Endurecimento nas fronteiras do Chile e Peru podem resultar em nova crise imigratória no Acre, diz BBC

Acre é porta de entrada da tríplice fronteiriça do Brasil com o Peru e a Bolívia. Números de entrada de imigrantes venezuelanos dispararam em 2022

A BBC News, versão do jornal do Reino Unido no Brasil, publicou nesta quarta-feira (27), uma reportagem especial que relata a apreensão do governo brasileiro com a fronteira do Acre.

Segundo o jornal, o Brasil estaria preocupado com uma nova crise imigratória no estado, principalmente por conta do endurecimento da política de imigração do Chile e do Peru.

A BBC lembra que em 2022, o Acre viu os números de imigração de venezuelanos dispararem. Foram 3.375 que cruzaram a fronteira do estado com o Peru, pela cidade Iñapari. Em comparação com o ano anterior, houve um aumento expressivo: 2021, foram 1.862 e em 2020, 572 venezuelanos chegaram ao Acre.

Assis Brasil (AC), 17/02/2021 – Crise Migratória no Acre / Imigrantes ocupando a Ponte da Integração e nos abrigos da prefeitura da cidade

Porém, com decisões mais duras tomadas pelos governos vizinhos, o Acre pode se deparar com mais imigrantes cruzando as pontes na tríplice fronteira. A reportagem cita principalmente a militarização das fronteiras do Chile e do Peru como principal causa.

“O número crescente de imigrantes já sobrecarrega abrigos, segundo as autoridades locais, e desperta temores de uma nova “crise migratória”, como visto no Estado em 2013 e 2021”, diz trecho da matéria.

A maior preocupação é um decreto do governo Peruano que pretende expulsar estrangeiros imigrantes sem documentos. O decreto já deve entrar em vigor no dia 28 de outubro.

Casas de apoio

O Acre tem três casas de apoio que recebem os imigrantes que cruzam a fronteira. Uma fica em Assis Brasil, na fronteira com o Peru, outra em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia, e outra em Rio Branco, na capital. Todas estão lotadas. Os locais são apenas para passagem, ou seja, servem para que os imigrantes possam tomar banho, comer e dormir e depois seguir viagem.

Porém, boa parte dos imigrantes acabam ficando mais tempo no local, ocasionando o superlotamento das casas.

“O Acre não tem condições hoje de acolher 200 pessoas, se chegarem ao mesmo tempo”, disse Aurinete Brasil, assessora técnica regional da organização humanitária Cáritas no Acre, à BBC.

“Infelizmente, as nossas fronteiras, nosso Estado, não tem uma política adequada, uma política de acolhimento, integração, proteção ao migrante e refugiado. Assim como a maioria dos Estados”, acrescenta. “O Brasil abre os braços, mas não abraça.”

“Se ele [o imigrante] não tiver dinheiro para pagar uma noite no hotel, ele acaba nas ruas, vulnerável a todo e qualquer tipo de violência”, completou.

Governo Lula 

O governo do Estado do Acre montou um gabinete de crise para acompanhar e monitorar a situação das fronteiras no Acre. Em julho deste ano, o estado recebeu um visita de equipes do governo federal que ficou ciente da possível crise imigratória.

“A missão do governo federal realizou visitas técnicas a autoridades locais para tratar da situação migratória em municípios do Acre. Visitou casas de passagem, com o intuito de conhecer a realidade local e definir estratégias de apoio ao Estado e aos municípios, por meio de um esforço interministerial”, lembrou o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

Dino discorda

Em visita ao Acre em maio deste ano, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse na época que não havia “uma crise imigratória” no estado.

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, no Acre. Foto: Juan Diaz/ContilNet

Dino participava de um seminário que debateu ações para o enfrentamento aos crimes na tríplice fronteira do Brasil com a Bolívia e Peru. O convite foi feito pelo senador Sérgio Petecão, presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado Federal.

“No atual momento, há uma situação de emergência imigratória no Acre? Não! Poderá vir a ter? Esperamos que não. Se vier, o Governo Federal estará aqui presente para auxiliar os municípios”, explicou o ministro.

PUBLICIDADE