Retornando às atividades após ter sido vítima de sequestro, com mais seis pessoas, na noite da última segunda-feira (11) para que os sequestradores pudessem roubar três caminhonetes avaliadas em quase meio milhão de reais, o diretor-presidente do Departamento de Estradas e Rodagens, Infraestrutura Hidroviária e Aérea do Acre (Deracre). Petrônio Antunes, falou, com exclusividade ao ContilNet, sobre o que ocorreu naquela noite. A seguir, os principais trechos da entrevista:
ContilNet – O senhor está refeito do susto?
Petrônio Antunes – Passou o susto, graças a Deus. Primeiro, quero agradecer a Deus por não ter acontecido algo de mais grave com ninguém.
Apesar do susto, não houve violência física. O que aconteceu é que eu havia chegado de viagem e fiquei até mais tarde para por as coisas em dias. Normalmente, fico ate mais tarde no gabinete, até às 20 ou 21 horas, despachando s coisas internas. Durante o dia o atendimento é praticamente aos funcionários, as diretorias e aos fornecedores e às empresas que trabalham para o Deracre. A noite, eu acabo despachando as coisas internas da presidência, respondendo ofícios, e-mails e outros documentos. Naquela noite, eu cumpria essa rotina, após ter chegado de viagem, fiquei até mais tarde despachando com minha assessoria mais próxima e teve a visita de um fornecedor, o empresário Francisco Salomão. Ele me ligou, me perguntou se eu estava aqui e veio me visitar. Ele estava comigo e acabou sendo sequestrado também. No fundo, foi uma fatalidade eu estar aqui naquele momento. Aliás, até um dos bandidos falou isso.
ContilNet – Eram quantos bandidos?
Petrônio Antunes – A gente não sabe. Eu, particularmente, verifiquei seis bandidos. Quatro que entraram aqui e mais dois que ficaram coma gente lá no cativeiro, no mato.
ContilNet – O cativeiro foi onde ? O senhor conhece o lugar?
Petrônio Antunes – É um local distante uns sete quilômetros mais ou menos. É ali depois do ramal da Cinco Mil, no rumo da Estrada de Porto Acre, depois do Mutum.
ContilNet – Vocês ficaram numa casa ou num ambiente aberto?
Petrônio Antunes – Ficamos num capinzal, numa área de mato.
ContilNet – Eles mantinham armas apontadas para vocês? Eles os ameaçaram de morte?
Petrônio Antunes – Não, hora nenhuma fomos ameaçados, nem ameaçaram agressão física. Simplesmente, falaram que eram – entre aspas – profissionais e que queriam apenas as caminhonetes.
ContilNet – Até agora, alguma pista das caminhonetes?
Petrônio Antunes – Vou ser bem sincero. Depois que fiz o BO (Boletim de Ocorrência), não fui atrás para saber o resultado. Ontem foi um dia de recuperação do susto e agora estou aqui de volta ao Deracre para tentar retomar a rotina e estou deixando essa coisa da investigação com a polícia e vamos esperar por alguma notícia. Até agora estou sem notícia dos veículos.
ContilNet – O senhor acha que as pessoas que invadiram seu gabinete tinham conhecimento de sua rotina de trabalho? Elas sabiam que o senhor ficava até mais tarde aqui?
Petrônio Antunes – Não! Um deles até falou sobre isso. Disse que eu estava na hora errada, no lugar errado. Disse: Nós monitoramos o Deracre vários dias para saber a hora em que a gente poderia entrar com o menor número de pessoas possíveis aqui.
ContilNet – O senhor teria condições de reconhecer essas pessoas, se as visse?
Petrônio Antunes – De forma alguma. Eles estavam todos e totalmente encapuzados, com máscaras, luvas e tudo coberto de tal forma que não daria para se perceber qualquer particularidade. Não tinham nenhuma característica física visível.
ContilNet – Eles eram pessoas educadas, de fino trato ou bandidos tradicionais, aqueles que falam gíria, com dificuldades com o vocabulário… Como eram eles em relação à isso?
Petrônio Antunes – Eles eram normais, me pareceu. Não eram totalmente de gírias, mas falavam, eram meio termos. Para um grupo de ladrões, me pareceram até educados.
ContilNet – Eram acreanos? Deu para perceber isso?
Petrônio Antunes – Havia acreanos, sim, no grupo. Deu para perceber pelo sotaque. Não posso afirmar com segurança, mas não percebi sotaques diferentes do nosso não.
ContilNet – Aqui no Deracre havia até uma tesouraria. As medições e alguns contratos eram pagos aqui mesmo, com cheque ou dinheiro. Isso acabou?
