Em meio a surto de gripe, coquetel de vitaminas entra ‘na moda’ no AC, ganha divulgação de influencers e médico alerta sobre perigos

O surto de gripe no Acre provocou uma verdadeira corrida às farmácias em busca de um “coquetel para imunidade”, que viralizou como um potente ‘anti-gripe’. A vacina chega a custar até R$ 150,00 e na semana passada, até influenciadoras digitais estavam fazendo a ‘publi‘ do medicamento.

Acontece que a automedicação, em qualquer cenário que seja, pode ser danosa à saúde. Em entrevista ao ContilNet, o médico Pedro Luam da Silva Soares, residente em medicina de família e comunidade no Acre, explica que mesmo estas ‘inofensivas vitaminas’ não devem ser consumidas sem que antes o paciente tenha passado por uma consulta com um médico e realizado exames que comprovem a deficiência de determinada vitamina no organismo.

“Coquetéis ou combinados de vitaminas e minerais não tem ação comprovada para prevenir ou tratar gripe, muito menos para “aumentar” a imunidade! As vitaminas são compostos necessários para o bom funcionamento do nosso organismo, são facilmente adquiridas em uma boa alimentação que contenha frutas, verduras, carnes, derivados lácteos e ovo, por exemplo. A carência de vitaminas, seja na dieta ou por algum problema de absorção que as pessoas tenham, leva a doenças chamadas hipo ou avitaminoses, que tem sintomatologia marcante e respondem ao tratamento com vitaminas de uso intravenoso ou oral. Fora essas indicações, as vitaminas em comprimidos ou injeção não tem benefício comprovado para elevar a imunidade e nem para doenças gripais”, explicou.

Pedro Luam é médico da família/Foto: arquivo pessoal

Ainda segundo Luam, a “imunidade é muito complexa e multifatorial, não há hoje uma medicação que a faça aumentar, quando temos febre, fraqueza, até mesmo tosse e espirros, isso não é sinal de imunidade fraca, pelo contrário, é o trabalho das células de defesa em ação no nosso corpo. Em algumas ocasiões a “luta” do nosso sistema imune contra infecções pode ser exagerada e levar a sintomas inflamatórios sérios, nesses casos usamos medicações que inclusive diminuem a potência imune para diminuir os sintomas. Doenças virais podem ser autolimitadas, ou seja, só com o controle dos sintomas, elas cessam com o tempo, sem necessidade do uso de medicações específicas para matar o vírus”, destacou.

“É importante saber que quem faz propaganda das substâncias tendem a destacar os pontos positivos de se usar aquilo, mesmo que sejam informações falsas ou sem base científica comprovada, mas toda medicação e suplementos, absolutamente todos, tem risco envolvido. Não existe essa história de “Se não faz bem, mal não faz”. Muito pelo contrário, se não há benefício, só o que resta são os riscos envolvidos. Mesmo que os riscos de se exceder em uso de vitaminas possam ser raros, eles existem, além disso, gastar dinheiro em algo que não cumpre o prometido é extremamente danoso né?”, salientou.

Automedicação

A automedicação também tem sido ‘normal’ em meio a esta epidemia, algo sobre o qual Pedro também faz ressalvas. “A automedicação é uma cultura, num mundo com acesso fácil à informações, mesmo as mais complexas, é até difícil conter algo assim. O uso de analgésicos e antitérmicos, se bem esclarecido, não é prejudicial a quem já tem o costume de fazê-lo, no entanto, uma consulta médica pode determinar qual o melhor uso individualmente e inclusive avaliar se há sinais de alerta que indicam uma avaliação mais criteriosa do caso. Por isso, se você tem febre persistente, se os sintomas gripais te incomodam muito, sensação de falta de ar ou fraqueza extrema, indico buscar atendimento médico o mais breve possível”, alerta.

O médico chama a atenção para a automedicação com antibióticos e como isso pode fortalecer bactérias, favorecendo infecções cada vez mais resistentes a remédios. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2019,a cada ano 700 mil pessoas morrem por esse tipo de infecção. Até 2050, a estimativa é que esse tipo de problema possa resultar na morte de até 10 milhões de pessoas. “O uso de antibióticos para doenças virais não é indicado de forma alguma, antibióticos não tem ação contra vírus, além disso, o uso indiscriminado de antibióticos leva a resistência de bactérias, fazendo com que antibióticos de fácil disponibilidade se tornem ineficazes contra doenças para as quais eles são de fato necessários”.

