol no chão. Na floresta natural chega muito pouca radiação do sol na superfície, já que ela tem mais contato com a copa das árvores. Então quando se começa a degradar, chegar mais radiação do sol no chão, o ambiente fica mais seco e mais propício à queimadas”.

Fogo consome terras recentemente desmatadas e queimadas por pecuaristas na Amazônia, na região Norte do Brasil. — Foto: Andre Penner/AP

Fogo consome terras recentemente desmatadas e queimadas por pecuaristas na Amazônia, na região Norte do Brasil. — Foto: Andre Penner/AP

No entanto, a situação não é assim em toda a Amazônia. Em áreas onde há a conservação da vegetação, os focos de calor podem até ocorrer, mas rapidamente são suprimidos pela própria floresta, que consegue, com recursos próprios, se manter intacta.

“Se você, por exemplo, pegar um galão de gasolina e tacar fogo em um ramal ali próximo da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, você vai queimar as folhas, os galhos que estão molhados de gasolina vão pegar fogo. Mas esse fogo não vai se alastrar. O fogo não vai percorrer mais que dezenas de centímetros e vai se apagar, mesmo agora no verão. A floresta consegue retirar água bastante profunda do solo. Há um reservatório muito grande de água nela. Mas quando você vai numa área de pastagem não é assim”, explicou.

O aumento do desmatamento e, consequentemente, das queimadas, também pode levar a uma diminuição do volume de chuvas na região.

“Mais da metade da chuva volta para a atmosfera pela evapotranspiração, que é como uma evaporação do solo. A planta libera água para a atmosfera também. Nessas culturas de pastagens, por terem menos folhas, por terem raízes menos profundas, diminui a quantidade de vapor de água da chuva que volta para a atmosfera e isso leva à diminuição de chuvas ” 

Na foto, membro da brigada de incêndio do Ibama tenta controlar as chamas em um ponto de queimada em Apuí, no Amazonas, no dia 11 de agosto. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Na foto, membro da brigada de incêndio do Ibama tenta controlar as chamas em um ponto de queimada em Apuí, no Amazonas, no dia 11 de agosto. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Para combater isso, são necessárias políticas públicas de controle e fiscalização das áreas onde ocorrem a maior incidência dos casos de desmatamento e queimadas. No Amazonas, municípios como Lábrea e a Apuí, na fronteira com os estados de Rondônia e Mato Grosso estão na lista dos que mais desmatam e queimam a floresta. A área tem forte presença da pecuária.

O Amazonas, inclusive, concentra o maior número de queimadas em agosto, em toda a Amazônia, desde o ano 2000. Segundo dados do Inpe, foram 8.588 focos, o que representa 30% do total de queimadas na região. Lábrea, que fica na fronteira com Rondônia, é o que concentra mais focos de calor em toda a Amazônia Legal em 2021. Segundo o Inpe, até o dia 31 de agosto, foram 2.535.

No entanto, o aumento gradativo nos números de desmatamento e queimadas, levou o pesquisador a crer que o desmonte de instituições de controle da Amazônia piorou ainda mais o cenário que já era catastrófico para essa e para as futuras gerações.

“Quando um governo que começa a desmontar áreas de controle e fiscalização, aquelas pessoas ou grupos que tem interesse em se apoderar dessas áreas para se tornar proprietário, esse pessoal se sente à vontade para agir, e com isso aumentam os desmatamentos. E aí aumentam os desmatamentos e consequentemente as queimadas”.

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