No próximo sábado, no UFC 269, em Las Vegas, o fã de MMA – em especial o público brasileiro – terá a oportunidade de ver em ação uma das maiores lutadoras de MMA de todos os tempos. Muitos já a colocam como a maior entre as maiores. Mas o fato é que devemos ver cada vez menos com tanta frequência Amanda Nunes dentro do octógono. Antes de enfrentar Julianna Peña em sua oitava defesa de cinturão na organização – desta vez no peso-galo (até 61,2kg) -, Amanda Nunes conversou com a reportagem do Esporte Espetacular e admitiu que pretende desacelerar o ritmo até parar de vez.
– Por já estar há um bom tempo como campeã, segurando dois cinturões – defendendo os dois também, um feito que ninguém nunca conseguiu fazer -, chega num limite que a gente já pensa em começar não a se aposentar, mas ir devagarzinho, não ter pressa para as próximas lutas, com uma luta por ano ou duas. Estou chegando aos 34 anos também, o corpo vai sentindo um pouco mais, e a gente não treina tanto quanto quando eu tinha 20 anos, toda hora é uma lesão. Mas, enquanto eu puder, vou continuar.
Antes de citar uma redução no ritmo de lutas, Amanda Nunes disse esperar uma sacudida na categoria, e dar a Julianna Peña a chance de lutar pelo cinturão já faz parte desse movimento. Ela espera novos nomes no peso-galo, até mesmo com adversárias vindas de outras organizações.
– Acho que nesse momento a gente tem que deixar o “mixing”. As meninas que estão brigando há um tempo, que não são top 10, que não são top 5, têm que ter oportunidade também. Não escolho nenhuma oponente e é claro que se tiver que lutar com Holly (Holm), com Germaine (de Randamie), seja com quem for, vou lutar, mas acho que o público quer ver algo novo. Tem que dar uma mexida na categoria mesmo, botar as meninas para se enfrentarem, e trazerem essas meninas que estão lá no fundo, para a gente trazer algo novo para o público, não ficar essa coisa estagnada como está (…). Estou sempre pronta para dar o que o púbico quer, que é um nocaute ou finalização, fazer aquela luta bem movimentada. Acho que o UFC realmente tem que dar uma sacudida na divisão, até buscar novos talentos e talvez trazer mais meninas de outros shows. Isso que a gente está esperando.
Mas se pensa em reduzir o ritmo, Amanda Nunes tem outro discurso sobre a aposentadoria, bem diferente daquele de 2019, quando esteve no UFC Fortaleza como convidada e previa parar pouco depois. Desde então, já foram quatro lutas e com a quinta muito próxima. Essa fase motivada atende pelo nome de Reagan e tem apenas 1 ano e 2 meses de vida.
– (O que me motiva) são as memórias que quero ter, principalmente pela minha filha, como fotos, vídeos, momentos na luta em que trago ela para o cage, para a pesagem, no backstage… Todos esses momentos quero ter para mostrar a ela quando já estiver entendendo tudo, quero mostrar que ela fez parte disso até quando estava na barriga. Acho que isso é o que me motiva mesmo, como levar ela para a academia todos os dias. Ela assiste meu treino e chega em casa e faz algumas coisas que faço no treino, foge o quadril, vai para o sofá e faz a levantada de wrestling, chuta a minha canela, chuta a canela de Nina (risos)… São coisas que são bem gratificantes. Claro que vou explicando para ela quando for crescendo que não pode fazer isso com os coleguinhas, mas você vê que ela já entende, que já tem uma certa inteligência para absorver essas coisas. Fico muito feliz que ela gosta. Quando ela chega na academia já começa a bater palma, fala com todo mundo. É bem gratificante, esses momentos que quero ter para ela.
Aos 33 anos, Amanda Nunes tem um cartel com 21 vitórias e apenas quatro derrotas. Ela não sabe o que é um revés dentro do cage desde 2014, quando foi nocauteada no UFC 178 por Cat Zingano. Depois disso, enfileirou vitórias contra Shayna Baszler, Sara McMann e Valentina Shevchenko, até enfrentar Miesha Tate em julho de 2016, no UFC 200. Um mata-leão na então campeã lhe rendeu o cinturão dos galos.
