O governador Gladson Cameli participou de uma mesa redonda com representantes de religiões ligadas ao culto da ayahuasca, no Teatro Hélio Melo, em Rio Branco, na noite de quarta, 24. Os debatedores, jornalista Toinho Alves, procurador do Ministério Público Cosmo Lima e o escritor Edson Lodi destacaram a importância dessas religiões para a formação social do Acre.
Chamado para abrir o evento, o governador Gladson Cameli deu um depoimento sobre a sua própria experiência com a ayahuasca durante a visita que fez a uma aldeia indígena no Acre.
“A espiritualidade nos mostra que somos todos iguais. Através do uso correto da ayahuasca a gente aprende muito e muda algumas concepções. Com luz, paz e amor é possível atravessarmos dificuldades, como as que passamos recentemente com a pandemia da Covid-19. Teve um momento, no ano passado, que estive numa aldeia porque precisava refletir sobre tudo o que estava acontecendo e o que ainda faltava eu fazer para ajudar a população. Tomei o chá de ayahuasca e nunca me senti tão bem. Essa experiência me deu forças e sabedoria para tomar decisões importantes para preservar a vida de pessoas naquele momento de aflição”, destacou o governador.
Gladson ainda declarou que a formação dessas religiões ayahuasqueiras se confundem com a própria história do Acre.
“Para nós, acreanos, é um orgulho sermos reconhecidos como o berço dessas tradições que tantas bem-aventuranças têm trazido para a humanidade. A verdade é que essa bebida sagrada curou corpos e iluminou uma infinidade de almas sofridas. Então não é possível traduzir em palavras a nossa gratidão por esse conhecimento que tem ajudado tantas pessoas no Brasil e no exterior”, salientou Gladson.
O jornalista Toinho Alves, orador da Igreja do Daime do Alto Santo, comentou as palavras do governador.
“Esse foi um momento especial do jovem governador Gladson Cameli que demonstra o seu valor como pessoa sendo sincero aos seus sentimentos e transcendendo a importância do cargo que ocupa. O governador nos brindou com um depoimento testemunhando a importância da ayahuasca nas nossas vidas através do seu poder transformador na sociedade acreana e no mundo inteiro”, disse Toinho.
Cosmo Lima destacou que as religiões surgidas desse conhecimento ancestral da ayahuasca são genuinamente brasileiras. Para ele o Acre deve se orgulhar de ter uma lei para preservar a memória cultural das histórias do Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha.
“Temos muito a comemorar porque o Acre é o único estado do Brasil que criou um dia especial para reconhecer as tradições religiosas que fazem uso dessa bebida psicoativa conhecida como ayahuasca. Os indígenas da Amazônia a utilizam historicamente desde tempos imemoráveis, mas atualmente temos essa prática também como manifestação religiosa doutrinária de uso urbano e isso começou no Acre”, refletiu Cosmo.
Para o procurador, que é membro do Santo Daime, a importância espiritual e cultural das linhas ayahuasqueiras para o Acre transcende as suas fronteiras.
“A maioria das nossas principais religiões foram impostas pelos nossos colonizadores. E no Acre nasceu uma religião vinda do interior da floresta através de um grupo de caboclos que conheceram essa bebida com os índios. Esse ensinamentos com base florestal atraem pessoas do planeta inteiro para o nosso estado. É impossível se falar em Acre sem lembrar que existem aqui religiões baseadas nessa bebida. Assim a história da legitimação e o reconhecimento do uso da ayahuasca está diretamente associada ao fato de que o governo realizou todo um processo de pesquisa e estudo para comprovar os benefícios sociais dessa bebida permitindo o seu uso dentro de uma prática religiosa”, ponderou.
O jornalista e escritor Edson Lodi, de Brasília, ligado à União do Vegetal, que veio ao Acre para lançar o seu livro “Eu Vi a Lua – História de Mulheres Ayahuasqueiras” manifestou a sua gratidão.
“A ayahuasca cria uma corrente de luz e de paz que nos faz mais humanos e mais simples. Por isso, é uma alegria podermos celebrar os 30 anos da nossa Carta de Princípios para o uso religioso dessa bebida sagrada. Tenho muito a agradecer ao Acre por ter ter gestado esse conhecimento que se espalhou para toda a humanidade”, afirmou o escritor.