Narciso: ‘Os trânsfugas partidários desfigurarão ainda mais os nossos fragilizados partidos’

Janela partidária

Até o próximo dia 3 de abril, os trânsfugas partidários  desfigurarão ainda mais os nossos fragilizados partidos

Nem nas republiquetas existentes mundo afora os partidos políticos são tratados como os nossos, diria até, tão debochadamente. Entre nós, os nossos partidos se prestam tão somente para emprestar a sua legenda para os aventureiros registrarem suas pretensas candidaturas. O que determina suas filiações nada tem a ver com seus estatutos partidários, apenas com suas próprias conveniências. Fidelidade partidária zero, ainda que tenham sido eleitos para ocupar as nossas casas legislativas, e em particular, a nossa Câmara dos Deputados, favorecidos com os votos dado ao partido que possibilitara sua candidatura.

Outra não é a causa que tem impedido a estruturação dos nossos partidos e que tenhamos no nosso Congresso Nacional, presentemente, representantes de 27 partidos políticos distintos. Esta sim, é a causa determinante da nossa sistêmica corrupção política.

Pior ainda: nossos representantes políticos ainda são favorecidos legalmente por leis e decisões jurídicas que faculta, sem nenhum prejuízo os seus mandatos, os trânsfugas partidários. Não é demais, e sim muito oportunamente, que lembremos que o nosso presidente Jair Bolsonaro já pertenceu a nove partidos distintos.

A fragilidade da nossa democracia decorre da nossa anarquia partidária e dos nossos representantes políticos utilizarem os seus mandatos em causa própria. De outro lado, os nossos partidos políticos funcionam como se fossem empresas com fins lucrativos e vários deles dirigidos por velhos e notórios usurpadores dos nossos recursos públicos. Para estes o fundo partidário e o fundo eleitoral funcionam como fontes de renda. Até o tempo de televisão que lhes são conferidos são vendidos a preço de outro.

Até o dia três de abril próximo, faltando apenas seis meses para as nossas próximas eleições, haverá o maior troca-troca partidário de toda a nossa história, e por mais uma vez, enfraquecendo o pouco de importante que ainda resta nos nossos partidos.

Sem partidos políticos propriamente ditos, o surgimento de novas lideranças jamais acontecerá. A provar: desprovido dos requisitos minimamente exigidos para quem deseja candidatar-se a presidência da nossa República quase uma dúzia se dizem candidatos, quando na realidade apenas estarão fortalecendo a polarização Bolsonaro/Lula que vivem a combater. 

Quem se elege por um determinado partido e dele afasta, seja qual for a a motivação alegada, não pode levar consigo o mandato que exercia, seja por infidelidade partidária ou por qualquer outra causa que possa apresentar.

Do contrário, a nossa anarquia partidária continuará, nossos partidos políticos não se consolidarão e a nossa democracia só tem a perder. 

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