Como campeã, Amanda Nunes defendeu o mesmo cinturão contra Ronda Rousey, Valentina Shevchenko e Raquel Pennington. Foi então que subiu ao peso-pena (até 65,7kg) para desafiar a então campeã e compatriota Cris Cyborg. No UFC 232, Amanda atropelou Cyborg e nocauteou com apenas 51 segundos. Na sequência, retornou ao peso-galo e bateu Holly Holm e Germaine de Randamie. Amanda então subiu ao peso-pena de novo e defendeu o título contra Felicia Spencer e na sequência contra Megan Anderson. Ela se tornou a primeira lutadora no UFC – entre homens e mulheres – a defender simultaneamente dois cinturões.
– O cinturão não é um peso de maneira nenhuma para mim. É um sonho para mim, estou vivendo um sonho todos os dias. A minha vida depois que conquistei o cinturão se tornou um sonho, não se tornou um peso. Vivo esse momento e quero viver por muito tempo. Até eu me aposentar, esse é um momento que gosto de viver, que me sinto bem assim, essa adrenalina… Quando pensei em me aposentar, chegava em casa e pensava: “meu deus, preciso daquele feeling, não tenho como deixar esse feeling mudar agora, esse momento do backstage para a entrada no cage, da luta em si, o meu corpo precisa desse momento”. Meu corpo e minha mente ainda me pedem, então ainda sinto muita falta dessa adrenalina. Quando peguei o Covid-19 (em julho), fiquei triste porque ia sentir aquele feeling (em agosto, na primeira marcação da luta com Peña), e daí quando marcou para dezembro dei aquela respirada melhor. Está tudo pronto agora para chegar lá no dia e consolidar mais uma vez o que eu nasci para fazer.
Confira outros trechos da entrevista:
Volta ao peso-galo após dois anos
– Já estive lá várias vezes na minha carreira, meu corpo realmente já conhece o momento certo. É uma coisa até incrível, o corpo humano é excepcional. Quando começo a fazer qualquer tipo de dieta, o corpo já começa a responder bem. Até porque, não costumo comer muita coisa que não seja dentro da minha dieta. Se eu começar alguma coisa diferente, algo que vá me dar algumas calorias a mais, no outro dia já estou na academia perdendo. É mais tranquilo de lidar quando você tem um foco de treinamento correto, vai na academia direto, não deixa a peteca cair. Acho que isso tudo faz parte de o corpo estar saudável com a preparação física. Quando você entra na dieta, o exercício já estando junto, é mais fácil de perder. Quando boto a dieta mesmo legal, o meu peso sai muito rápido. Claro que para nós mulheres é um pouco mais difícil por conta do período (menstrual), programo tudo direitinho em cima disso, porque a gente ganha um pouco mais nessa época. Procuro fazer tudo certinho para chegar nesse momento e meio que dar um descanso para o corpo. Você sabe, naqueles dias a gente não quer fazer nada, a gente não quer que alguém nem fale com a gente. Têm aqueles dois, três dias ali que para ir na academia é um pouco mais difícil, mas mantenho o foco direitinho e consigo bater.
Período menstrual x treinamento
– Para a gente que tem que rolar com a pessoa, o rola do jiu-jítsu, você está em contato com outro corpo. Às vezes (digo): “Nina (Nunes, esposa), hoje não estou a fim de que ninguém nem toque em mim”. Aí a gente vai e faz outra coisa, uma corrida, um “pads”, ou qualquer outra coisa para justamente evitar esse contato. É complicado (risos). Mas meu corpo responde muito rápido a tudo, sou muito grata por isso também. E eu fico na minha suplementação também, mantenho isso direitinho, apesar de também não ser tão focada na dieta quando não tenho camp. Mas consigo manter um pouco, não como todos os dias mal, mas como o que eu gosto de vez em quando durante a semana. Mas quando o foco começa de dieta, consigo administrar direitinho.
Mudança alimentar para o peso-galo
– A minha mudança foi mais alimentar mesmo, porque sou uma pessoa movida a treino. Acordo e vou treinar, e se tiver que retornar mais tarde, retorno. Se não tiver que retornar, faço algo em casa também. Sempre estou na ativa. Por isso que digo que quando começo minha dieta é quando tudo muda, porque o exercício já está na minha alma. Botando a dieta, já foi, consigo descer rápido. Claro que boto um pouquinho mais de cardio também, à noite melhor ainda, porque você já dorme sequinha, o corpo ainda está trabalhando, ajuda o corpo a queimar um pouco mais rápido. Boto sempre um exercício à noite antes de dormir e me ajuda bem.
Nome de Julianna Peña aprovado
– Na minha divisão hoje, a Julianna era a única das top 5 que não tinha lutado ainda [na verdade, Amanda também não lutou com Irene Aldana, número 3]. Lutaria com as mesmas meninas que já lutei, Holly, Germaine, ficaria tudo a mesma coisa. Acho que a Julianna caiu no momento certo. Ela começou a falar, despertou interesse meu também, por sinal. Quando começa uma falastrona assim, eu gosto (risos). Então vamos lá! Acho que vale à pena mudar, já tinha lutado com Germaine duas vezes, com a Holly seria de novo, o povo quer ver algo diferente. E Julianna vai trazer isso, é muito agressiva, vai querer me agarrar o tempo todo, vai querer fazer aquele jogo sujo o tempo todo. Vai ser uma luta muito esperada. Julianna é um tipo de oponente que gosto muito, é uma menina que não tem muito a oferecer, mas é muito boa no que faz. Nesses momentos que consigo realmente brilhar, nos momentos que ela esquece que realmente está na luta e quer fazer só o que ela tem na mente, o que ela é boa, que é o wrestling. Esquece às vezes que tem que se preocupar com tudo, que isso é MMA. São nesses momentos que vou esperar para finalizar a luta, nocautear, ou quem sabe botar para baixo e finalizar. Vou ter espaço e momento para fazer tudo o que quiser, só preciso estar tranquila, esperar o momento certo para conectar. Estou pronta para qualquer situação na luta, são cinco rounds, tem muito pau para rolar aí, não quero que ninguém espere para o primeiro, segundo ou terceiro round, são cinco rounds. Essa luta pode ser muito boa para o público, acredito que vai ser muito movimentada. E sou uma atleta que defino em qualquer momento, então vou estar pronta para definir a qualquer momento. Mas são cinco rounds a luta.
Estilo de Julianna Peña
– A Julianna é uma oponente que já conheço desde a época do TUF, em que ela foi campeã (em 2013). É uma menina que já conheço realmente bastante o estilo, inclusive é muito amiga da Miesha e elas têm o mesmo estilo de luta, mas a Julianna até com um pouco mais de “grinding”. Mas já lutei com a Miesha e foi um estilo muito parecido. Então, a gente usou um pouquinho do camp da Miesha com um pouco mais de precisão para essa luta com a Julianna. Estou muito ansiosa, mas ao mesmo tempo com o pé no chão. Sei que todo mundo que entra ali no cage vai dar o suor mesmo para conquistar a vitória, e ela não tem nada a perder, eu sou a campeã e ela vai vir para cima mesmo para tentar pegar o cinturão. Só tenho que estar realmente muito afiada para no momento certo definir a luta.
Legado para a categoria
– Acho que (meu legado) é o foco, e o domínio também. Elas vão me ter ali como espelho por muito tempo. Acho que quando lembrarem do meu legado na divisão, realmente vão lembrar de uma Amanda que sempre teve foco e sempre inovou. Toda vez que tenho luta, que subo no cage, todo mundo fica apreensivo esperando o que vou trazer para aquela luta. Acho que as meninas têm que estar o tempo todo se reciclando como eu. Sempre estou procurando algo novo para fazer, sempre melhorando em tudo. Quando elas lembrarem de mim, desse legado, vão lembrar: “nossa, Amanda era uma atleta que toda vez que marcava luta todo mundo já ficava: nossa o que ela vai fazer? Será que vai nocautear? Será que vai finalizar?”. Esse é o legado que vou deixar, é trazer algo diferente.
Reagan lutadora?
