Escritor acreano distribui livros autorais para escolas de área rural em Rio Branco

Cinco escolas rio-branquenses foram contempladas pelo projeto “Historiografia Literária de Rio Branco” do escritor acreano, Valdeci Duarte. As escolas Mario Lobão, Mestre Irineu Serra, Raimundo Hermínio de Melo, Luiza de Lima Cadaxo e Sebastião Pedrosa de Carvalho receberam a caixa de livros que possui a marca do projeto personalizada pelo autor. As entregas ocorriam desde o dia 02 de junho e se encerraram na última quinta-feira, 16.

O autor organizou uma coletânea de livros, parte de autoria própria e os demais de autores acreanos que possuem produções com temáticas amazônicas. O projeto foi aprovado em 2021, via edital nº 02/2021 da Fundação Garibaldi Brasil/ Prefeitura Municipal de Rio Branco, com recursos do Fundo Municipal de Cultura.

Até o momento Valdeci Duarte soma mais de 600 livros doados no Acre para escolas públicas estaduais e municipais por meio de projetos literários que desenvolve desde 2015. O empenho maior se concentra na formação de novos leitores e escritores, tanto que Duarte desenvolveu projetos como o “Escritor na escola”, por exemplo, voltado às instituições públicas de ensino localizadas em áreas distantes do centro dos municípios do estado.

Empolgado com o trabalho desenvolvido, o autor possui boas expectativas quanto aos desdobramentos deste projeto. “Observei o interesse, a alegria e a disposição da comunidade escolar com a possibilidade de utilizar as obras no trabalho de incentivo à leitura para as crianças. Fiquei bem empolgado ao saber que os livros irão fortalecer os projetos de leitura das escolas visitadas”, conta Duarte.

Todas as escolas visitadas possuem projetos ou ações de incentivo à leitura inseridos nos planos de aula, o que torna “Historiografia Literária de Rio Branco” um aliado, além da própria biografia do autor também servir de inspiração. A professora Cheila Lima, gestora da escola Mario Lobão, foi professora de Valdeci Duarte na infância e vê nessas iniciativas elementos motivadores para as próximas gerações de sua escola que vencem desafios cotidianamente, como os de percorrer ramais que muitas vezes estão em difíceis condições de acesso para conseguirem estudar.

O Valdeci Duarte foi meu aluno em outra escola, tem uma origem de zona rural, passou por dificuldades e venceu por se tornar um escritor. Quando ele veio à escola deixar os livros para as crianças, eu pedi que fosse à sala de aula para que as crianças tivessem esse contato com o escritor. É fundamental que as crianças tenham esse contato com alguém que escreveu um livro, porque quando eles tem contato com o livro, eles veem lá o escritor daquela obra, até procuram a biografia, mas parece algo inacessível, algo bem distante. Então, na hora que nós levamos o escritor a sala de aula para que as crianças o conhecessem, eles ficaram admirados, curiosos para ler”, recorda a gestora.

Na escola Mestre Irineu Serra, localizada próximo a Área de Proteção Ambiental (APA) do Irineu Serra, a descoberta foi de que a gestora havia sido colega do autor durante o Ensino Fundamental. Fernanda Marques, gestora da escola foi quem recebeu a caixa livros e conduziu visitas às turmas. Enquanto ouvia os estudantes dizerem os sonhos de se tornarem médicos, policiais, professores ou cientistas, Valdeci Duarte explicava sobre os caminhos que percorreu para manter viva sua habilidade para a escrita que se fortalece a cada livro publicado.

Segundo a gestora a repercussão da presença de um escritor acreano na escola foi a melhor. “Eles amaram receber um escritor na escola, gostaram de ver e perceber que é uma pessoa da nossa realidade. Saber que é alguém que partiu de uma escola pública que eles conhecem (escola Elozira Thomé) fez com que eles ficassem ansiosos para que a gente tenha um segundo encontro, em que eles possam tirar dúvidas sobre as obras do autor”, conta Fernanda Marques.

Na escola Raimundo Hermínio de Melo, os professores estão ansiosos por parcerias, principalmente, porque os livros chegaram num momento em que a escola já desenvolve o projeto chamado “Mala de Leitura”. “As crianças tem a mala de leitura levam pra casa, leem os livros e depois trazem de volta, com o compromisso de contar para a turma o que compreendem da história que conheceram, oferecendo pistas que incentivem os demais a também fazerem leitura”, detalha a gestora Elizabeth Alves.

O autor e suas obras

A ideia de aliar experiência literária e a missão educativa das escolas especialmente, as de área rural, vem justamente da origem do autor. Valdeci Ricardo Duarte nasceu em área rural, próximo à cidade de Boca do Acre, no Amazonas, às margens do Rio Acre. As primeiras escritas afloraram ainda em idade escolar, foi à escola pela primeira vez aos 10 anos, estudou o Ensino Fundamental e Médio todo em escolas públicas na capital acreana e este foi o cenário inicial de suas produções. Em 2000, ao concluir o Ensino Médio, veio a primeira publicação, “Versos da Meia-noite”.

Suas composições literárias seguiram paralelas à graduação em Ciências Contábeis (concluída em 2006). Na sequência, participou de outra obra coletiva, a “Nova Literatura Acreana”, em 2008. Desde então, segue alternando entre livros de textos apenas autorais, co-autorias e coletâneas organizadas por ele, alcançando a marca de 20 títulos publicados.

Após passar em concurso público para o cargo de auditor de controle externo, no Tribunal de Contas do Estado e se estabilizar profissionalmente, Duarte decidiu dar vida aos seus projetos, embora nem sempre houvesse políticas públicas de apoio. Para uns foi possível custeio via leis de incentivo, já em outros os recursos tiveram que ser garantidos por ele mesmo. Colocando o “pé no caminho” atendeu a convites de visitar escolas em Santa Rosa do Purus (AC) e Jordão (AC), por exemplo, em um compromisso pessoal de conhecer o estado onde mora.

Para Monteiro Lobato, ‘um país se faz com homens e livros’, eu creio nisso, Creio tanto que proponho este projeto, ficando à disposição para realizar visitas periódicas, no decorrer do ano letivo de 2022, como contrapartida pessoal do autor em incentivar o conhecimento da sua historiografia, a leitura de suas obras e à produção textual para as crianças da capital do Acre”, explica Duarte.

Outras iniciativas

Valdeci Duarte também participa de circuitos da comunidade literária fora do estado do Acre. No último mês de maio, participou do “Encontro Sin Fronteras” de escritores e gestores culturais ocorrido na cidade de Guayaramerín (departamento de Beni – Bolívia). Além de representantes bolivianos, demais representantes de Brasil, Peru, Portugal e Colômbia também estiveram presentes para discutirem o tema: “La producción intelectual en las fronteras de la cuenca amazonica” (A produção intelectual nas fronteiras da bacia amazônica).

Próximos passos

A última escola municipal que recebeu a caixa da historiografia do escritor foi Sebastião Pedrosa de Carvalho, distante mais de 30km do centro de Rio Branco. Agora se totaliza o alcance de 300 crianças, nas cinco escolas. Para aproximar escritores do público, o próximo passo será a organização de encontros com estudantes após a entrega das caixas e assim oportunizar ampliação da cultura literária local.

Em virtude do decreto que suspendeu as aulas em instituições de ensino de Rio Branco, nas últimas duas escolas as entregas das caixas do projeto foram feitas apenas para os gestores sem a presença de estudantes. A programação de atividades futuras fica suspensa, no aguardo das novas orientações da gestão municipal.

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Foto: Valéria Santana

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