“A voz da floresta não pode parar”, anunciou Joy, que conduzia a dinâmica de aquecimento da abertura do evento nesta quarta (15). Reunidos para lembrar o legado do ambientalista Chico Mendes, cerca de 100 jovens escutavam atentamente outras lideranças, também jovens, sobre por que estavam reunidos no auditório no centro de Xapuri.
A defesa da Resex Chico Mendes apareceu nas falas de abertura, como exemplo do tipo de ameaça que os povos tradicionais e populações indígenas ainda precisam enfrentar. O PL 6024/2019, de autoria da deputada estadual Mara Rocha (PSDB-AC), em tramitação na Câmara Federal, propõe a redução dos limites da Resex e a transformação do Parque Nacional da Serra do Divisor em uma Área de Proteção Ambiental (APA), fragilizando sua proteção.
“A Resex é uma unidade só, e querem dividi-la. As pessoas nasceram e cresceram lá. Hoje temos uma ameaça, outras pessoas estão comprando terras lá –uma terra que não deveria estar sendo vendida– pessoas que não têm o perfil extrativista. [Nosso modo de vida, nós] estamos sob ameaça”, explicou Val Souza, jovem da Resex que participou da abertura do evento.
E, nesta luta, a participação da juventude é fundamental – a que o ambientalista confiou seu legado de luta e a herança de uma revolução que pode mudar o mundo, lembrou Val Souza.
Uhnepa Nukni, liderança indígena, também demonstrou seu apoio à Resex, contra o PL 6024: “Como jovens, a gente precisa se conectar com nossa essência. Sejam firmes, não desistam [de suas lutas]. Hoje estou aqui defendendo não apenas a Terra Indígena (TI) que lidero, mas todos os territórios em ameaça, como a Resex Chico Mendes”. Ele ainda comparou: [se é tão bom] faz então garimpo na cidade –Unnepá foi bastante aplaudido nesse momento de sua fala.
A jovem Val Munduruku contou das ameaças sofridas por seu povo: “todo dia a gente acorda com novas ameaças [no nosso território], garimpo, fazendeiros. Nosso povo está ameaçado pela contaminação de mercúrio. Dizem que somos contra o desenvolvimento, mas estamos lutando pela nossa sobrevivência”. A indígena acrescenta ainda que a juventude não pode se calar e precisa estar à frente: “precisamos incentivar a base para saber dos nossos direitos, fazendo esse trabalho de base e formação de outros jovens”.
“A Semana Chico Mendes é uma semana para a gente lembrar do seu legado, mas também um momento de pautar luta dos territórios, de defesa dos territórios”, finalizou Angélica Mendes, da Juventude do Comitê Chico Mendes. “Quem tem o poder [de fazer isso] são vocês aqui. Precisamos ocupar os espaços e conquistar os direitos, que já são nossos!”.