Em ofensiva por recursos, Lula e Bolsonaro planejam pedir doações via Pix para campanha eleitoral

Pré-candidatos à Presidência preparam uma ofensiva para arrecadar recursos para turbinar a campanha, mesmo com o fundo eleitoral recorde de R$ 4,9 bilhões. O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, vai lançar em seu site, nos próximos dias, um anúncio convidando apoiadores a fazer doações à legenda por meio de Pix. O PT do ex-presidente Lula também aposta em uma campanha de doação on-line e na promoção de jantares para arrecadar recursos extras. O partido também fez uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se pode receber contribuições por Pix.

No PL, a ideia é que o próprio Bolsonaro entre em ação e atue como “garoto propaganda” para captar dinheiro. Paralelamente, pessoas próximas ao presidente têm organizado eventos para empresários, com a presença de Bolsonaro, em busca de doadores. Aliados do titular do Palácio do Planalto têm mirado em representantes do agronegócio. Parte dos recursos também deverá irrigar as campanhas de candidatos a governador, senador e deputados da sigla.

Embora hoje tenha a maior bancada na Câmara, com 77 deputados, o PL tem apenas a sétima maior fatia do fundo eleitoral, com R$ 283 milhões. O valor é considerado insuficiente por dirigentes da legenda para bancar todas as campanhas. Por isso, apostam nas doações de pessoas físicas. Com o provável apoio de PP e Republicanos, Bolsonaro deverá ter R$ 870 milhões à disposição para sua coligação.

Apesar de as campanhas não estarem oficialmente liberadas, o TSE permite que partidos já arrecadem e o dinheiro, a partir de agosto, seja utilizado para custear gastos dos candidatos como viagens, eventos e peças de propaganda.

Direto na conta

“Doe. Fortaleça a campanha do partido do capitão e dos pré-candidatos do PL”, diz o texto do anúncio que aparecerá em um “pop-up” no site do PL, com o QR Code para fazer o PIX.

A modalidade de arrecadação é um complemento ao uso de plataformas de crowndfunding diretamente para a campanha de Bolsonaro. As empresas de “vaquinhas virtuais” ficam com um percentual da arrecadação. Com o PIX, o dinheiro cai diretamente na conta do partido.

No último sábado, o titular do Planalto esteve presente em um almoço com cerca de 80 representantes do agronegócio em Brasília, como mostrou o jornal O Estado de S.Paulo.

Um dos participantes foi Valdinei Mauro de Souza, o Nei Garimpeiro. Ex-sócio do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, em empresas de extração de minério, ele já foi investigado por garimpo ilegal. Souza nega as acusações e também disse não ter contribuído com o caixa da campanha de Bolsonaro:

— A gente foi lá para tomar cachaça. Ninguém falou em dinheiro. O pessoal falou que, se precisar ajudar, nós ajudamos, mas ninguém deu (dinheiro).

Organizado pelo ex-senador Cidinho Santos a partir de um grupo de WhatsApp, o almoço ocorreu na casa do empresário Fernando Castro Marques, proprietário do laboratório União Química e pré-candidato do PP ao Senado pelo Distrito Federal. Oficialmente, o encontro foi organizado para homenagear a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, pré-candidata ao Senado pelo Mato Grosso do Sul.

— Está dentro da liberdade de cada um, e tem uma legislação em vigor que permite doações de pessoas físicas de até 10% (da renda do doador). Eu não doei nada. Agora, se alguém lá doou ou vai doar, cada um sabe da sua vida — disse Marques.

Durante a pandemia, o empresário tentou vender no país a vacina russa Sputnik, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não aceitou o registro do imunizante.

— O presidente não estava previsto ir e passou rápido por lá. Nem almoçou. Fez uma fala rápida basicamente sobre o que ele já fala, que trouxe paz ao campo diminuindo as invasões de terra etc —disse Cidinho Santos, segundo o qual não houve compromisso de doações durante o evento.

Há três anos, Santos foi condenado pela 8ª Vara Federal de Cuiabá a pagar multas por adquirir ambulâncias superfaturadas quando era prefeito de Nova Marilândia (MT). Ele, que nega as acusações, recorreu e o processo aguarda decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

Em 26 de março, outro churrasco em Brasília já havia atraído lideranças do agronegócio e da campanha de reeleição do presidente. Um dos empresários do agronegócio presentes foi Reinaldo Morais, dono da Suinobrás, uma das maiores produtoras de carne suína do país. Em certo momento do evento, Bolsonaro telefonou e sua voz foi amplificada por caixas de som. Ele agradeceu a presença dos participantes.

PT: R$ 400 mil por evento

 

O PT só espera a confirmação do TSE para lançar uma campanha de doações para a legenda por meio do Pix. Tradicionalmente, o partido recebia recursos por meio de cartão de crédito, mas o entendimento é que o Pix facilitará as contribuições. Em seguida, haverá uma outra campanha on-line com pedidos de contribuições para a pré-candidatura de Lula.

Em outra frente, serão promovidos jantares. Os primeiros devem acontecer no mês de julho em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. As datas ainda não foram definidas, nem os valores exatos dos convites e o número de participantes. Mas a expectativa é que sejam arrecadados até R$ 400 mil em cada um desses eventos.

O PT deve receber perto de R$ 500 milhões do fundo eleitoral. A aliança com o PSB e a federação com PCdoB e PV devem garantir cerca de R$ 878 milhões à coligação de Lula. A coordenação da pré-campanha petista espera a oficialização do teto de gastos pelo TSE para definir quanto pretende gastar na disputa presidencial.

Do lado de Ciro Gomes (PDT), o objetivo por enquanto é não gastar muito — por isso, o investimento focado na campanha via redes sociais, sobretudo lives e vídeos, que custam menos do que as megaproduções das propagandas televisivas.

De fundo eleitoral, o PDT deve ter direito a cerca de R$ 250 milhões, o que já virou motivo de disputa entre os parlamentares da bancada. Um dos maiores gastos do PDT com a campanha de Ciro tem sido o valor mensal pago ao marqueteiro João Santana, cerca de R$ 300 mil.

O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), estimou ao GLOBO um gasto de R$ 30 milhões com a campanha de Simone Tebet (MDB-MS). Ela tenta se firmar como nome da chamada terceira via, que tenta romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. Parte desses recursos deve vir da fatia a qual a sigla tem direito do fundo eleitoral, que deve ficar em torno de R$ 359 milhões neste ano.

Aliados de Tebet tentam convencer a maioria dos dirigentes do MDB de que candidatura dela é a estratégia mais eficaz para “renovar” a imagem do partido. A ideia é derrubar a pecha de legenda adesista e dominada por velhos caciques para a de uma legenda que tem uma mulher jovem como protagonista.

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