A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) foi eleita no mês passado presidente do diretório do PSOL-RS. Como uma das primeiras condutas frente à legenda, ela decidiu prestigiar núcleos regionais no interior do Estado. Um dos objetivos é acompanhar o fortalecimento dos diretórios e, sobretudo, reforçar como lema a unificação das alas.
A união é um termo chave para a reorganização do partido, inclusive em Caxias do Sul, que elegeu recentemente a sindicalista Karina dos Santos como nova presidente. Sempre com participações discretas nas eleições locais, o PSOL caxiense busca, de certa forma, o ressurgimento. E tem em Luciana Genro um apoio de relevância.
Deputada estadual mandatária, com experiência de mais de 30 anos na vida política, inclusive concorrendo à Presidência da República em 2018, Luciana foi uma das fundadoras do PSOL em 2004, partido criado por dissidentes do PT, descontentes com a política econômica anunciada por Luiz Inácio Lula da Silva ao assumir o Executivo em 2003.
Dezoito anos depois, as divergências com o PT ainda se constituem parte da ideologia basilar do próprio PSOL, que se apresenta como um “outro caminho” da esquerda.
Apesar das críticas, no entanto, Luciana admite que o apoio ao partido é uma possibilidade para o eventual segundo turno da eleição para presidente do ano que vem.
Postura diferente da manifestada pelo PSOL em 2014, quando negou apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT) então disputando o segundo turno com Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial. Isso porque, nas palavras de Luciana, o PSOL está disposto a se unir “com quem quer que seja para derrotar o (presidente Jair) Bolsonaro”.
Em cumprimento de agenda em Caxias na última sexta-feira, Luciana falou com o Pioneiro sobre como projeta o partido para as eleições do próximo ano e reiterou a luta por impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Confira:
Parece bastante envolvida com o diretório municipal desde a posse da nova presidente. Acha que é um momento oportuno de o partido ressurgir no município?
Com certeza. Primeiro que eu assumi a presidência estadual do partido, então estou começando por Caxias uma recorrida que vou fazer por diversas cidades do Estado onde temos diretórios do PSOL que têm potencial de desenvolvimento, tanto para as eleições quanto para crescimento partidário também, não só pensando nas eleições de 2022 como também na inserção social do partido. Aqui em Caxias, temos um partido crescendo bastante, temos uma intervenção importante no sindicato dos municipários, através da Karina, que é nossa presidente (do PSOL Caxias) que foi eleita agora. Também recebendo uma leva de novos filiados que vieram do PDT. A gente quer fortalecer, ajudar o partido a crescer e fortalecer as lideranças que estão surgindo.
O discurso do PSOL caxiense é pela unificação do partido. A divisão é um problema de fato que você nota em outros núcleos regionais?
Tivemos o congresso estadual, que foi há três semanas, e elegemos uma nova direção com percentual bem significativo, tivemos 57% dos votos e uma ótima relação com as demais chapas que se apresentaram. Estamos, inclusive, todos unidos com a nacional para que o PSOL tenha candidatura própria à Presidência em 2022. Tem um clima bom no partido, a imensa maioria está unificada e isso vai se refletir em Caxias.
Pretende concorrer à reeleição no próximo ano?
Sim, devo ser candidata novamente a deputada estadual.
E Caxias terá candidatos a estadual e federal?
O diretório que decidirá, mas já temos pessoas que se colocaram à disposição de concorrer.
A cada quatro anos, alguns partidos ressurgem com o discurso de “frente ampla de esquerda”. Acredita ser viável?
Defendemos unidade de ação com todo mundo que queira derrotar o Bolsonaro. Nessa luta contra Bolsonaro, a nossa aliança é ampla e irrestrita. Estando contra o Bolsonaro estamos juntos. Mas, nas eleições, a gente entende que o partido precisa apresentar o seu programa, mesmo que não tenha chance imediata de vencer as eleições é importante apresentar o nosso programa e fortalecer as nossas bandeiras. Então, nosso plano no Rio Grande do Sul é ter candidato próprio a governador. Isso já foi definido. E buscar diálogo com partidos que estejam dispostos a estar conosco a partir de nossa candidatura. Mas não vemos possibilidade de frente ampla como o PT propõe, juntando todo mundo e com eles encabeçando. O nosso programa não é o mesmo do PT, claro que no segundo turno a gente se une contra os candidatos de direita, mas, no primeiro turno, vamos apresentar candidatura.
