Um morador da Vila Aliança, comunidade que fica na Zona Oeste do Rio, flagrou PMs em serviço invadindo sua casa e mexendo em seus bens.
CLIQUE AQUI para assistir o vídeo.
Segundo ele, os militares furtaram uma caixa de som, um vidro de perfume, um quilo de carne congelada e oito caixinhas de água de coco — e toda a ação foi gravada (assista acima).
Segundo apurou a TV Globo, os policiais já foram identificados, afastados das ruas e passarão pelo Conselho Disciplinar da PM.
Morador acompanhou por aplicativo
O proprietário decidiu instalar um circuito de segurança com transmissão em tempo real depois que, segundo ele, sua casa foi revirada por PMs em outras 10 ocasiões.
Na última segunda-feira (7), enquanto a PM fazia uma operação na comunidade, o morador, que não estava em casa, acompanhou por um aplicativo os PMs mexendo em suas coisas (leia detalhes abaixo).
O dono da casa afirma que os PMs não tinham mandado de busca ou qualquer flagrante que justificassem a entrada.
Como foi a invasão
As imagens mostram dois policiais militares do Batalhão de Choque com fuzis mexendo nos bens da família. Um deles se impressiona com uma garrafa de uísque. “É Black Label?!”, indagou.
Depois, um agente mexe em uma caixa onde estavam guardados jogos de videogame.
“Ó, cheio de jogo maneiro. Só que é Xbox”, desdenhou.
Em um outro trecho, surge um terceiro PM. Um deles pega uma caixa de som portátil e mostra para o colega de farda.
“Para não falar que não te dei nada na vida,” diz um policial.
Outro policial pega mais uma garrafa de bebida e brinca.
“Ah, isso aqui também está aberto. Ih, tá esculachado já essa p*rra”, disse o policial.
Um cão farejador aparece no vídeo.
Seis minutos depois, a imagem não mostra, mas um dos policiais chama o outro para conferir um produto na geladeira.
“Casa de luxo! Chega aqui. Vem ver a geladeira para tu ver se é ou se não é”, chama o agente.
Antes de sair da casa, um policial afirmou que não ia levar a cerveja, mas incentiva os colegas.
“Não vou levar cerveja, não. Se quiser levar!”, afirmou o PM.
Um dos policiais pega a garrafa térmica azul, que está em cima do sofá, e leva.
O que diz a PM
Logo após a exibição da reportagem, a Polícia Militar disse que não teve acesso aos vídeos nem ao teor da denúncia e que ao ver o material os policiais seriam identificados e afastados das ruas para a abertura de um procedimento investigativo.
Ainda durante a exibição do telejornal, o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, afirmou em entrevista que o comportamento od policiais é “inaceitável” e que a Corregedoria da Polícia Militar apura o caso. O nome dos envolvidos não foi divulgado.
Segundo ele, pode até ser caso de expulsão.
“Assim que o secretário de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Mario Filho, recebeu as imagens, através da matéria, ele já colocou a Corregedoria da PM no caso, os policiais serão identificados. Assim que forem, serão afastados das ruas e serão submetidos a conselho de disciplina, que pode suscitar até em expulsão”, disse Blaz.
Blaz destacou ainda que conta com a ajuda desses moradores para identificar os militares responsáveis pela invasão.
“A Polícia Militar assume o protagonismo da ação correcional, transgressões a disciplina não se explicam, elas precisam ser punidas e isso a Polícia Militar já faz. Contamos com o apoio dessa família para contribuir no processo investigativo para que a gente posso identificar e punir esses policiais”.
Rotina de arrombamentos
Os moradores contaram que invasões acontecem com frequência na comunidade, e há muito tempo.
“A outra invasão, que foi na penúltima vez que eles foram, eles abriram com chave-mestra. Eu estava acordado. Era madrugada quando eu comecei a ouvir barulho no meu portão. Nesse dia, não houve nenhum furto porque eu estava em casa. Em quatro meses, já é a 11ª vez que eles vão na minha casa. Eu já não aguento mais”, afirmou o morador.
Depois de terem certeza de que os policiais militares haviam saído da casa, os moradores voltaram e registraram como o local foi encontrado.
“Levaram uma caixa de som, aproximadamente um quilo de carne que tinha na minha geladeira, estava congelado, oito caixinhas de água de coco e um perfume”, disse o morador.
O casal, que tem o acompanhamento de um advogado, pretende denunciar o caso na corregedoria da Polícia Militar.
“Eu não tenho nenhum mandado de prisão, nenhum mandado de busca e apreensão. Sou uma pessoa limpa. Trabalho. Minha esposa também”, disse o dono da casa.
O advogado criminalista William Brand explicou que, para que haja o acesso a uma residência, “é necessário que esteja ocorrendo um flagrante delito ou que esse policial porte um mandado judicial, tanto de busca e apreensão quanto de prisão, para o endereço certo”.
“Nós vamos levar ao conhecimento das autoridades policiais para que esses fatos sejam apurados. Nós sabemos que os moradores de comunidades são mais vulneráveis, não detêm tanto conhecimento legal”, afirmou.