Olá!
Começo a coluna de hoje rememorando o texto que escrevi em julho de 2021 “Quanto vale a vida de uma mulher em nosso estado?”. Na ocasião teci as seguintes palavras “Estamos há mais de três anos em primeiro lugar no ranking de assassinato de mulheres em razão de seu gênero, o que denominamos, feminicídio (Mapa da Violência, 2020). Essa posição significa dizer que aqui em relação a outros lugares do Brasil, potencialmente, ser mulher é estar em constante risco de ser assassinada”.
Na última semana de 2021, dia 26, presenciamos nas redes e jornais locais o caso de uma jovem que fora atirada em via pública de um carro em movimento por seu companheiro. A mesma registrou boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM/AC) e o processo segue os tramites legais. É impossível não sentir um aperto e um nó na garganta ao ver as cenas que foram compartilhadas e que captavam o momento da violência.
Os comentários que mais li sobre o companheiro da jovem dispunham de frases como “quem vê cara, não vê coração”, “nem parecia um agressor”, “maior cara de bonzinho”. O que acontece que associamos ao homem branco, cisgênero e heterossexual a imagem de “bom moço”? Se ele nem parecia agressor, quem é que parece então?
A brancura da pele é associada a doçura e bondade e é por esse racismo entranhado na nossa cultura que os agressores se beneficiam. Agridem no privado e no Instagram posam de “bons moços”. Eles desfrutam dos privilégios que possuem e sabem muito bem que os tem. E aqui, não incluo só os que fazem “arminha” do Bolsonaro para fotos, mas também os que usufruem de discursos supostamente “descontruídos” e progressistas.
Não importa o quão um cara seja um “SAPO”, basta ele demonstrar o mínimo interesse que ele se torna um “PRÍNCIPE” (ainda mais se o tom da pele for o já citado). Valeska Zanello (2018), uma psicóloga, filósofa e pesquisadora brasileira em seu livro “Saúde Mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação” discorre sobre essa temática. O “SAPO” branco-cis-heterossexual ocupa um lugar de poder em nossa sociedade, escolhe como numa “prateleira” sua “companheira”, assim como quem escolhe objetos. Ele dispensa quando bem entende, pois, posse e objetificação andam lado a lado. E como um objeto dispensa na rua.
No ano passado, em nosso estado um “bom moço” assassinou a companheira na frente do filho recém-nascido. No ano passado, um “bom moço” esfaqueou a namorada grávida. Em 2021, “bons moços” assassinaram uma mulher trans a pauladas. Até quando? Como será 2022?
Quais são as políticas públicas de proteção para mulheres em Rio Branco? O que os gestores estão fazendo pela vida de tantas em um Estado que há TRÊS anos seguidos ocupa o 1° lugar no ranking de Feminicídio do país?
Que Emely, a jovem das cenas que circularam nas últimas semanas na cidade, receba apoio e que possa ser protegida desse agressor!
Que a gente abra bem nossos olhos e possa perceber com que “lente” enxergamos o mundo.
Que o nome de Emely e de tantas outras não seja escrito em lápides e esquecidos, que ser mulher em nosso estado não seja um atestado de morte!
Com afeto e votos de dias melhores me despeço da coluna “Com-texto: diálogos sobre saúde mental”, sou agradecide ao Contilnet por esse espaço que foi pensado com cuidado, ética e política.
A palavra envolve responsabilidade, meu desejo é que outras e outres ocupem colunas por aqui!
Rio Branco, Acre, 12 de janeiro de 2022.
Para contatar a autora e conhecer mais sobre seu trabalho, acesse:
@psi.kahuana (https://www.instagram.com/psi.kahuana/).
Kahuana Leite é Psicóloga graduada pela Universidade Federal do Acre (2019) e Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.