Petrônio Antunes – Acabou há muitos anos esta modalidade de pagamento. Hoje, o governo não trabalha mas nem com cheque, com o sistema online diretamente para o banco. O fato é que os ladrões não vieram procurar dinheiro. Eles falaram que queriam simplesmente os veículos e os veículos oficiais. Para se ter uma ideia do quanto eles vieram planejados, temos por primeiro esta fala de um dos ladrões, que, segundo ele, ‘não era para eu estar aqui, naquela hora’ – disseram que haviam monitorado o Deracre por alguns dias e sabiam a hora em que só deveria estar os vigias; segundo, o empresário Francisco Salomão estava com seu carro estacionado aqui no pátio, um carro de luxo, um corola, e ele não quiseram o veiculo do empresário. Eles disseram que queriam as caminhonetes identificadas. Creio eu se fosse caminhonetes não identificadas, eles também não triam levado. Haviam carros assim ali no estacionamento.
ContilNet – Por que essa predileção por carros identificados? Por serem mais fáceis para atravessar a fronteira, por se tratarem de carros oficiais, com a logomarca do governo?
Petrônio Antunes – Isso eu não sei. Só sei que eles disseram: a gente quer essas caminhonetes. Inclusive foram em cima do que queriam. Eles monitoram muito porque eles sabiam quais os carros que queriam e inclusive sabiam onde achar as chaves.
ContilNet – Quando o senhor estava lá, sequestrado, o senhor, que tem família, inclusive um filho pequeno, o que passou pela sua cabeça?
Petrônio Antunes – Passa tudo pela cabeça da gente… Pensei no que minha mulher poderia estar passando e como seria a vida da minha família se acontecesse algo de mais grave.
ContilNet – O senhor conseguiu avisar alguém que estava sequestrado?
Petrônio Antunes – Não, não consegui. Eles não deixaram. Eu apenas rezei bastante, me apeguei a Deus e pedi que a gente saísse ileso daquela situação.
ContilNet – Que horas vocês saíram e como saíram lá do local onde estavam sequestrados?
Petrônio Antunes – Eu não tinha a menor ideia do horário, a gente não tinha acesso a relógios. Só depois é que eles devolveram alguns pertences, quando passamos a ter acesso a hora. Era algo em torno das duas horas da manhã em que a gente foi liberado.
ContilNet – Como foi essa liberação?
Petrônio Antunes – Eles simplesmente liberam assim: os dois, que estavam lá de guarda, no mato, receberam uma ligação e falaram para a gente o seguinte: vocês ficam sentados aí uns dez minutos e aí vocês podem ir embora.
A gente e ouviu que um carro foi pegá-los. A gente não conseguiu os carros porque estavam ainda dentro do mato, no escuro, sentados – já que eles não deixavam a gente levantar.
ContilNet – Para isso, eles apontavam armas para vocês?
Petrônio Antunes – Lá no mato, não. Eles só apontaram armas para nós no momento em que entraram aqui, no gabinete.
Eles entraram, apontando armas e nos mandaram deitar no chão. Depois, deixaram as armas à mostra, na cinta, mas não mais sacaram, sem apontar arma para a cabeça.
ContilNet – Além do senhor e do empresário Francisco Salomão, quem mais foi sequestrado?
Petrônio Antunes – Eu, a chefe de gabinete, os três vigias, meu motorista e o empresário Francisco Salomão.
ContilNet – Quando entrei aqui para esta entrevista com o senhor, percebi que nada mudou em relação á segurança mesmo após ao assalto. Não me pararam, nem exigiram documentos. O senhor vai manter isso assim mesmo depois do assalto?
Petrônio Antunes – Olha, aqui é um órgão público e assim deve ser franqueado ao público. A gente está fazendo algumas reformas.
Acabamos de reformar o pátio e eu já tinha a intenção de mudar a rede elétrica, fazendo uma iluminação melhor. Era um projeto que vinha sendo feito devagar mas agora vou acelerar. Acho que melhorar a iluminação do pátio, uma nova guarita, enfim, oferecer mais segurança.
ContilNet – os carros eram da Seinfra, a Secretaria de Infraestrutura, que fica aqui ao lado. Por que eles então atacaram aqui, no Deracre?
Petrônio Antunes – Pelo o que falaram, não era para a gente estar aqui naquele horário. Como eu já estava de saída, meu motorista veio andando até o gabinete.
Os assaltantes seguiram ele achando que era o vigia e iam rendê-lo. Na hora em que ele chegou, a gente ainda estava aqui e os bandidos também levaram um suto, creio eu, porque elas não esperavam encontrar tanta gente. Eles não contavam com isso.
ContilNet – Vocês foram levados para o matagal como?
Petrônio Antunes – Nos carros que eles roubaram.
ContilNet – As chaves estavam lá na Seinfra, não era?
Petrônio Antunes – Sim, eles estavam bem informados sobre isso. Sabiam inclusive onde eram a sala ou levaram o vigia da Seinfra para informá-las, eu não sei.
ContilNet – O senhor, como está se sentindo agora?
Petrônio Antunes – Eu me apaguei muito a Deus e agradeço por ninguém ter se ferido e por não ter havido agressão física. Mas é claro que o psicológico fica abalado. Mas espero voltar ao normal dentro do menor espaço de tempo possível.