A morte sempre está aí à nossa espreita.
E antes das minhas filhas nascerem ela não me apavorava tanto. Já vi ela de perto. Quando uma bala perdida me atingiu em frente a faculdade, aos 19 anos. Sobrevivi. Ela não atravessou minha cabeça. E desde então eu vivia o mantra ‘um dia por vez’.
Até que vieram os filhos. Filhos são vida. Potência. Escancaram nossas fragilidades e trazem a tona nosso medo da morte.
E se eu faltar? O que vai ser delas? O que vai ficar de mim?
Com a morte da Marília Mendonça toda mãe pensou um pouco nisso. A gente batalha pra dar o nosso melhor pra eles. Pra realizar nossos sonhos e levar comida pra mesa. E a vida está sempre por um fio.
Hoje levei minhas filhas a pé para a escola e falamos sobre nossos medos. Elas também sentem medo. A mais velha disse que tinha medo todo dia. Ficava ansiosa com o novo. Com o que ia acontecer na escola. A mais nova disse que esse medo passou. Agora a rotina está mais previsível, mas vai receber uma amiga em casa. E está com medo da menina não gostar das brincadeiras que ela pensou.
Já evitei tanta coisa com medo de não ser capaz. Já evitei tanta vida com medo de morrer. E essa vida vai indo. O tempo não para nunca. E eu me pergunto dentre tantos questionamentos se estou deixando um mundo melhor para elas quando reciclo o lixo e faço o básico. Quando escrevo algo legal, quando invisto em livros para lerem e tentarem entender melhor o mundo e todas as questões que nos rodeiam.
Estamos todos aqui em busca de aprendizado. Um dia por vez. E cada dia a gente aprende um pouco mais com eles.
Elas enfrentam esse medo do desconhecido quando vão à escola. Eu quando faço algo novo. E assim, vamos nos modificando dia após dia. Assim, vamos vivendo. Mas tentando trazer algum sentido para nossa existência tão fugaz.
O que vai ficar de cada mãe? A única certeza é que deixamos um pedaço de nós: nossos filhos. Esses filhos que vamos deixar para o mundo. E aí a pergunta muda: que filhos vamos deixar para o mundo?
Muita complexidade para um dia só. Melhor fazer um café e pensar na rotina matinal. E torcer para a amiga da minha filha gostar das brincadeiras que ela inventou.
Como é bom ser criança e só viver o milagre da vida.