Por que a direita prosperou na última eleição? Onde foi que a esquerda falhou? Qual sua leitura?
A velha esquerda representada pelo PT fracassou no governo. Nós rompemos com o PT no auge do lulismo, da popularidade do Lula. E rompemos porque nós estávamos vendo que o PT estava desviando do seu programa e estava começando a aplicar os mesmos modelos, tanto na economia quanto na política, dos partidos tradicionais. Isso desembocou numa crise econômica brutal e também na corrupção, no toma lá dá cá, nos mesmos moldes da política tradicional. Por isso não quisemos estar com o PT no governo, fundamos no PSOL, para tentar superar o PT pela esquerda, mas não conseguimos. Isso também é um balanço a ser feito: onde o PSOL errou para não ter conseguido capitalizar o descontentamento com o PT pela esquerda e quem conseguiu fazer isso foi a extrema direita com o Bolsonaro. É um balanço que temos feito dentro do partido.
O apoio ao PT num segundo turno pode existir ainda assim?
A gente debate a necessidade de termos candidatura própria em 2022, mas que se declare desde logo que, no segundo turno, nos uniremos com quem quer que seja para derrotar o Bolsonaro. Mas, no primeiro turno, temos de apresentar nosso programa, nossas bandeiras, a nossa cara, que não é a mesma do PT, nosso programa não é o mesmo, o modelo de governo não é o mesmo. A gente precisa afirmar claramente para poder se diferenciar e capitalizar pela esquerda esse descontentamento que existia pelo PT naquele momento. Agora é claro que as pessoas estão apavoradas com o Bolsonaro e querem se livrar dele da forma que for. Obviamente que, no segundo turno, estaremos juntos com a candidatura que terá condições de derrotar Bolsonaro, se não conseguirmos tirar ele antes, pois nossa meta é seguir pela luta pelo impeachment e não esperar a eleição de 2022.
Quando você diz que estão dispostos a se unir com qualquer um para derrotar Bolsonaro, isso significa também apoiar um candidato de direita que divirja bastante da visão da esquerda?
Obviamente que a gente tem de avaliar dentro da situação concreta, mas chamar o voto no segundo turno não significa confiar no candidato e muito menos participar do governo desse candidato. Mesmo chamando, por exemplo, o voto no Lula, que é um candidato de um partido que se reivindica de esquerda, nós defendemos que o PSOL não deveria compor o governo do Lula. Então, é diferente você chamar o voto para derrotar um mal maior, que é o Bolsonaro, do que fazer aliança onde vamos compor governo. Compor governo tanto do Lula quanto de um partido de direita é equivocado. Agora chamar o voto para derrotar Bolsonaro no segundo turno é possível se chamar até mesmo para um candidato da direita tradicional que defenda minimamente as liberdades democráticas e os direitos humanos que o Bolsonaro não defende. Mas obviamente que, num cenário dramático, a gente poderia ter dois candidatos terríveis no segundo turno, digamos dois que declarassem apoio à tortura, à ditadura, violação de direitos humanos. Aí não teríamos condições de chamar voto para nenhum deles, mas não vejo esse cenário, vejo que se o Bolsonaro não cair antes, ele vai para o segundo turno com o Lula e aí nós vamos, claro, chamar o voto no Lula, mas defender que o PSOL não seja deste governo. Já rompemos com o governo em 2003, não tem por que voltarmos num relacionamento que não deu certo.
O objetivo máximo, então, das eleições do ano que vem é se livrar do Bolsonaro?
O objetivo máximo do ano que vem é tirar Bolsonaro, mas não é só para o ano que vem, está em curso essa luta.