Pouca coisa mudou na vida de Glover Teixeira depois de conquistar o cinturão peso-meio-pesado do Ultimate. O campeão continua sendo o mesmo mineiro simples de Sobrália, que gosta da vida na roça e do churrasco com os amigos. Continua pegando fila no mercado em Danbury, sua casa nos EUA há 23 anos. O valor do título para ele, que defende o cinturão neste sábado em Singapura contra Jiri Prochazka, no UFC 275, é a estatura que alcançou. Glover se vê agora lado a lado com as lendas que sempre admirou e foram seus contemporâneos, mas que atingiram o auge antes dele.
– Foi especial por estar na elite. Hoje eu me considero como um Wanderlei Silva, como um Minotauro, como um Lyoto (Machida), um cara que conquistou o cinturão também, como José Aldo, eu me considero junto com esses caras – afirmou o campeão em entrevista exclusiva ao Combate em Singapura.
Apesar de se colocar na mesma prateleira de campeões do UFC e do Pride, a humildade ainda o impede de se chamar de “lenda”, mesmo que sua história de vida e o tamanho de seu feito – campeão aos 42 anos, o homem mais velho a conquistar um cinturão do Ultimate pela primeira vez – o assegurem esta condição.
– Vocês podem, né? Eu não, eu mesmo me chamar de lenda, vai ficar paia, né, cara? (risos) Mas eu não sou esse tipo de cara. Eu não sou esse cara, “Ah, eu sou a lenda”. Eu só me sinto, tipo assim, o Minotauro mesmo falou, “Cara, sua história é uma história de muita superação”. Poxa, ele falando, vindo do Minotauro, meu maior ídolo. Ele e o Chuck Liddell… Pra Sobrália, só de eu estar lutando no UFC já foi uma conquista muito grande. Eles mesmos falavam, “Glover, você já conquistou o impossível, cara, você saiu daqui”. Lá não tem academia até hoje, não tem nada.
Se hoje ainda não tem academia, imagina há 30 e poucos anos, quando Teixeira sonhava que era Bruce Lee e Jean-Claude Van Damme e não tinha onde praticar os golpes que vinha nas telas da TV. Ele improvisava tudo no quintal de casa.
– Eu quebrava as bananeiras tudo, e assistia os filmes do Van Damme e dava canelada lá porque parece que já estava em mim ser lutador. Eu não tinha nada naquela época que eu morava lá. Eu não tinha dinheiro para a passagem para ir a (Governador) Valadares, cara. Eu fui numa academia de musculação em Valadares um dia, academia pequena, mas eu fiquei encantado! Aquele leg press, nunca tinha visto um leg press. Falei, “vou ver como que eu faço isso aqui de cimento”, tentando olhar para ver como é que eu fazia alguns aparelhos, porque tinha que ser assim. A puxada de costas, eu fiz na barra, a gente fixou dois tocos numa barra, aí eu amarrei uma corda num cabo de enxada. Ficava puxando um balde de cimento para fazer a puxada de costas. E eu ficava fazendo com isso – lembra.
No sábado, Glover vai enfrentar um desafiante que também adota treinamentos naturais e não ortodoxos: Jiri Prochazka, um jovem de 29 anos que gosta de socar árvores e pedras. Tem dado certo: o tcheco tem 28 vitórias e apenas três derrotas e um empate no cartel, venceu suas últimas 12 lutas e tem 11 nocautes na carreira.
– O Jiri é um cara do striking e é imprevisível, entendeu? Tem que ficar com o olho muito esperto ali. O reflexo tem que estar em dia. É mais o imprevisível dele e com certeza é um cara que bate duro, mas eu tenho treinado com um dos melhores strikers do mundo do boxe quanto do kickboxing e estou sentindo muito bem.
A diferença de idade não assusta. Na verdade, Teixeira acha melhor assim: quer se testar contra os lutadores mais jovens, e sabe que são poucos que chegam aos 42 anos na mesma condição que ele.
– Se for da minha idade, eu vou lutar com uma mão só, né (risos)? Tem que lutar com os caras mais novos. Se vou lutar com os caras de 42, eu vou lutar com uma mão só. Se botar um Tito Ortiz da vida, que está querendo voltar, aí eu vou amarrar uma mão, p ***. Não, vamos fazer o seguinte, eu não vou fazer wrestling, não vou fazer o jiu-jitsu, vou bater você só com uma mão.
Para a primeira defesa de cinturão, Glover Teixeira promete entrar como se ainda não tivesse o título sob seu domínio. Ele quer mostrar ao público o mesmo lutador que emocionou o mundo ao se sagrar campeão no ano passado.
– Agora é só lucro. Não (tem isso) que eu consegui o cinturão e já realizei todos os meus sonhos. Não vou defender o cinturão, eu vou lutar com a mesma fome, como o mesmo caçador que eu era – prometeu o campeão.
O Combate transmite o “UFC 275” ao vivo e com exclusividade no próximo sábado a partir de 19h10 (horário de Brasília). O Combate.com transmite o “Aquecimento Combate” e as duas primeiras lutas a partir do mesmo horário, assim como o SporTV 3 e o YouTube do Combate. O site acompanha o evento em Tempo Real.
UFC 275
11 de junho de 2022, em Singapura
CARD PRINCIPAL (23h, horário de Brasília):
Peso-meio-pesado: Glover Teixeira x Jiri Prochazka
Peso-mosca: Valentina Shevchenko x Taila Santos
Peso-palha: Weili Zhang x Joanna Jedrzejczyk
Peso-mosca: Rogério Bontorin x Manel Kape
Peso-meio-médio: Jack della Maddalena x Ramazan Emeev
CARD PRELIMINAR (19h30, horário de Brasília):
Peso-médio: Brendan Allen x Jacob Malkoun
Peso-pena: Seung Woo Choi x Joshua Culibao
Peso-leve: Hayisaer Maheshate x Steve Garcia Jr.
Peso-meio-médio: Jake Matthews x André Fialho
Peso-galo: Kyung Ho Kang x Danaa Batgerel
Peso-palha: Na Liang x Silvana Juarez
Peso-galo: Ramona Pascual x Joselyne Edwards