Os números são surpreendentes. O médico anestesista Giovanni Quintella saiu de dois mil seguidores para 11 mil novos acompanhadores no Instagram. Tudo isso em menos de 24 horas após sua prisão, que ocorreu na madrugada da última segunda-feira (11).
O anestesista, que estuprou uma mulher grávida durante o trabalho de parto no Hospital da Mulher, no Rio de Janeiro, teve seu momento de ‘fama’ nas redes sociais. Fotos com mais de 15 mil curtidas, centenas de comentários – boa parte em tom de ameaça -, além de curiosos que passaram pelo perfil para fazer o levantamento dos cliques do médico.
Apesar do engajamento repentino, alguém que tinha acesso à rede social do profissional, na manhã da terça-feira (12), fechou o perfil e diminuiu a quantidade de seguidores que o suspeito ganhou entre a prisão e a exposição na mídia.
Mas, o que explica a quantidade chocante de novos seguidores que o anestesista ganhou após o crime?
Segundo Icaro Sukerman, especialista em Comunicação Digital, esse novo ‘exército’ de seguidores tem a ver com a questão do impacto social que gera nos internautas, isto é, as pessoas querem saber o final da história que repercutiu no país.
“Antigamente, antes do acesso à informação digital, todo mundo ficava condicionado a colher essas informações através do jornal televisivo, do jornal impresso, de revista, de pessoas próximas que tinham acesso. Hoje, com as redes sociais, com a internet, de um modo geral, você fica muito mais próximo da notícia, muito mais próximo de quem gerou a notícia, como no caso do anestesista, que também é estuprador. As pessoas seguem o perfil dele para poder ver o que vai acontecer, se ele será preso, se em algum momento ele vai soltar alguma nota na rede social, ou se vai ter alguém no perfil explicando o que aconteceu”, disse ao CORREIO.
O publicitário ainda reforça que, por mais que as pessoas sigam o perfil de alguém que gerou esse impacto na mídia, muitas vezes não é por questões de fanatismo, e sim, para ter uma lembrança de algo e tentar colher novas informações, mesmo que o perfil esteja paralisado, como é o caso do anestesista. Além disso, Icaro esclarece que é necessário que haja um freio na quantidade de conteúdo ao qual o internauta consome.
“O importante é que esse contato tão próximo não gere nenhuma perda da saúde mental dessa pessoa que segue. Porque, querendo ou não, por muitas vezes, a Justiça no Brasil não é rápida, então até ela ter um desfecho do caso, a pessoa pode está continuando movimentando a rede social e você vai está consumindo o conteúdo de alguém que não é benéfico. Porque se a pessoa é capaz de estuprar uma mulher grávida em uma sala de cirurgia, qualquer coisa te vier essa pessoa não vai ser positivo”.
A psicóloga Mariana Félix também compartilha do mesmo pensamento de Icaro. Para ela, no mundo da psicologia, não há uma explicação tão lógica quanto ao comportamento do ser humano, mas sim, uma nova debandada de pessoas imediatistas, que precisam acompanhar o máximo de informações em tempo real.
“Foi possível notar como esse número de seguidores aumentou em uma velocidade absurda após o caso vir à tona. Acredito que não haja uma explicação a qual justificaria esse aumento, se é por uma questão de identificação ou admiração com a situação ocorrida envolvendo o médico”, detalha.
Mariana também comenta que muitos internautas “tendem a buscar coisas que são semelhantes a gente. Há coisas que a gente se identifica, que olhamos e nos sentimos representados por aquilo. Por essa visão, eu diria que são pessoas que são semelhantes à ele [o anestesista], mas não dá para generalizar e dizer que é uma verdade absoluta”.
Por fim, o especialista ainda faz um alerta para aqueles internautas que pretendem continuar consumindo o assunto. “É mais fácil você ver as notícias nos meios de comunicação do que você está seguindo esse perfil, dando ibope, porque querendo ou não, é um número, uma métrica de vaidade. Essa crescente de números de seguidores sem necessidade para esse tipo de pessoa”, finaliza.
Entenda o caso
Funcionários do Hospital da Mulher Heloneida Studart , localizado na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, conseguiram gravar o momento exato em que Giovanni Quintella, médico anestesista de 31 anos, colocava o pênis na boca de uma paciente grávida e que estava em trabalho de parto cesárea durante a cirurgia que ocorreu no domingo (10).
Toda ação foi filmada pelo celular de um dos enfermeiros, que já desconfiava do comportamento do profissional dentro das salas de cirurgias. Por sorte, a equipe conseguiu trocar de sala e, assim, gravaram todo o crime, que durou cerca de 10 minutos.
Giovanni foi preso em flagrante na madrugada da última segunda-feira (11), enquanto estava no momento de descanso. Ele foi levado, no dia seguinte, para a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, onde pessoas com ensino superior ficam aprisionadas. A cela tem 36 metros quadrados, projetada para duas pessoas, mas o médico ficará sozinho.
Além do estupro com a mulher da filmagem, ele também é investigado por mais cinco possíveis crimes cometidos em outras unidades de saúde que Giovanni trabalhou.