Objeto de disputas entre grupos políticos antagônicos, os que governam o Estado e o país e seus opositores, a BR-364, principal via de acesso terrestre da capital do Acre à segunda região mais populosa do Estado, o Vale do Juruá, está ameaçada de fechar de vez nos próximos dias. Esburacada e abandonada pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre), órgão do Ministério dos Transportes a quem cabe a responsabilidade de cuidar das rodovias brasileiras, a trafegabilidade na estrada ficou ainda pior nos últimos dias graças a um atoleiro de grandes proporções entre os municípios de Tarauacá e Cruzeiro do Sul.
Trata-se de uma enorme cratera na qual até veículos pesados e maiores, como ônibus e caminhes, têm dificuldades para atravessá-la.
Na briga envolvendo grupos políticos de defesa e de oposição ao governo, foi divulgado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após um mês de Governo ainda em fevereiro deste ano, havia liberado R$ 600 milhões para as obras de recuperação da rodovia. Após uma autêntica briga nos meios de comunicação entre os dois grupos políticos antagônicos com cada qual reivindicando para si a “paternidade” da anunciada liberação dos recursos pelo governo federal, o fato é que, praticamente três meses após o anúncio dos R$ 600 milhões, nenhum centavo chegou ao Acre e a situação da rodovia continua de mal a pior.
“Isso é um pouca vergonha desses grupos políticos”, disse, de forma generalizada, um comerciante da região do Juruá que, semanalmente, precisa vir a Rio Branco fazer compras e voltara Cruzeiro do Sul. Com a estrada em péssimas condições de trafegabilidade, uma viagem que durava cerca de 10 horas, hoje está levando cerca de um dia. “Para quem tem negócios, perder um dia em viagem numa estrada de pouco mais de 700 quilômetros é certeza de prejuízos. Quando se está viajando, não se faz nenhum negócio. Quem é que paga o prejuízo da gente?”, indaga, inocente, o comerciante de Cruzeiro do Sul.
A ameaça de isolamento da segunda região mais populosa do Acre aumentou nas últimas horas porque o espaço aéreo na região também estava fechado. Aviões, como da empresa Gol Linhas Aéreas, que voa para o Juruá, não estão conseguindo pousar ou decolar do aeroporto de Cruzeiro do Sul. O último que saiu de Rio Branco e tentou pousar por volta de uma hora da manhã da última terça-feira (25), em Cruzeiro do Sul, não conseguiu por causa da neblina. O comandante teve que arremeter o avião retornar para a capital. Na noite anterior, a aeronave, com o mesmo destino, nem decolou de Rio Branco por causa da névoa na cidade vizinha.
Com problemas também na via área, a pressão de moradores de Cruzeiro do Sul, e de toda a região que precisam se deslocar a Rio Branco e vice-versa, sobre o DNIT, vem aumentando nos últimos dias. Os dirigentes do órgão no Estado, no entanto, vêm dando calado como resposta, embora políticos tenham divulgado que uma operação de urgência deve ser realizada ainda hoje por uma equipe do órgão a fim manter o tráfego de veículos na rodovia. “É uma vergonha que, em pleno século XXI, cidades inteiras ainda vivam isoladas por falta de trafegabilidade numa rodovia federal”, reafirma aquele comerciante de Cruzeiro do Sul que pediu para não ter o nome divulgado.
Veja o vídeo de trechos da BR-364: