Pesquisas de intenção de voto, como se repete no mundo político, são “retratos do momento”. O histórico de campanhas anteriores ajuda a demonstrar essa percepção. Não é raro assistir ao “sobe e desce” de pré-candidaturas ao longo de meses de campanha — a oficial começa apenas no segundo semestre de 2022, mas, na prática, o debate já começou e se intensifica com as negociações em torno de alianças. Um exemplo de reviravolta é o próprio presidente Jair Bolsonaro, que tinha menos de 15% das intenções de voto a um ano das eleições de 2018.
Entretanto, nunca houve uma reviravolta de candidatos que tenham começado o ano abaixo dos 10% nas pesquisas. Em entrevista ao Estadão em junho, o cientista político Antonio Lavareda afirmou que destacou: “Não temos histórico de candidato presidencial exitoso no Brasil que não tenha ingressado no ano da eleição com o patamar de dois dígitos”, disse.
Até 2010, pesquisas com mais de um ano de antecedência eram mais raras. Acompanhamentos quase mensais começaram a ser comuns a partir daquele ano. Relembre os cenários a cerca de um ano do pleito e compare com o resultado final nas corridas presidenciais e as principais reviravoltas.
2010
Até abril de 2010, o candidato favorito para vencer as eleições daquele ano era José Serra (PSDB). Em dezembro de 2009, o tucano chegou a ter vantagem de 46% contra 21% de Dilma Rousseff (PT), segundo pesquisa Vox Populi. À época, o presidente do País era Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Dilma, embora tivesse passagem pelo governo como ministra de Minas e Energia, não era um nome muito conhecido pela população.
A petista começou o ano da eleição tendo a preferência de pouco menos de um terço da população e passou a sair na frente de Serra a partir de maio. Afinal, foi eleita com 56% dos votos válidos.
2014
Em outubro de 2013, o ex-senador Aécio Neves (PSDB-MG) aparecia com 14% das intenções de voto em pesquisa do Ibope. Em fevereiro de 2014, o mineiro estava empacado em um índice muito próximo, apesar de ligeiramente maior: 17%, segundo o Datafolha. Dilma tinha vantagem ampla e aparecia com 47%. Em outubro daquele ano, porém, o tucano chegou ao segundo turno e perdeu para Dilma por um resultado acirrado de 51% a 48%.
Uma peculiaridade das eleições de 2014 foi a morte de um dos candidatos, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Em seu lugar na disputa, entrou a ex-senadora Marina Silva (à época, também do PSB), que antes era apontada como sua possível vice.
A ex-ministra do meio ambiente figurava melhor que Campos em pesquisas feitas em 2013. No Ibope, por exemplo, uma substituição do ex-governador por Marina mudava o índice de 10% para 21%. Cogitava-se que ela pudesse chegar ao segundo turno no pleito de 2014, o que não ocorreu.
2018
Em outubro de 2017, a um ano das eleições que elegeram o presidente Jair Bolsonaro, o preferido para a disputa do ano seguinte era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À época, o petista tinha 35% de preferência e Bolsonaro, apenas 13%, segundo pesquisa do Ibope.
No cenário sem Lula — já existia a possibilidade de ele ficar inelegível devido às condenações da Lava Jato —, Bolsonaro empatava com Marina Silva, ambos com 15%. Bolsonaro cresceu em 2018 com uma campanha intensa nas redes sociais e chegou ao pleito com favoritismo contra o adversário Fernando Haddad (PT). Por fim, as urnas apontaram a vitória do atual presidente, que obteve 55% dos votos válidos no segundo turno. Haddad, substituto de Lula após o TSE barrar a candidatura do ex-presidente com base na Lei da Ficha Limpa, ficou com 44%