58 anos do golpe militar: as consequências da ditadura para o Acre

Lembrar para nunca esquecer

Em um dia como hoje, um 31 de março, há 58 anos, um golpe militar entrava em curso no Brasil. O golpe de 1964, que ocorreu entre os dias 31 de março e 1 de abril, culminou com a deposição do presidente João Goulart, pondo fim à Quarta República e iniciando a ditadura militar brasileira.

Acre

Para entender um pouco sobre como a ditadura militar atuou no Acre, a coluna conversou com o historiador Marcos Vinícius.

Golpe acreano

“O Acre tinha recém eleito seu primeiro governador em um regime democrático. José Augusto de Araújo foi eleito em 1962, e assumiu em 63. A ditadura militar conturbou tudo e pouco mais de um ano depois da posse do José Augusto, o capitão Edgar Cerqueira, que era o comandante das tropas federais no Acre decidiu tomar o poder. Alguns dizem que sem ordem oficial da ditadura, mas sobre isso ainda há dúvidas”, contou o historiador.

Cercados

Para conseguir concluir o golpe aqui no estado, o militar usou da força e da intimidação. “Ele cercou o Palácio Rio Branco com as tropas federais e intimou o governador a renunciar. No dia seguinte, com o governador José Augusto sem alternativa, já que a guarda territorial era mal armada, acabou assinando a renúncia. O capitão cercou também a Assembleia Legislativa e os deputados estaduais, sob pressão, o nomearam governador do recém-criado estado do Acre, cargo no qual ele permaneceu até 1966, quando foi traído pelos próprios políticos. Ele quis se eleger senador mas não conseguiu e foi embora do Acre”, contou.

Hélio Cury

O historiador contou ainda que muitos acreanos também sofreram perseguição por parte do governo militar. “Durante toda a ditadura houve perseguição e censura no Acre, e a diferentes pessoas, como seu Hélio Cury, que todas as vezes em que o presidente da República, neste período da ditadura, vinha ao Acre, ele (Hélio Cury) era preso preventivamente, apesar de não representar absolutamente nenhuma ameaça”.

Seringueiros

Houve perseguição também contra os seringueiros. “Também houve ações contra a organização dos seringueiros, que estavam se organizando em sindicatos e já começavam a realizar os empates. Assim como em outras partes do Brasil, o Acre sofreu graves consequências no período da ditadura militar e um retrocesso muito grande”.

Danos

Os danos que a ditadura causou em todo o país são incontáveis e incontestáveis. Mas no Acre, houve um agravante: éramos um estado e uma democracia recém-nascidos. “No caso do Acre o dano foi ainda maior do que no resto do Brasil porque a democracia acreana havia recém começado, já que em 1962 o território se transformou em estado. Tão logo os acreanos começaram a ter direito de eleger seus governantes, já foram cerceados de novo, e ficaram sem eleger governador até 1982, no processo de reabertura, praticamente 20 anos sem direito a democracia. Um prejuízo muito grande para todos os acreanos”, concluiu o historiador.

Bolsonaro

Defensor ferrenho do período militar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem feito escola no seu governo e não é raro ver ministros e funcionários do alto escalão do Governo Federal fazendo elogios públicos ao período da ditadura militar.

Ordem do dia

Hoje foi a vez do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, publicar um texto no site da pasta em que afirma que o golpe militar “é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época”. Braga Netto disse ainda que “a história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização”.

Reação

O texto, é claro, despertou reações de políticos e artistas de todo país. Gerou também uma reação do MPF, que pediu na justiça a retirada, com urgência, da nota do Ministério da Defesa. “Não condiz com o conteúdo desse princípio o agente público valer-se da função pública exercida para fazer, em canal oficial de comunicação, menções elogiosas ao regime de exceção instalado no País por meio do golpe militar de 1964, que violou, de forma sistemática, direitos humanos, valendo-se, inclusive, da prática de tortura e execuções de pessoas, e que, reconhecidamente, levou à responsabilização do Brasil em âmbito internacional”, diz trecho do pedido do MPF.

Férias

Caros leitores, a partir desta sexta-feira (1) este colunista entra em férias durante todo o mês de abril. Desta forma, a coluna Pimenta no Reino entra em recesso e tem seu retorno previsto para maio. Até breve!

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