Após a escola de samba Gaviões da Fiel negar que haveria uma representação do presidente Jair Bolsonaro gay em seu desfile, o cabeleireiro Neandro Ferreira, que havia dito que teria esse papel, falou sobre a repercussão do caso. “Uma brincadeira que virou uma coisa muito séria”.
Ao g1, Neandro explicou que a Gaviões o convidou para representar um “governante fascista” no desfile, mas que não seria nenhuma pessoa específica. “Ninguém falou que eu ia vir de Bolsonaro, falavam só que eu ia vir de um governante, um presidente fascista, que poderia ser qualquer presidente”, disse o cabeleireiro.
No entanto, ele, por conta própria, assumiu que este governante seria o Bolsonaro e começou a fazer piadas sobre o assunto. “Aí eu comecei a brincar, vou dar pinta de gay, vou vir sambando, vai ser engraçado”. O cabeleireiro também afirmou que este seria seu papel no desfile em entrevistas para a imprensa.
A escola de samba Gaviões da Fiel confirma a explicação dada por Neandro. “Não existe Bolsonaro dentro do enredo, não existe um governante em específico. O enredo fala de todo um contexto histórico de governantes fascistas”, informou a assessoria de imprensa da agremiação.
Após a repercussão do caso, o cabeleireiro disse que está recebendo todo o suporte da escola, e contou que está sofrendo ataques na internet. “Estou sendo atacado tanto pela comunidade LGBT, que estão falando que eu usei o gay para ridicularizar o presidente, que ser gay não é pejorativo. E tem ainda o outro lado, os machões bolsonaristas”.
Neandro contou que está cuidando da sua segurança, mas que seu objetivo agora é se divertir no carnaval após dois anos sem festas por causa da pandemia.
Segundo o cabeleireiro e também a Gaviões da Fiel, ele continuará no desfile, e no papel que havia sido chamado, um “governante fascista”. “Eu espero que essa repercussão negativa não atrapalhe o nosso carnaval nem da Gaviões”, disse Neandro.
A Gaviões da Fiel será a segunda escola de samba a desfilar no sábado (23) no carnaval 2022 de São Paulo no sambódromo do Anhembi.
O samba-enredo da escola, intitulado “Basta”, fala sobre desigualdade social. Segundo a agremiação, a sociedade é desigual e injusta e seu samba aborda as diversas facetas dessa divisão.
Veja a letra:
Sou eu, o filho dessa pátria-mãe hostil
Herdeiro da senzala Brasil
Refém da maculada inquisição
Axé meu irmão!
O pai de mais um João e de mais um Miguel
Na mira da cega justiça que enxerga o negro como réu
Sou eu o clamor da favela
O canto da aldeia, a fome do gueto
Meu punho é luz de Mandela
No samba o levante do novo Soweto
Cacique Raoni da minha gente
Guerreiro gavião, presente!
Essa terra é de quem tem mais
Conquistada através da dor
As migalhas que você me oferece
Só aumentam minha força pra mostrar o meu valor
Meu lugar de fala, a voz destemida
Cabeça erguida por nossos direitos
Quando o fascismo do asfalto
É opressor à militância por respeito
O ventre das mazelas sociais
Ante ao preconceito vai se libertar
Vidas negras nos importam
O grito da mulher não vão calar
Meu gavião chegou o dia da revolução
Onde a democracia desse meu Brasil
Faça o amor cantar mais alto que o fuzil
Escute o meu clamor
Oh, pátria amada
É hora da luta sair do papel
Basta é o grito que embala o povo
Eu sou Gaviões, sou a voz da fiel