Ao menos 500 mulheres do povo Huni Kuin garantem parte da renda familiar para ajudar nas aldeias através de uma parceria que já dura 21 anos. A Associação das Produtoras de Artesanato das Mulheres Indígenas Kaxinawa de Tarauacá e Jordão (Apaminktaj) foi fundada em 2001 e criada especificamente para dar suporte e acolhimento a essas mulheres.
O povo Huni Kuin, de acordo com a dados da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), está alocado em diferentes aldeias nos municípios de Feijó, Tarauacá, Jordão, Marechal Thaumaturgo e Santa Rosa, no interior do Acre. São mais de 7 mil em todo o estado.
As indígenas produzem seus artesanatos em suas próprias comunidades e comercializam as peças em uma loja chamada “Bari da Amazônia”, que fica no Mercado Velho, no Centro de Rio Branco. Além de comercializarem os produtos no Acre, o artesanato é vendido para vários estados do Brasil como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e até para países como Portugal, Itália, Estados Unidos, Inglaterra e Peru.
A criadora e líder do grupo, Raimunda Mawapey Kaxinawá, conta que é mestiça e que já sentiu na pele o conflito cultural entre o povo branco e indígena. Ela diz que nos dias atuais ainda existe um pouco de conflito, mas que a situação já está mais amenizada.
“Antes a gente oferecia produtos na cidade e os comerciantes diziam que nosso produtos eram difíceis de vender. Agora, com a nossa loja, quem quer vem direto lá e compra os nosso artesanatos”, afirma.
Raimunda afirma que no Dia do Índio, comemorado nesta terça-feira (19), há muito o que se comemorar em relação ao crescimento e fortalecimento da cultura indígena, mas que ainda faltam políticas públicas para que o povo se sinta fortalecido.
Raimunda fala que a ideia da loja ocorreu assim que a associação foi criada para ajudar na venda dos artesanatos. No atual endereço a loja existe há 12 anos.
“Temos uma loja que fica no Centro da capital com a participação de várias mulheres associadas. Elas trabalham na base da miçanga, tecelagem, cestaria e cerâmica. Quando fundamos, eram pelos 500, mas, ativamente, participando das vendas na loja hoje, temos umas 150 mulheres que estão ativas na associação”, diz.
Raimunda fala ainda que o valor das peças é bem variado e que depende do gosto do cliente. “Temos preços de R$ 35 a R$ 2,5 mil. O artesanato de R$ 35 pode ser um brinco, por exemplo, e o de R$ 2,5 mil uma rede de algodão natural, um tapete bem trabalhado”.
Mãos que criam
O povo Kaxinawá ou Huni kuin que se denomina como (gente verdadeira), está localizado em terras das regiões dos Vales do Purus e Juruá. São considerados como um dos mais tradicionais e que mantêm a cultura, artesanato e língua nativa, que pertence à família linguística Pano. Os Huni Kuin também se destacam pela sua diversidade musical.
São 11 terras indígenas Kaninawá em todo o Acre. As indígenas usam matéria-prima que retiram da floresta para produzir seus artesanatos, como argila, sementes, algodão, folhas, frutas e raízes usadas para pigmentos naturais.
Considerado patrimônio cultural, o artesanato reflete um pouco da ancestralidade de etnias como os desenhos corporais indígenas (os chamados kenês) que têm significados e são pintados enquanto os indígenas cantam.
Mestiça
Raimunda conta que é mestiça, de mãe indígena e pai nordestino, e tem em sua história um leque de conflitos entre a cultura branca e a indígena. Ela conta que sua formação da indígena foi importante para ter seu espaço como líder por ser uma das únicas alfabetizada na época e também por falar o idioma português. “Foi necessário e essencial para que a gente conseguisse romper fronteiras”.
Ela afirma ainda que com sua formação conseguiu ajudar seu povo e participar dos primeiros editais de apoio governamentais, participar de capacitações no Sebrae e até representar o Brasil em Nova York na exposição Mulher Artesã Brasileira, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU).