Assassinato de Daniella Perez completa 30 anos; relembre o caso que chocou o país

Era noite de 28 de dezembro de 1992 quando a atriz Daniella Perez demorou a chegar em casa após o trabalho. Na época, ela fazia a jovem Yasmin em “De Corpo e Alma”, novela da faixa nobre da Globo escrita por sua mãe, Gloria Perez.

Quem notou a demora dela foi o marido, o também ator Raul Gazolla. Enquanto ele tentava descobrir onde Daniella estava, em outro ponto do Rio de Janeiro, no meio de um matagal da Barra da Tijuca (na então pouco adensada zona oeste da cidade), um corpo era encontrado.

Algumas ligações depois, a polícia confirmou que se tratava do corpo da atriz, então com 22 anos, que havia sido morta a punhaladas. O laudo cadavérico contabilizou entre 16 e 20 perfurações, a maioria na região do tórax e do pescoço.

Quando morreu, Daniella estava em alta. Aos poucos, ela vinha se tornando uma das queridinhas da novela e já era chamada por alguns de “namoradinha do Brasil” —reflexo da fase de sucesso e da admiração que vinha conquistando do público.

A jovem que brilhava na televisão, na verdade, tinha começado em outra arte: a dança. Fazia balé desde pequena e chegou a trabalhar na companhia da coreógrafa Carlota Portella, antes de aparecer na abertura da novela “Kananga do Japão”, da extinta Manchete (foi nos bastidores dessa produção que ela conheceu Gazolla).

Em 1990, ela ganhou o primeiro papel, como coadjuvante em “Barriga de Aluguel”, novela da mãe para a faixa das 18h da Globo. No ano seguinte, ela ganhou mais destaque em “O Dono do Mundo”, enredo de Gilberto Braga para o horário das 20h da emissora.

A carreira estava em ascensão quando “De Corpo e Alma” estreou no ano seguinte. Na trama, sua personagem, Yasmin, vivia um romance com Caio, interpretado por Fábio Assunção, mas tinha um envolvimento com Bira, motorista de ônibus vivido pelo iniciante Guilherme de Pádua.

Foi Pádua o responsável pelo desfecho trágico da vida da atriz. A polícia chegou até ele por causa de uma testemunha que teria visto o seu carro, com a chapa adulterada, na cena do crime. Sua então mulher, Paula Thomaz, que estava grávida, teria ajudado no crime.

A imprensa da época chegou a noticiar que havia sinais de que a atriz havia sido morta num sacrifício ritual de magia negra. Também começaram a circular boatos de que Daniella e Pádua viviam um caso extraconjugal, o que sempre foi negado pela família dela.

CRIME E CASTIGO

Em um dos julgamentos mais midiáticos do Brasil, Pádua e Thomaz, que se separaram logo depois do crime, começaram a apresentar versões diferentes. Ela negou que tivesse participado. Já ele, que havia assumido a culpa em depoimentos à polícia, passou a sustentar que a mulher, tomada de ciúmes, é que teria se atracado com Daniella no matagal.

A tese aceita pela Justiça, no entanto, é de que o crime ocorreu porque Pádua estava tendo seu papel na novela reduzido e tramou uma vingança por acreditar que a colega estava manipulando a mãe. Os ciúmes de Thomaz, que enxergava a atriz como uma ameaça a seu casamento, também teria confluído para a consumação do crime.

Nos meses seguintes ao assassinato, Gloria Perez mobilizou o público e recolheu mais de 1,3 milhão de assinaturas para incluir o homicídio qualificado na Lei dos Crimes Hediondos. A mudança, que trouxe penas mais longas e rígidas para esse tipo de crime, de fato foi incorporada à legislação, mas não valeu para o julgamento do assassinato de Daniella Perez.

Tanto Pádua quanto Thomaz foram condenados pelo tribunal do júri, com penas de menos de 20 anos de prisão. Ambos receberam liberdade condicional em 1999, após terem cumprido um terço da pena. Ela mudou de sobrenome e evita a imprensa desde então, enquanto ele virou pastor batista em Belo Horizonte e se casou com a maquiadora Juliana Lacerda em 2017.

Neste ano, em que a morte de Daniella completa 30 anos, a história da atriz voltou aos holofotes com o sucesso de crítica e público da série documental “Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez”, na HBO Max. Em outubro, foi lançado também o livro “Daniella Perez: Biografia, Crime e Justiça”, de Bernardo Braga Pasqualette, pela editora Record.

Ninguém estava preparado, porém, para um desfecho que ainda viria dias depois. No dia 6 de novembro, Guilherme de Pádua morreu aos 53 anos, em decorrência de um infarto. A data coincidiu com o aniversário de 27 anos da estreia de “Explode Coração”, primeira novela que Gloria Perez escreveu após a morte da filha.

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