Em discurso na tribuna do Senado na tarde desta terça-feira (11), o senador Márcio Bittar (AC) classificou como “ato autoritário” operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no norte do país, que, só em Acrelândia, a 120 quilômetros da capital Rio Branco, embargou mais de 220 áreas de fazendas de criação de gado. A ação, batizada como “Retomada”, atingiu propriedades nos municípios do sul do Amazonas, Pará, Acre e, até o momento, apreendeu 500 mil cabeças de gado. Os donos têm cinco dias para apresentar os documentos que comprovem a regularidade na supressão da floresta.
“Foi um ato autoritário, sim. 90% das serralherias do Acre estão fechadas. E por que isso acontece no Brasil? Porque um modelo, no Rio de Janeiro, andando a 200 quilômetros por hora, atropela e mata uma pessoa, está respondendo o crime em liberdade. Mas na Amazônia, não, porque é o ‘fraquinho’, chegam, lacram serralherias, embargam o gado e, depois que a pessoa já está ‘condenada’ por eles, é que vai ter que provar que é inocente”, indignou-se.
Márcio Bittar criticou ainda a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que recentemente disse que a causa do governo federal em relação ao setor é mais global. “Portanto, subentende-se que essa causa é mais importante do que a causa brasileira ou amazônica, muito menos a acriana. Eu queria saber se, quem tem essa visão global, tem coragem, agora, na China, de enfrentar ‘o gigante’”, questionou o senador, citando o fato de que o país do continente asiático é responsável por 33% da emissão de CO2 no planeta.
Ao fazer um quadro comparativo, Bittar lembrou que o Brasil é responsável por 1,29% de emissão de CO2; a União Europeia, formada por 27 países, por 7,33%. “A Alemanha, sozinha, emite mais CO2 do que o Brasil inteiro. Mas será que o governo tem coragem de impor o império da lei, de forma arrogante, autoritária? Tem coragem de enfrentar a China? Será que vai ter alguma proposta de sanção? Claro que não”, ressaltou.
Pobreza na Amazônia
Em relação à região da Amazônia, o parlamentar acriano afirmou ser urgente romper com a mentalidade sobre a região sob o risco de disseminar, ainda mais, a pobreza e miséria no norte do país. “Quero me colocar ao lado do senador Alan Rick, coordenador da nossa bancada federal, para que possamos nos unir. Ou a gente muda a mentalidade sobre a Amazônia ou vamos eternizar a miséria e pobreza da região”, pontuou.
Ao final do discurso, Márcio Bittar se solidarizou “aos homens de bem” atingidos pelos “embargos autoritários” do governo federal e elogiou a atuação do ex-ministro e ex-deputado federal Aldo Rebelo, autor do livro “O Quinto Movimento”, sobre a região. “Ele é um profundo conhecedor do Brasil e da Amazônia e diz que ela é dividida em três estados oficiais: o que tem legitimidade; o do narcotráfico; e o das organizações não governamentais. Hoje, metade dos jovens estão empregados nas facções criminosas. Isso é uma tragédia! Não fomos capazes, em 50 anos de discussão ambiental, de dar oportunidade para milhares de jovens que vivem na região tida como a mais rica do mundo, mas vivendo em miséria”, lamentou.