Indígenas recebem aulas de pilotagem de drone para ajudar no monitoramento de terras

Indígenas de cinco etnias de Rondônia participam de aulas de pilotagem de drone para auxiliar no monitoramento territorial.

O curso é ofertado pela Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, em Porto Velho.

Segundo o coordenador-geral da associação, Israel Vale, participam do curso indígenas de: Cacoal, Ji-Paraná, Guajará-Mirim, Ariquemes e indígenas convidados do sul do Amazonas.

Os participantes recebem aulas com noções básicas sobre o manuseio dos equipamentos para pilotagem de drones, além da explicação sobre aplicativos de monitoramento que permitem fazer medições diárias e processamento de imagens, explicou o coordenador e professor do curso.

De acordo com Israel, o intuito da capacitação é fazer com que os próprios indígenas registrem ilícitos ambientais como invasões, queimadas, garimpo ilegal e roubo de madeira.

Indígenas recebem aulas de pilotagem de drone para monitorar próprias terras — Foto: Pi Suruí

Indígenas recebem aulas de pilotagem de drone para monitorar próprias terras — Foto: Pi Suruí

Na última segunda-feira (13), indígenas das etnias Gavião, Arara e Paiter Suruí concluíram o curso. No dia 16, indígenas Wari e Uru-Eu-Wau-Wau darão início nas atividades.

Monitoramento de terras

Desde 2020, o drone se tornou um instrumento importante no monitoramento da terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Em meados de julho, a ONG WWF doou o equipamento, treinou os indígenas e em quatro dias, as imagens aéreas ajudaram a identificar 15 áreas novas de desmatamento.

Após a capacitação, um grupo encontrou um invasor enquanto fazia o monitoramento de suas terras. Cerca de 23 indígenas já haviam recebido o treinamento da ONG Kanindé para saber como agir durante as incursões na floresta e chamaram a polícia.

Na ocasião, a Polícia Militar prendeu em flagrante o invasor por entrar na terra indígena sem autorização.

Portões de acesso à comunidade Uru-Eu-Wau-Wau trancados devido à pandemia — Foto: Equipe de Autodocumentação Uru-eu-wau-wau

Portões de acesso à comunidade Uru-Eu-Wau-Wau trancados devido à pandemia — Foto: Equipe de Autodocumentação Uru-eu-wau-wau

Registro da história

Para o jovem líder do povo Uru-Eu-Wau-Wau, Bitate, de 20 anos, além de ajudar nas fiscalizações, o uso de drones fortalece as tradições dos povos.

“O uso de drones fortalece o trabalho que a gente vem fazendo dentro do nosso território, principalmente no fortalecimento da cultura e das áreas tradicionais de cada povo. A gente consegue fazer várias festas culturais e é um momento que a gente consegue registrar”, explicou Bitate.

Segundo o coordenador-geral da Kanindé, os drones também podem ser usados para registrar as belezas naturais das terras indígenas.

“Eles também podem estar registrando as belezas cênicas das terras indígenas e a cultura deles, utilizando essa ferramenta que dá um outro olhar, uma perspectiva diferente, quando você vê a vista de cima”, explicou.

Indígena Uru-eu-wau-wau durante pesca — Foto: Equipe de Autodocumentação Uru-eu-wau-wau

Indígena Uru-eu-wau-wau durante pesca — Foto: Equipe de Autodocumentação Uru-eu-wau-wau

Fotografia em terras indígenas

O líder Bitate criou uma equipe de autodocumentação no período em que o seu povo ficou isolado durante a pandemia. Através dessa autodocumentação, momentos tradicionais, festas e elementos da cultura do povo são registrados e guardados.

Para ele, o registro em imagens, além de fortalecer a cultura e as tradições de cada povo, também auxilia na confirmação e localização de ilícitos ambientais.

“A fotografia ajuda bastante a gente na hora de fazer a denúncia. É uma segurança a mais que a gente tem quando fazemos as denúncias. Por exemplo, teve uma invasão ali, a gente vai e denuncia verbalmente e os órgãos falam ‘não achei’, e a fotografia nos deu uma força muito grande nessa questão. Temos uma prova concreta para que a gente possa fazer as denúncias”, explicou.
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