No piloto automático? Saiba reconhecer sinais e sintomas de exaustão emocional

“Aquela sensação de rolo compressor no peito, quando você deu tudo de si para ‘chegar lá’, mas não consegue mais, e você sente um vazio? Sim, sei muito bem o que é… ”

Quando perguntei a Jane*, 31 anos, se ela já sofreu de exaustão emocional, sua resposta foi bastante clara. Em meio a um tumultuado relacionamento com seu parceiro de quatro anos, ela acordou um dia com a certeza de que não teria mais como continuar. “Decidimos de comum acordo nos separar. Mas, como eu carreguei o casal por todo esse tempo, me sentia exausta. Eu estava em um estado letárgico. Eu nem tinha mais forças para chorar”, explica ela.

Exaustão emocional crônica é um problema lento e traiçoeiro

Esses são processos latentes, muitas vezes invisíveis, e que muitas vezes são difíceis de serem definidos. Por isso, a psicóloga clínica Maïté Tranzer, sediada em Paris, nos ajuda  a entender como indentificá-los melhor.

“Existe uma diferença entre o esgotamento emocional agudo, na sequência de um acontecimento traumático e súbito, e o esgotamento crónico, que pode se prolongar durante meses ou mesmo anos e que provoca um verdadeiro desequilíbrio mental”, sublinha em conversa com Marie Claire França.

Aguentamos. Resistimos. Esperamos até o limite… E então transbordamos!

“No segundo caso, a exaustão é um fardo que acumulamos, algo que pegamos para nós e que começa a pesar cada vez mais, como se não fosse possível equilibrar as coisas, ou aliviarmos o peso com válvulas de escape”, explica.

Uma história de amor que seja uma verdadeira montanha-russa, uma vida familiar que exige bastante da nossa energia, um ambiente de trabalho muito estressante ou com muita pressão, ou simplesmente responsabilidades e exigências demais: ao contrário do burnout, o esgotamento profissional, a exaustão emocional pode surgir em qualquer espaço da nossa vida, tanto a privada como a profissional.

Isso porque o que caracteriza a exaustão emocional é, em último caso, sua natureza latente, explica Maïté Tranzer: “Aguentamos. Resistimos. Esperamos até o limite… E então transbordamos!”

Um colapso, uma explosão que, ao contrário do que se pensa, não acontece da noite para o dia: pelo contrário, é um processo que se dá sob o signo da lentidão. Além disso, ao contrário da fadiga mental, seus efeitos a posteriori ocorrem inevitavelmente nesse mesmo longo tempo.

No piloto automático

De fato, como a psicóloga nos explica, a exaustão emocional é caracterizada principalmente por uma fadiga extrema, que parece não passar, e afeta tanto a nossa vida, uma queda violenta de energia que vem acompanhada ainda de outros sintomas.

“Temos cada vez menos vontade de fazer as coisas, menos desejos. Passamos a agir um pouco no piloto automático”, explica a piscóloga. Passamos por mudamos de humor que podem nos desestabilizar a ponto de afetar nossas identidades, tanto em relação a nós mesmas como em relação a quem está perto de nós. Em resumo, ninguém reconhece a gente.

“Eu sou uma pessoa bastante alegre, sociável, e sempre fui de sair para conhecer gente nova, que sempre falei muito, fiquei completamente passiva por semanas. Sempre gostei de estar com meus amigos, mas então fiquei retraída”, lembra Jane.

Daí, começamos a refletir sobre o dia e a pensar já no dia seguinte. O sono deixa de ser reparador, o que é problemático se você já estiver extremamente cansada.

“Pode ser uma porta que batemos, ou coisas que dizemos sem pensar e depois vão nos gerar culpa…”

Os especialistas também observam comportamentos de irritabilidade e impulsividade com certa falta de autocontrole. “Pode ser uma porta que batemos, ou coisas que dizemos sem pensar e depois vão nos gerar culpa”, ilustra a psicóloga. Em outros casos, esse esgotamento se manifesta pela incapacidade de se concentrar, de se organizar, ou mesmo de pensar no futuro, porque o momento presente é avassalador.

O resultado? Acabamos nos desvalorizando, desanimando. A lista de fazeres inacabada vira um verdadeiro tormento e afeta nossa autoestima. Um fenômeno tão traiçoeiro que geralmente afeta quem tem mais resistência emocioal. “São pessoas que lidam bem com os obstáculos da vida, e às vezes são bastante perfeccionistas”, pontua a psicóloga.

Quando falamos de perfeccionismo, normalmente existe uma certa inclinação para ruminar e tentar excessivamente racionalizar os pensamentos, principalmente na hora de dormir.

“Daí ficamos pensando sobre o dia que tivemos e o dia seguinte, e o sono deixa de ser reparador, o que é problemático”, alerta a psicóloga, que cita ainda sintomas como dores de estômago ou nas costas. “É o seu corpo falando, literalmente.”

Mas como sair desse círculo vicioso de fadiga, dúvida e, às vezes, até raiva?

Esteja em contato com as suas emoções

“Da minha parte, simplesmente me dei tempo”, responde Jane, que admite que não fez nada além de se permitir não fazer absolutamente nada. Talvez porque, eventualmente, ela tenha percebido que não tinha outra escolha. “É importante poder tomar consciência desse esgotamento”, lembra a psicóloga.

Seja generosa com você mesma! Encare seus erros de forma diferente, permita-se ter momentos de fragilidade e fraqueza, tente enfrentá-los após um tempo, ou então, simplesmente, aprenda a dizer não e a estabelecer limites para se preservar.

Maité recomenda, antes de tudo, tentar pequenas mudanças de comportamento e modo de pensar, algo que pode rapidamente mudar a sua vida.

“Questione e fique atenta às suas emoções, porque elas permitem identificar necessidades e estratégias para atendê-las. Por exemplo: o medo significa que temos necessidades de segurança. Então, você tem que tentar encontrar o que poderia lhe dar essa segurança.”

Também é importantíssimo procurar ajuda profissional e conversar sobre esse desconforto com as pessoas que amamos, sejam elas nossas familiares, amigos ou parceiros. Assim, pode ser mais fácil pensar em soluções em conjunto e demonstrar apoio.

“É importante ter tempo livre, horários para si mesma, e fazer coisas que a façam se sentir bem”, destaca a psicóloga, lembrando ainda que a prática de atividades físicas são aliadas importantes para melhorar a qualidade do sono, e são sempre bem-vindas.

Por fim, e por óbvio, não hesite em procurar um profissional de saúde mental, médico psiquiatra ou psicólogo, se começar a sentir os sintomas do excesso de trabalho.

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