Seca no Acre: biólogos falam sobre riscos à fauna aquática em meio à estiagem severa no estado

Dados do Ibama revelam que o número de peixes mortos na Amazônia aumentou 50% em 2023

As secas dos rios acreanos, em virtude da estiagem severa que o estado vem enfrentando tem causado preocupação nas autoridades e em toda a população. Os impactos das secas vão além da falta de água, prejudicam a agricultura, agrava riscos de incêndios, e ainda representam um grande risco para a fauna aquática.

Peixes encontrados mortos no rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo/Reprodução

Na última semana, mais de 100 botos morreram devido à alta temperatura na região de Tefé, no Médio Solimões, estado do Amazonas. No Acre, ganhou repercussão na mídia local, um vídeo no qual um morador de uma comunidade próxima ao Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, registrou vários peixes mortos. O Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac), que investiga o caso, em avaliação preliminar, apontou o calor intenso do verão amazônico como uma das causas que contribuiu para a morte dos peixes.

Em meio à seca que atinge a Amazônia, mais de 130 botos foram encontrados mortos no Lago Tefé – Foto: André Zumak

O ContilNet conversou com o biólogo e assistente de projetos da SOS Amazônia, Luiz Henrique Borges, e com a bióloga e mestranda em Ciência Animal, Ester Costa, sobre o tema, que explicou os eventos de seca no Acre estão cada vez mais frequentes.

“A fauna aquática vem sofrendo eventos extremos de secas, representando um alerta a pesquisadores e à população do estado do Acre. Esses eventos estão cada vez mais frequentes, em razão das mudanças climáticas. Sabemos que estamos passando por um El Niño ativo. Após três anos de La Niña, deslocando a camada de água quente para o oeste, mostra o quanto nossa biodiversidade vai ser impactada com toda essa mudança”, enfatizou.

Luiz Henrique Borges explica que as secas, aliadas as altas temperaturas apresentam grande risco para a vida aquática. “As altas temperaturas associadas às secas agravam ainda mais o problema. À medida que a temperatura da água aumenta, a capacidade de reter oxigênio dissolvido diminui, criando condições extremamente difíceis para a fauna aquática. Os animais lutam para respirar e muitos perecem devido à falta de oxigênio.

Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), revelam que o número de peixes mortos na Amazônia aumentou 50% em 2023, com relação ao ano passado.

SAIBA MAIS: VÍDEO: pescador registra vários peixes mortos em rio Acre; “Nunca tinha visto”

A bióloga Ester Costa, relata que no Rio Acre, já há casos de animais aquáticos em risco. “Temos como exemplo os relatos de servidores do ICMBio no Rio Acre, onde vimos em diversos meios de comunicação eles tendo que ajudar a desencalhar peixes que iriam morrer se continuassem submetidos a estes transtornos climáticos”, conta.

Nesta semana, o ativista indígena e sertanista aposentado da Fundação dos Povos Indígenas, que atuou por mais de 40 anos no Acre, José Carlos Meireles, gravou um vídeo em que fala sobre a preocupação com relação ao nível do Rio Tarauacá e as possíveis consequências das secas. Carlos alerta para a morte de peixes, relacionadas a alta temperatura das águas e também para relatos de desidratação e infecção intestinal de indígenas que vivem em todo do rio e de seus afluentes.

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O biólogo da SOS Amazônia, destaca a importância de estarmos alertas para a fragilidade do ecossistema aquático. “Essa não é a primeira vez que a Amazônia enfrenta secas extremas. A história nos ensina que a natureza é resiliente, mas também nos alerta sobre a fragilidade dos ecossistemas aquáticos. O registro de secas passadas é uma lembrança de que devemos agir para proteger nossos rios, lagos e seus habitantes”, frisou.

Luiz Henrique finaliza solicitando a adoção de medidas que abrandem os impactos das mudanças climáticas na região. “A situação atual requer ação imediata. Proteger a fauna aquática da Amazônia é uma tarefa urgente que exige esforços coordenados, conservação dos recursos hídricos e medidas para mitigar os impactos das mudanças climáticas”, concluiu.

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