Construção de ponte em Xapuri faz de Gladson um ‘ídolo’ na terra que é berço do sindicalismo

Popular em todas as regiões do Acre e um dos governadores de estado mais bem avaliados do país, sempre com mais de 80% de aceitação, o governador Gladson Cameli, que deve ser candidato à reeleição em 2022, está alcançando índices de unanimidade em Sibéria, distrito situado à margem esquerda do Rio Acre, em Xapuri.

O município é o que se pode chamar de berço do sindicalismo político de resultado e que criaria profundas raízes, verdadeira simbiose, com o chamado lulopetismo do Partido dos Trabalhadores (PT), de onde emergiram lideranças políticas como o sindicalista Chico Mendes, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, além dos irmãos Jorge e Tião Viana, ex-governadores e ex-senadores pelo Acre, que deram sustentação à ideologia e ao próprio ex-presidente Lula, uma figura também carimbada na região por tantas viagens feitas até ali e com visitas à muitas pessoas, as quais passaram a expor várias fotografias do ex-presidente em lugar de destaque das casas como registro da passagem por ali de tão ilustre visitante.

É o caso do comerciante João Mendes, o conhecido “João Garrinha”, filiado ao PT desde 1986, amigo dos chamados petistas de alto coturno, que vão de Jorge e Tião Viana, de Lula a Eduardo Suplicy – este último ex-senador e atual vereador por São Paulo, que também passaram por ali. Dono da Pousada Chapury, o xapuriense “João Garrinha”, de 74 anos, mesmo afirmando que não gosta mais de falar de política e mantendo-se fiel aos amigos e aos princípios petistas, exibe tais fotografias com indisfarçável orgulho.

Mas, apesar da popularidade dos petistas entre a população, por aqui, na cidade e até a zona rural (embora as marcas do petismo ainda sejam fortes – tão forte que a cidade é administrada por prefeito do PT, Bira Vasconcelos, que está no terceiro mandato), já são claros os sinais de que os tempos começam a mudar e que a grande liderança política do lugar não tem mais a ver com a ideologia da estrela vermelha e que agora tem nome incomum na região: Gladson Cameli.

“Este menino não é besta não. Ele sabe dizer aquilo que a população quer ouvir”, define “João Garrinha”, aquele das fotografias dos petistas graduados coladas às paredes de seu restaurante (inativo desde o início da pandemia e sem previsão de retorno; “eu e minha mulher já estamos velhos e cansados”, justifica João).

“O povo tem pressa”, disse o governador em sua última visita a cidade, em 16 de outubro, como estivesse dando razão ao que disse João Garrinha. Gladson Cameli esteve ali para anunciar obras, num pacote superior a R$ 50 milhões, incluindo o asfaltamento da Variante, a estrada velha de Xapuri que dá acesso à BR-317 e que deverá ser construída com recursos – superiores a R$ 25 milhões – obtidos através de emendas ao OGU (Orçamento geral da União) de autoria do senador Márcio Bittar, aliado de primeira hora do governador e um dos fiadores de sua campanha à reeleição.

Mas, entre as obras mais importantes, uma delas soa como melodia aos ouvidos dos moradores de Xapuri: a construção de uma ponte sobre o Rio Acre, que ali se mistura com as águas também barrentas do Rio Xapuri, seu tributário, ligando a cidade ao distrito de Sibéria, uma região onde reside, em números estimados pela associação de moradores da localidade, mais de mil famílias, algo como 47% da população xapuriense, próximo a 20 mil pessoas segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia), de 2010. Gente que atravessa o rio de forma precária em catraias e outros pequenos barcos e, no caso de travessia com veículos, numa balsa que, de tão velha, parece pedir socorro, como veremos mais adiante.

O governador acreano caiu nas graças da população xapuriense ao fazer algo bem diferente daquilo que outros governadores e outras autoridades, em mais de 70 anos de reivindicação da população, sempre fizeram: promessas de construção da ponte. Gladson Cameli foi além do prometido e, inclusive, lançou o edital para a realização da licitação em busca das empresas vencedoras do processo com as quais o Governo do Estado, por meio do Deracre (Departamento de Estradas e Rodagens do Acre), autarquia responsável pela obra, deve assinar os contratos e a ordem de serviço para a sonhada construção da ponte.

É assim que avalia o comportamento do governador em relação à obra o professor de filosofia João Jorge Cosmo da Silva, de 55 anos de idade, que foi presidente da Associação de Moradores da Sibéria por mais de 20 anos. Para ele, Gladson Cameli passou a ser respeitado pela população local porque, ao contrário de outros governadores, inclusive dos petistas, foi além das promessas. “Penso que ele adquiriu nosso respeito ao mostrar que desta vez a ponte sai porque ele fez três coisas fundamentais para qualquer obra: elaboração de projeto, inclusive com o preço e com prazos de gastos, uma localização definida e o processo de licitação. Isso é demonstração e atitude quem não está de brincadeira”, disse João Jorge.

João Jorge acredita que se Gladson cumprir a promessa ganhará todos os votos em Xapuri/Foto: ContilNet

Para o ex-dirigente comunitário, que diz não ter filiação nem compromisso partidário com nenhuma corrente política, a atitude do governador é bem diferente dos demais políticos aos quais a Associação de Moradores têm recorrido há mais de três décadas, incluindo dois presidentes da República, o de figura carimbada no lugar, Luis Inácio Lula da Silva, e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o FHC, que também esteve em Xapuri em 1999.

“O FHC, numa visita que ele fez ao Seringal Cachoeira, nos recebeu e a ele entregamos um abaixo assinado com milhares de assinaturas com o pedido de construção da ponte. Ele recebeu, botou os documentos nas mãos de um assessor, disse que iria analisar e não nos deu respostas. O mesmo fez o Lula: nós entregamos a ele outro abaixo assinado com o mesmo pedido e ele nos disse que a ponte sairia antes do final de seu primeiro mandato. Também não fez”, queixa-se João Jorge.

Por agir de forma diferente, de acordo com o professor, se a ponte sair desta vez, Gladson Cameli, se for candidato à reeleição, leva todos os votos do lugar. “O Bolsonaro eu não posso afirmar, mas se essa ponte sair, o Gladson vai ser reeleito com todos os votos da nossa gente”, disse João Jorge.

Enquanto a ponte não sai, a população xapuriense, principalmente a de Sibéria, que depende de atividades e negócios do núcleo urbano de Xapuri, do outro lado do rio, se vira como pode. O principal meio de travessia é uma balsa velha de aparência monstruosa e que não inspira confiança, apesar do ronco do motor de caminhão Mercedes Benz, que toca o rebocador que a empurra de um lado para outro do rio, diariamente, apinhada de carros, motos, bicicletas e muita gente a pé.

A balsa funciona, apesar dos riscos aparentes, inclusive à noite, das 54h30min às 22h30, todos os dias, faça chuva ou faça sol, em feriados e dias santos, com o consumo diário de pelo menos 55 litros de óleo diesel e o trabalho de 18 operadores que comandam o vai e vem da embarcação de ferro e aparência duvidosa.

O encarregado da balsa é o funcionário público Eriedson Soares, servidor do Deracre, de 46 anos de idade, casado e pai de três filhos, que trabalha há três anos naquele vai e vem sobre as águas barrentas do Rio Acre e muitos riscos. Ele diz que a balsa, de vez em quando, encalha e é preciso botar sempre mais força no motor para escapar das armadilhas. O problema é que o aumento de força no velho motor, força a barra e a máquina pode quebrar. Quando isso acontece, e já aconteceu, o risco é de a balsa afundar ou descer rio abaixo, de “bubuia”, nome que se dá às embarcações que descem o rio ao saber da correnteza. Felizmente, num dia em que o motor da balsa falhou, ela desceu um pouco, mas o motor foi consertado a tempo de trazê-la para o ponto de embarque e desembarque.

Para se ter ideia da importância da geringonça que faz a travessia do rio por ali, de acordo com números exibidos por Eriedson Soares, num único dia de movimento na travessia, por ali passaram 2.232 pedestres, 206 carros populares, do tipo passeio, 522 quadriciclos, 800 motos, 180 bicicletas e 76 carros pesados, de carga. “Muita coisa, não?”, pergunta Eriedson Soares.

Muita coisa, sim, Eriedson. Que o diga o trabalhador braçal José Raimundo Xavier, de 50 anos. Morador do Seringal Florestam, 16 quilômetros do centro do Distrito de Sibéria, ele trabalhava normalmente no roçado nesta quarta-feira (27), quando, de repente, sentiu-se tonto, passou mal e desmaiou. Foi um deus-nos-acuda no lugar, onde não há médicos tampouco posto de saúde. A única saída é a cidade. Mas como? Felizmente, através de um rádio de um servidor do ICMBIO, sigla do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, uma autarquia especial do governo federal, os familiares conseguiram entrar em contato com o Corpo de Bombeiros em Xapuri e imediatamente uma viatura foi acionada para ir ao local, com os primeiros socorros.

José Raimundo, mesmo debilitado, gritou “Viva Gladson”/Foto: ContilNet

Mas havia outro entrave: a balsa, sempre carregada e concorrida, cujo embarque ali é por ordem de chegada. Os bombeiros pediram prioridade e, 40 minutos depois, lá estavam de volta com José Raimundo Xavier, já restabelecido, a caminho do hospital para a realização de exames em busca da descoberta do que lhe aconteceu no roçado. Embora ainda muito abatido, ao saber que já há um projeto concreto de construção da ponte, o trabalhador braçal, ainda de dentro do carro do Corpo de Bombeiros, teve forças para gritar:
-Viva o Gladson!
Viva! – gritaram os pedestres e motoristas que esperavam o velho da balsa roncar para mais uma travessia.
Viva!

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