Escritora americana pede desculpas a condenado por engano de estuprá-la em 1981

A escritora americana Alice Sebold pediu perdão por sua participação na condenação injusta de um homem por estupro em 1981.

Preso e condenado pelo crime, Anthony Broadwater passou 16 anos na prisão e, mesmo depois de cumprir a pena, continuou na lista de agressores sexuais. Ele foi inocentado na semana passada após uma revisão do caso.

Em seu livro de memórias, “Sorte” (Ediouro), Sebold descreveu como foi estuprada e como contou à polícia que tinha visto um homem negro na rua que ela acreditava ser seu agressor.

“Lamento, acima de tudo, pelo fato de que a vida que você poderia ter tido foi injustamente roubada de você, e eu sei que nenhuma desculpa pode mudar o que aconteceu com você e nunca mudará”, disse Sebold em sua declaração pedindo desculpas.

Broadwater disse, por intermédio de seus advogados, que está “aliviado por ela ter pedido desculpas”.

“Sorte” vendeu mais de um milhão de cópias e lançou a carreira de Sebold como autora. Ela escreveu também o romance “Uma Vida Interrompida: Memórias de um Anjo Assassinado”, que foi transformado em um filme pelo diretor Peter Jackson e indicado ao Oscar.

A editora americana que publica “Sorte” anunciou na terça-feira (30) que iria parar de distribuir as memórias enquanto trabalhava com Sebold para “considerar como o trabalho poderia ser revisado”. A Ediouro, que publica o livro no Brasil, ainda não se pronunciou sobre o caso.

“Sorte”

O livro detalha como Sebold foi atacada quando era uma estudante de 18 anos na Universidade de Siracusa, em Nova York.

Meses depois, ela relatou ter visto um homem negro na rua que ela pensava ser seu agressor, e alertou a polícia.

Um oficial então deteve Broadwater, que supostamente estava na área na época.

Após a prisão, na delegacia, Sebold não foi capaz de confirmar que ele era seu agressor – ela identificou visualmente um outro homem. Mesmo assim, Broadwater acabou sendo julgado pelo caso – no tribunal, Sebold identificou-o como seu agressor – e foi condenado com base no relato dela e em uma análise microscópica do seu cabelo.

Depois de ser libertado da prisão, em 1998, Broadwater permaneceu no registro de criminosos sexuais.

Ele foi exonerado em 22 de novembro deste ano depois que um reexame do caso concluiu que ele havia sido condenado com base em evidências insuficientes e agora desacreditadas.

Sua condenação injusta veio à tona depois que um produtor executivo que trabalhava em uma adaptação de “Sorte” para o cinema levantou dúvidas sobre o caso e, mais tarde, contratou um investigador particular.

“Certas coisas me pareceram estranhas – especificamente o procedimento de seleção em que Alice escolheu a pessoa errada como seu agressor. Mas eles condenaram Broadwater igual”, disse o produtor Timothy Mucciante ao programa Today, da BBC.

Ele disse que discutiu suas preocupações com outros membros da equipe de produção, mas recebeu a resposta de que o livro havia sido examinado e revisado por advogados.

“Em junho eu saí [do projeto] do filme. Cerca de uma semana depois, entrei em contato com o investigador particular”, disse ele.

Mucciante disse que contratou o investigador em uma quarta-feira e, na sexta-feira, os dois homens estavam convencidos de que havia ocorrido um erro judiciário.

Ele descreveu a situação como uma “terrível tragédia, não apenas em termos do infeliz ataque sofrido por Alice, mas também o tipo de ataque metafórico sofrido por Anthony Broadwater, que passou 16 anos na prisão e 23 anos depois como um criminoso sexual registrado”.

Mucciante disse, no entanto, que não acreditar que a culpa pela condenação injusta deveria recair sobre Sebold, que na época tinha apenas 18 anos.

“Eu li as desculpas de Alice, e Anthony foi muito gentil em aceitá-las e eu realmente o aplaudo por isso. Esse é o tipo de pessoa que ele é”, disse Mucciante.

Ao ouvir a notícia de que havia sido inocentado do crime, Broadwater, hoje com 61 anos, disse à agência de notícias AP que estava chorando “lágrimas de alegria e alívio”.

Sebold disse em sua declaração que passou os últimos oito dias tentando “compreender como isso poderia ter acontecido”.

“Eu também vou lutar contra o fato de que meu estuprador, com toda a probabilidade, nunca será conhecido, pode ter estuprado outras mulheres e certamente nunca cumprirá a pena na prisão que Broadwater cumpriu”, acrescentou ela.

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