Irmãos Weintraub revelam saborosos segredos sobre Bolsonaro

Em pelo menos três ou quatro ocasiões, Bolsonaro falou sobre prisão para os irmãos Weintraub – Abraham, à época ministro da Educação, e Arthur, assessor especial da Presidência da República.

A primeira vez foi quando Abraham correu o risco de ser preso por ter chamado os ministros do Supremo Tribunal Federal de vagabundos e aconselhado Bolsonaro a mandar prendê-los.

“Se você for preso, meu governo acaba”, disse Bolsonaro a Abraham para justificar sua demissão. Premiou-o, em seguida, com o cargo de diretor do Banco Mundial em Washington.

As demais vezes em que Bolsonaro falou sobre prisão foi com Arthur, então secretário de segurança da Organização dos Estados Americanos, que tem sede em Washington.

Os dois irmãos são inseparáveis. Eles faziam palestras juntos antes de ir para o governo servir a Bolsonaro. Abraham saiu às pressas do Brasil para escapar à prisão. Arthur foi ao seu encontro.

“Se seu irmão voltar ao Brasil pode ser preso e ficar como Nelson Mandela”, disse Bolsonaro por telefone a Arthur em novembro do ano passado. E recusou a sugestão dele para falar com Abraham.

Bolsonaro lera nas redes sociais que os irmãos pretendiam voltar ao Brasil e se candidatar às eleições – Abraham, ao governo de São Paulo, Arthur, talvez ao Senado. E não gostou da ideia.

Seu candidato seria o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. E Bolsonaro não queria que nada o atrapalhasse. Em dezembro, perto do Natal, e depois perto do Ano-Novo, ligou novamente.

“Olha, se for por essa história de governador, vocês perdem isso que têm aí, em dólar. Vocês podem ficar aí por muitos anos, mas parem de falar”, advertiu Bolsonaro em conversas com Arthur.

Essas e outras histórias foram narradas pelos irmãos em uma live no canal “Resistência Conservadora 35”, ontem. Para decepção de Bolsonaro, eles abriram mão dos empregos e voltaram.

Antes de Abraham partir para Washington no fim de junho de 2020, ainda ministro da Educação, ele cogitou pedir asilo político às embaixadas de Israel e da Hungria. Mexeu-se para isso.

Ajudou-o na tarefa o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, que mais tarde seria demitido por pressão de líderes do Centrão, interessados no seu cargo. Araújo esteve na live.

Paulo Guedes, ministro da Economia, demoveu Abraham da ideia de exilar-se, oferecendo-lhe a vaga de diretor do Banco Mundial. Bolsonaro estava “envenenado pelo Centrão”, segundo Arthur.

No telefonema às vésperas do Ano-Novo, Bolsonaro debochou dos irmãos: “Ficaram magoadinhos, ficaram?”. Embora magoados, “por falta de opção melhor”, os dois admitem apoiá-lo.

Abraham: “Fiquei magoadinho? Fiquei. Se me pedir desculpas, perdoo o presidente. Com o poder, Bolsonaro foi mudando. Ficou deslumbrado. […] Presidente não é Jesus Cristo, nem Deus”.

Arthur: “A militância não vale nada para os generais que cercam o presidente; [na visão deles], só cria problemas”.

Abraham: “Os generais diziam para Bolsonaro que seu melhor adversário seria Lula. Uma vez, Bolsonaro respondeu: ‘Lula não é culpado por tudo isso que atribuem a ele’”.

Palavra final de Abraham, que ainda não desistiu de disputar o governo de São Paulo:

“Como um líder, [Bolsonaro] se perdeu. Ele não é mais o líder da direita, dos conservadores. Ele se perdeu”.

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