Em entrevista exclusiva ao ContilNet, na manhã deste domingo (26/3), ainda no Aeroporto Internacional Plácido de Castro, em Rio Branco, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, falou sobre enchentes e ainda sobre política, além de abordar as razões pelas quais deixou o Acre para se radicar em São Paulo, estado pelo qual se elegeu deputada federal pelo Rede Sustentabilidade.
Nascida em Rio Branco, no Seringal Bagaço, zona rural da Capital, Marina Silva foi vereadora (de 1988 1990), deputada estadual de 1991 a 1994 e senadora da República de 1995 a 2011 (em dois mandatos), quando se licenciou para ser ministra do Meio Ambiente do primeiro e até metade do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao deixar o Governo, ela também deixou o PT, partido pelo qual fizera carreira política ao lado do sindicalista Chico Mendes, assassinado em 1988, e tentou chegar à presidência da República disputando o mandato por três eleições seguintes, de 2010 a 2018.
Em 2022, já morando em Santos, interior de São Paulo, onde vive a família de seu marido, Fábio Vaz de Lima, Marina Silva resolveu se candidatar a uma vaga na Câmara Federal e foi eleita com mais de 240 mil votos. Já eleita, reconstruiu suas pontes políticas com o então candidato Lula na disputa de segundo turno de seu terceiro mandato e se habilitou para voltar ao Ministério do Meio Ambiente, agora acrescido de cuidados com o clima.
De volta a Rio Branco pela segunda vez depois que foi eleita por São Paulo (o que pouca gente sabe é que ela esteve na Capital no período de Carnaval, onde pretendia descansar, e teve que voltar às pressas a São Paulo, no dia seguinte, por causa dos desastres no litoral paulista), ainda tratando de uma virose que a deixou acamada em Brasília, na semana passada, ela falou sobre mudanças climáticas e política.
Sobre o clima, Marina Silva alertou para a intensificação de eventos extremos devido às mudanças climáticas. “Temos mapeados 1.058 municípios brasileiros que sofrerão com mais frequência a incidência de grandes volumes de chuva ou estiagens severas. Vamos apresentar um projeto para que estas cidades possam estar permanentemente em situação de emergência para a ajuda do governo federal seja feita com rapidez”, declarou.
“Estamos todos de mãos dadas em prol do nosso povo que está precisando de socorro. O governo federal é um grande parceiro e tenho certeza que vamos conseguir passar por esse momento difícil e encontrar soluções para superarmos esta situação”, afirmou.
Sobre política, a ministra respondeu as seguintes perguntas:
Por qual razão a senhora transferiu seu título de eleitorado Acre para São Paulo? A senhora acha que não se elegeria deputada federal no Acre?
Marina Silva – O Acre me deu tudo o que uma pessoa precisa para trabalhar por seu país ou com o seu Estado. Me elegeu vereadora, depois deputada estadual e me deu dois mandatos de senadora. Durante esse período todo eu trabalhei muito pelo Acre desde os meus 17 anos de idade, quando conheci o Chico Mendes. Depois passei a trabalhar pelo país inteiro e pelo mundo. A causa que eu defendo, ela não tem um endereço. A causa que eu defendo, que se relaciona com a mudança do clima, que afeta a cidade de São Sebastião lá no litoral de São Paulo, Petrópolis no Rio de Janeiro, Recife em Pernambuco e aqui no meu querido Estado Acre é de todo o Brasil. É justo que o povo de São Paulo, que generosamente me deu um mandato (de deputada federal) inclusive para mostrar que esta não é uma causa de um Estado. É do nosso país.
A senhora voltaria ao Acre se fosse convidada a ser candidata a governadora? A senhora sonha em ser governadora do Acre?
Marina Silva – Eu sou uma pessoa que já tive muito do que Deus me deu. Estou com 65 anos e ministra do Meio Ambiente pela terceira vez e diante de um dos maiores desafios da agenda ambiental. Eu vou pedir a Deus é que me dê forças para que a gente alcance o desmatamento zero até 2030, como se comprometeu o presidente Lula. Eu não faço política já olhando no passo seguinte, no cálculo seguinte. Eu tive a chance de ser candidata (ao Governo do Acre) em 2006, mas eu defendi a candidatura do Binho (Binho Marques, eleito governador pelo PT para o período de 2006 a 2010), exatamente para poder continuar no Ministério. Eu quero é que a gente não pense como os que mal terminam uma eleição e já estão discutindo a próxima, falando de outra. A gente tem é que trabalhar pelo país e pelo Estado e não viver só de eleição.