Luam durante atendimentos em meio à pandemia/Foto: arquivo pessoal

Peguei gripe, e agora?

Luam defende que uma pessoa que tem qualquer dúvida em relação aquilo que ela está sentindo, deve procurar o atendimento com o médico. “As pessoas não podem achar que o que elas sentem é besteira, a gente tá ali justamente pra prestar um bom atendimento, e um bom atendimento ele é feito nesses casos de síndrome gripal, numa avaliação, se existem sinais de gravidade: saturação baixa, respiração forçada, contagem da frequência respiratória muito elevada.se a febre não cessa o uso de analgésicos de de antitérmicos. Ou mesmo se a pessoa tem dúvida se deve ou não usar, mesmo que seja medicações das mais simples, como a dipirona e o ibuprofeno, que essas pessoas procurem o atendimento médico pra isso”, explicou.

Mas o médico também tranquiliza aqueles que apresentam apenas sintomas leves, afirmando que nestes casos, o tratamento pode ser feito em casa: “Tomar bastante líquido, pode tomar suco, comer frutas, fazer uma alimentação balanceada e repouso. A doença ela tem um tempo determinado e depois desse tempo, ela vai encerrar o ciclo. Se evoluir com esses sintomas, com esses sinais de gravidade, aí buscar atendimento médico mais breve possível que aí sim é necessário uma atenção mais dedicada, já que aí podem ter outras complicações que devem ser avaliadas”, aconselhou

Prevenção

A influenza é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório e é de alta transmissibilidade e se espalha facilmente em epidemias sazonais, podendo causar pandemias. É importante lembrar que ela não deve ser subestimada e pode levar à óbito.

A imunização é a forma mais eficaz de prevenção contra a gripe e suas complicações. Além disso, manter as medidas sanitárias que foram eficazes contra a Covid-19:

• Manter a distância de 1,5 metros das outras pessoas;
• Higienizar as mãos com frequência. Lave com água e sabão ou use álcool gel 70%;
• Utilização correta das máscaras cobrindo a boca e o nariz;
• Adotar hábitos saudáveis, alimentar-se bem e manter-se hidratado;
• Não compartilhar utensílios de uso pessoal, como toalhas, copos, talheres e travesseiros;
• Evitar frequentar locais fechados ou com muitas pessoas.

“A melhor forma de prevenção absolutamente é a vacinação, a primeira forma de prevenção, aqui no Acre até onde eu tenho informação, a gente não tem caso ainda confirmado de H3N2, que é a cepa de influenza que tá circulando no Brasil. mas é muito provável que ela esteja circulando aqui. Essa cepa não está inclusa na no escopo da medicação da vacina de influenza desse ano. Mas mesmo assim, se vacinar contra a gripe ou qualquer outra doença pra as quais as vacinas estejam disponíveis é importante e aí a Covid entra nisso. É extremamente importante. Além disso entram também todas formas de prevenção pra toda doença respiratória: uso de máscara,  preferir locais abertos para convivência, locais abertos e arejados onde o ar tem maior dissipação e mesmo assim usar a máscara quando próximo de outras pessoas”, explica Luam.

O médico também reforçou a importância do isolamento para quem está com qualquer síndrome gripal: “Aqueles que estão sintomáticos, façam o isolamento”.

Grupos de risco

Assim como com a Covid-19, no caso da influenza também deve-se ficar atento com o grupo de risco, que são os idosos, pessoas com doenças autoimune, pessoas debilidade da imunidade e pessoas com com problemas renais, fazem diálise. “Essas pessoas elas tem que ter uma atenção maior, é muito parecido com a Covid-19. E aí eu recomendo fortemente que essas pessoas, ao pegar essa síndrome gripal, que procurem um posto de saúde ou a UPA e aí é muito importante conversar com o médico se se é interessante fazer a testagem da Covid-19 também”, finalizou o médico.

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