– Ela faz sozinha (as posições), nunca mostrei para ela, ela só observando os treinos na academia chega aqui e faz o “ground and pound”, pega a bola e vai lá e fica batendo na bola como se estivesse fazendo o “ground and pound”. Digo, é… Estou pensando que depois que me aposentar estou livre, só vou na academia dar um help lá para as amigas, mas não, agora tenho Reagan que talvez seja lutadora. Meu Deus! (risos) É pior, é pior, porque lá dentro sou eu que seguro a onda, mas ela, nossa…
Peso do cinturão
– A gente não deixa de ter aquelas borboletinhas na barriga quando está no backstage antes de entrar. Não vou dizer para você que não tenho nervoso, tenho sim, sou ser humano, mas chega um momento na carreira, com um número de defesas de cinturão, que a gente administra isso bem. Consigo administrar isso muito bem, não deixo as minhas emoções tomarem conta de mim. Consigo trazer aquele momento tão grandioso para mim como se fosse um conforto, então hoje consigo administrar bastante. Acho que desde a minha conquista do cinturão eu já trabalhava nesse momento, no momento de me tornar campeã, já trabalhava mentalmente em me tornar campeã para aquele momento não se tornar um inimigo. Quando me tornei campeã, já sabia que seria para sempre, já tinha preparado aquele momento mentalmente para mim. E estou aqui para a oitava defesa com o mesmo pensamento daquele primeiro dia que conquistei o cinturão, daquela primeira Amanda. É claro que uma Amanda mais madura, com certeza, principalmente na luta, já que a gente passa por vários momentos dentro do cage e vai administrando no decorrer da vida, da carreira, vai amadurecendo mais como atleta e pessoa. Mas a única diferença da Amanda que se tornou campeã para agora é o amadurecimento dentro do cage. Acho que amadureci bastante. Eu também nunca tinha ido para cinco rounds direto, nunca passou pela minha cabeça tudo isso, então é outra coisa que você tem que conseguir adaptar, esse novo tipo de treinamento, porque move muita coisa. Cinco rounds não são três, então é outro tipo de treinamento.
Sobre momento de parar de vez
– Não quero passar por uma situação difícil na luta para saber, o meu treino vai me dizer. Se eu não estiver treinando do jeito que gosto e do jeito que é para ser treinado, acho que isso já é uma resposta. Acho que a gente vai tendo a resposta mais através do treino, não quero ter essa resposta na luta, quero ter essa resposta nos meus treinos. Consigo enxergar muitas coisas no meu treino e que converso com outras pessoas e passo essa vibe, até porque as pessoas precisam estar na mesma página comigo, dependo dessas pessoas comigo, um campeão não é feito sozinho. A gente tem que ter aquele muro de proteção que ajuda a continuar segura. Passo isso para muita gente. Não sou uma pessoa que guardo algo para mim quando não está certo, quando não está bem para mim no treino. Consigo achar as respostas e passo isso para o meu time, até para a gente trabalhar junto e ficar na mesma página. Com certeza, quando chegar o momento certo (de parar), a gente vai saber.
Serviço do UFC 269
O Combate transmite o UFC 269 ao vivo e com exclusividade no próximo sábado a partir de 19h45 (horário de Brasília). No mesmo horário, SporTV 3 e Combate.com exibem o “Aquecimento Combate” e as duas primeiras lutas; o site acompanha o evento em Tempo Real. Na sexta-feira, véspera do evento, Combate e SporTV 3 transmitem a pesagem cerimonial a partir de 18h (de Brasília).
UFC 269
11 de dezembro de 2021, em Las Vegas (EUA)
CARD PRINCIPAL (0h, horário de Brasília):
Peso-leve: Charles do Bronx x Dustin Poirier
Peso-galo: Amanda Nunes x Julianna Peña
Peso-meio-médio: Geoff Neal x Santiago Ponzinibbio
Peso-mosca: Kai Kara-France x Cody Garbrandt
Peso-galo: Raulian Paiva x Sean O’Malley
CARD PRELIMINAR (20h15, horário de Brasília):
Peso-pena: Josh Emmett x Dan Ige
Peso-galo: Pedro Munhoz x Dominick Cruz
Peso-pesado: Augusto Sakai x Tai Tuivasa
Peso-médio: Jordan Wright x Bruno Blindado
Peso-médio: André Sergipano x Eryk Anders
Peso-mosca: Miranda Maverick x Erin Blanchfield
Peso-mosca: Alex Perez x Matt Schnell
Peso-pena: Ryan Hall x Darrick Minner
Peso-galo: Randy Costa x Tony Kelley
Peso-mosca: Gillian Robertson x Priscila Pedrita